Existe vida pós-Soccer City?
Com o encerramento das oitavas de final, nesta terça-feira, Pretória, Bloemfontein e Rustenburg se juntam a Polokwane e Nelspruit no time das cidades onde a Copa do Mundo já acabou.
Em seus sites oficiais ou na imprensa local, as autoridades elogiam o sucesso do Mundial, a animação das torcidas, o espetáculo do futebol.
Mas praticamente não há resposta para a pergunta que agora todos se fazem: o que vai acontecer com os estádios?
A África do Sul construiu cinco novas arenas e reformou outras cinco para esta Copa do Mundo. Um estádio como o Mbombela, em Nelspruit - um dos mais originais, com suas colunas em forma de girafas e arquibancadas pintadas de zebra - saiu do chão por cerca de US$ 172 milhões.
Mas Nelspruit, que tem pouco mais de 350 mil habitantes e uma economia muito impulsionada pelo fato de ser a porta de entrada para o famoso Parque Nacional Krueger, não tem sequer um time na Premier Soccer League sul-africana.
Em Polokwane, o Peter Mokaba, com capacidade para 40 mil pessoas, foi erguido bem em frente a outra arena, já suficientemente requisitada pelos inúmeros fãs do rugby da região.
Uma profusão de estádios também parece ser um problema que a cidade de Durban terá de enfrentar, mesmo tendo, provavelmente, a mais impressionante de todas as arenas desta Copa, com sua fachada "transparente" e um arco por onde passa um teleférico. O Moses Mabhinda, no entanto, não impressionou o principal time de rugby local, o Natal Sharks, que se recusa a mudar de endereço.
Nem uma pesquisa no Google local pelas palavras "estádios" e "legado" traz uma explicação sobre o que realmente vai acontecer com esses espaços. A busca resulta, no entanto, em vários artigos e estudos de especialistas criticando o alto custo de se colocar as dez arenas funcionando em um dos países com maior índice de desigualdade social do mundo.
Ao ver desses analistas, a Cidade do Cabo, que é o destino mais procurado por turistas estrangeiros na África, tem ambições razoavelmente palpáveis para o seu Green Point. O estádio que hoje pode abrigar até 65 mil torcedores terá sua capacidade reduzida em cerca de 15 mil assentos, graças a uma nova técnica "modular" de arquitetura - aliás, a mesma aplicada no Estádio Olímpico sendo erguido em Londres para 2012.
Em entrevista à ̳ Brasil, o prefeito Dan Plato não escondeu seu desejo de tentar realizar uma Olimpíada na Cidade do Cabo, possivelmente já em 2020. O Green Point foi comprado pela mesma empresa que administra o Stade de France, em Paris, e deve receber shows e outros grandes eventos esportivos, nesta que é a segunda maior cidade da África do Sul e o principal destino de turistas estrangeiros em toda o continente. O mesmo tipo de uso deve ter o Soccer City, em Johanesburgo.
A polêmica em torno dos estádios também está pegando fogo no Brasil, após a decisão da Fifa e do Comitê Organizador da Copa 2014 de tirar o Morumbi do torneio. Críticos incluem o ex-jogador Sócrates, que disse à ̳ Brasil que sem uma política de inclusão e educação para o esporte, usando os estádios após o Mundial, algumas arenas ficarão "obsoletas".
A história, no entanto, prova que a maioria dos grandes eventos esportivos não aproveita bem posteriormente estas estruturas. Foi assim em Atenas, após os Jogos de 2004, no Japão e na Coreia do Sul, com a Copa 2002, e na Pequim pós-2008.
Um bom exemplo de gerenciamento foi dado pela Alemanha, que viu o número de torcedores de sua Bundesliga crescer por causa dos novos estádios.