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Arquivo para julho 2010

Muita obediência, pouca competitividade

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Daniel Gallas | 15:41, domingo, 25 julho 2010

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Felipe Massa fez uma excelente corrida. Na primeira curva, deixou Vettel e Alonso para trás e assumiu a liderança da corrida. Depois disso, só esteve atrás na corrida quando parou nos boxes.

Massa estava bem posicionado para ganhar sua primeira corrida desde o horrível acidente na Hungria no ano passado.

Isso só até Fernando Alonso começar a andar mais rápido. Caso Felipe continuasse brigando para manter a liderança, a primeira dobradinha da Ferrari estaria ameaçada, com a chance de o terceiro colocado, Sebastian Vettel, estragar a festa italiana.

Com jogo de equipe, Alonso poderia disparar na prova, e Massa - que estava de fato com o carro mais lento naquele momento - seguraria Vettel em terceiro, garantindo mais pontos à escuderia.

A 18 voltas do fim, a ordem da Ferrari para Massa pelo rádio veio cheia de eufemismos, para evitar que a equipe seja punida por ordenar explicitamente o jogo sujo. "Ok, Felipe, Alonso está mais rápido que você. Por favor, me confirme que você entendeu essa mensagem."

Massa respondeu deixando Alonso passar e ouviu pelo rádio: "Bom rapaz".

Por mais escancarada que tenha sido a ordem da equipe, a Ferrari poderá sempre alegar que simplesmente apresentou o problema a Massa, e que coube ao piloto tomar a decisão.

Fernando Alonso, que em outros tempos já se beneficiou de ordens de equipe e da condescendência de companheiros brasileiros de equipe, não precisa justificar muito sobre sua 23a vitória na carreira.

Já Felipe Massa pode falar poucas coisas em sua defesa. Tomou a decisão em prol da equipe e recebeu muitos elogios internos por isso, mas decepcionou a todos que torcem por ele.

Antes do GP da Alemanha, Massa estava apenas 31 pontos atrás de Alonso, com ainda nove corridas em aberto. É difícil acreditar que qualquer outro piloto se submetesse tão candidamente às ordens da equipe, em detrimento de uma chance de vencer a corrida.

O que se vê na F-1 é o oposto. A competitividade é tão grande e feroz que mesmo pilotos da mesma equipe fazem quase qualquer coisa para ganhar cada corrida. Na rival Red Bull, os companheiros Mark Webber e Sebastian Vettel chegaram a se chocar em plena corrida neste ano, na luta pelo primeiro lugar. Ninguém aceita perder na F-1, o que faz o esporte tão divertido.

Sem pestanejar, Massa abriu mão de suas ambições na tabela para ajudar um companheiro de equipe em um momento da temporada em que ambos ainda têm plenas condições de lutar pelos mesmos resultados. É difícil imaginar um grande campeão - como o próprio Fernando Alonso - fazendo o mesmo em uma situação semelhante.

A espantosa obediência de Massa revela o quão pouco competitivo o piloto se tornou nesta temporada.

Dois técnicos, dois destinos

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Ricardo Acampora | 15:54, quinta-feira, 15 julho 2010

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Ao ler o anúncio da AFA confirmando Diego Maradona no comando da seleção argentina até a Copa de 2014, fiquei pensando que lições o Dunga poderia tirar olhando para o rival.

Confesso que não encontrei uma resposta evidente. Afinal, se compararmos as trajetórias dos dois técnicos à frente das seleções de Brasil e Argentina, vamos encontrar paralelos marcantes.

Curiosamente, ambos defenderam o escrete nacional 91 vezes. E ambos foram indicados para dirigir a seleção de seus países tendo pouca (Maradona) ou nenhuma (Dunga) experiência como técnico.

Os dois tiveram uma relação com a torcida e imprensa marcada por altos e baixos, mas são extremamente respeitados por seus jogadores.

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Dunga assumiu o escrete brasileiro em 2006 e conquistou a Copa América, a Copa das Confederações e ainda classificou o Brasil em primeiro lugar nas Eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo.

Maradona só assumiu o comando da Argentina em 2008 e penou para classificar a blanco-celeste para a Copa da África. Terminou as Eliminatórias em 4º, último lugar com entrada direta na Copa, sem precisar da repescagem, que sobrou para o Uruguai.

Dunga foi vaiado intensamente, xingado de burro pela torcida e tratado com desconfiança por grande parte da imprensa esportiva, por teimar em colocar em campo um time excessivamente defensivo.

Durante a campanha irregular das Eliminatórias, Maradona também foi vaiado, principalmente depois da goleada de 6 a 1 imposta pela Bolívia e da derrota por 3 a 1 perante o Brasil, em Rosário, e viu sua relação com a imprensa argentina deteriorar-se.

Depois da classificação obtida no último jogo, Maradona ofendeu os jornalistas e acabou suspenso pela Fifa pelos palavrões ditos durante a entrevista coletiva.

Ao chegar na Copa, Dunga dividia as opiniões dos torcedores. Deixou para trás Ronaldinho, Adriano, Neymar e Ganso e fechou com o grupo que vinha utilizando.

O técnico fechou a porta da concentração, impediu o que chamou de acesso excessivo da imprensa e acabou comprando briga com a Rede Globo depois de xingar um jornalista da emissora. Mas Dunga conseguiu o apoio de 70% do povo brasileiro.

Maradona não levou Riquelme, Zannetti nem Cambiasso, mas, como Dunga, também conquistou o apoio da torcida.

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Depois da partida de estreia, Brasil e Argentina passaram a encantar o mundo pelo bom futebol que jogavam. A defesa do Brasil e o ataque da Argentina foram muito elogiados por jornalistas do mundo inteiro.

Mas as duas equipes acabaram sendo eliminadas da Copa, ambas por times europeus, ambas nas quartas-de-final.

Tanto Dunga como Maradona não tiveram nenhuma resposta tática à estratégia dos técnicos Joachim Loew, da Alemanha, e Bert van Marwijk, da Holanda.

Os dois decepcionaram como comandantes, pois não conseguiram sair da armadilha adversária. Na beira do campo, Maradona e Dunga se limitaram a ver seus times perderem os espaços e, sem esboçar reação, perderam a chance de vencer a Copa do Mundo.

De volta a seus países, os destinos de Dunga e Maradona seguiram caminhos distintos.

Enquanto o técnico brasileiro foi sumariamente demitido pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, numa ligação telefônica, a federação de futebol argentina anunciou que Maradona continua no comando da seleção até a Copa de 2014.

Dunga deve estar se perguntando o que fez de errado, afinal seu time não chegou a ser goleado como foi a Argentina na partida em que foi eliminada pela Alemanha.

Deve estar tentando entender o que fez assim de tão diferente de Maradona, que ficou sem merecer uma segunda chance no comando da seleção, enquanto Diego segue seu reinado, apoiado inclusive pela mesma imprensa que ofendeu.

Os dez personagens da Copa

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Daniel Gallas | 10:35, segunda-feira, 12 julho 2010

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Listo abaixo os dez personagens que fizeram a história da primeira Copa do Mundo africana. Eles estão listados do menos para o mais importante.

Desde já, é preciso fazer três ressalvas. Primeiro, já vou avisando que cometi uma trapaça. Em alguns itens, há mais de um personagem listado. Façam como o árbitro de Inglaterra x Alemanha fez com o gol de Lampard; desconsiderem.

O segundo aviso é que esta lista, como qualquer eleição do tipo, é completamente arbitrária. O terceiro é: sintam-se à vontade para fazer suas listas e opinar!

10. Anelka, Domenech e Evra. Conseguir ser banido para sempre de uma seleção é um feito raro. Está no topo da lista das piores coisas que podem acontecer a alguém em uma Copa do Mundo, logo acima de "ler uma carta de greve dos seus jogadores", como Domenech, ou "fazer seu preparador físico querer sair no tapa" (parabéns, Evra). E a França continua com o desempenho "montanha-russa" em Copas. Eliminação para Israel nas Eliminatórias em 1994, título e goleada em 1998, fiasco em 2002, final em 2006 e colapso total em 2010. Isso é sinal da revanche Brasil x França em 2014?

9. Sul-americanos. Quantas á completamente foram feitas sobre a Copa do Mundo da América do Sul, depois que Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai avançaram para as quartas de final? O fiasco sul-americano foi imenso. O Brasil perdeu completamente o equilíbrio diante da Holanda, o Paraguai "amarelou" diante da Espanha quando tinha o jogo nas mãos, a Argentina, bem, a Argentina dispensa comentários, e o Uruguai só foi longe porque contou com alguns golpes de sorte e de mão.

8. Maradona. Ele já foi o personagem de uma Copa por colocá-la no bolso, fazendo gols encantadores e um deles supostamente encantado. Ele já foi o personagem de uma Copa por berrar como um louco para a câmera e jogar dopado. Maradona desperta tanto interesse mundial, que basta usar terno na beira do campo para causar frisson. Na África do Sul chamou atenção por seu carinho paternal com os jogadores e a intensa vibração em todos os momentos. Teria causado ainda mais impacto se tivesse que cumprir sua promessa de andar pelado pelas ruas de Buenos Aires, mas felizmente para todos a Argentina não foi tri.

7. Felipe Melo. Há tão pouco a se falar sobre Felipe Melo, já que quase tudo foi dito, e com, ãhm, tanta eloquência. Antes da Copa, ele foi chamado de "o Dunga do Dunga", por jogar na mesma posição, pelo estilo guerreiro em campo e por alguns atributos menos louváveis. Infelizmente Felipe foi o Dunga de 1990, um misto de culpado e bode expiatório em uma seleção que estava longe da unanimidade. Agora, Felipe Melo terá quatro anos pela frente para tentar se tornar a versão 1994 de Dunga.

6. Tshabalala e Suárez. Respectivamente o herói e o vilão africano. Quando Tshabalala fez aquele golaço contra o México, o primeiro da Copa, parecia que qualquer time africano - inclusive a África do Sul, o mais fraco de todos - seria capaz de fazer bonito no torneio. Quando o uruguaio Suárez fez o "anti-gol" contra Gana, se percebeu o quanto daquilo era euforia passageira. Camarões, Costa do Marfim, África do Sul, Argélia e Nigéria foram facilmente eliminados na primeira fase e, não fosse Gana, a África teria feito muito feio no seu Mundial.

5. Roberto Rosetti e Jorge Larrionda. Os dois juízes conseguiram o que ninguém jamais atingiu: fazer a Fifa discutir o uso de tecnologia para auxiliar arbitragem. Por que a entidade nunca considerou isso com seriedade antes é um mistério para todos. Parece tão óbvio que é um erro deixar as decisões em campo serem tomadas pela única pessoa, entre 100 milhões de espectadores, que não consegue ver direito a partida. As valiosas contribuições de Rosetti, em Argentina x México, e Larrionda, em Alemanha x Inglaterra, podem provocar a maior mudança na história do futebol desde a introdução do impedimento.

4. Mick Jagger. Poucas coisas são 100% na vida. Uma delas é a garantia de mau desempenho das seleções diante do cantor-amuleto do Rolling Stones. Não há dúvida alguma de que se não fosse a presença maligna deste simpatizante do diabo em alguns estádios, Brasil e Inglaterra estariam na final da Copa, talvez com John Terry e Felipe Melo na disputa pelo troféu de Melhor Jogador.

3. O celular de Larissa Riquelme. Beldades são tão importante para uma Copa do Mundo quanto um galã para uma novela. Não há nada de errado em se querer ver pessoas bonitas em uma Copa. Quantas mulheres assistem apenas aos jogos da Itália? Difícil é alguma das beldades conseguir se destacar na Copa, com tantas modelos em evidência. A paraguaia Larissa Riquelme conseguiu chamar a atenção do mundo mesmo não viajando para a África do Sul, graças às fotos suas em Assunção que correram o mundo. Ela contou com bastante ajuda do seu celular, colocado em uma posição estratégica para onde os olhos já naturalmente correm.

2. Jabulani e Vuvuzela. A dupla dinâmica da Copa do Mundo. A primeira irritou todos os jogadores. A segunda; jogadores, torcedores e telespectadores. Para o bem do esporte, as duas devem ser aposentadas nos eventos futuros.

1. Paul, o Polvo. Poucas coisas, além de Mick Jagger, são 100% na vida, que o diga Paul, o polvo oráculo, que acertou todos vencedores em seus palpites. Paul foi mais eficiente que Messi, mais preciso que Kaká, mais confiável que Cristiano Ronaldo. Para nós, jornalistas esportivos, Paul é indigesto, a prova final de que até um cefalópode isolado em um aquário entende mais de futebol do que a gente.

Campeã teve ataque ruim e defesa boa

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Daniel Gallas | 23:57, domingo, 11 julho 2010

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Muito se louvou a habilidade dos jogadores da Espanha e seu potencial ofensivo. Mas no final das contas, os espanhóis ganharam a Copa graças à sua defesa, a terceira melhor da Copa, à frente apenas de Portugal e Suíça.

Na frente, os espanhóis foram decepcionantes. Se David Villa foi um dos artilheiros do Mundial, o atacante Fernando Torres foi uma decepção. Foram apenas oito gols marcados, em sete partidas, uma média que beira um gol por jogo.

De todas as semifinalistas, a Espanha teve o pior ataque. Até Brasil e Argentina, que jogaram duas partidas a menos, marcaram mais gols do que os espanhóis.

Nada disso tira o mérito dos espanhóis, que foram indiscutivelmente os melhores da Copa. Todos esses números só servem para mostrar que a Espanha nunca esteve perto de perder suas partidas decisivas. Também os poucos gols foram bem distribuídos ao longo das partidas. Só contra a Suíça, na estreia, que os espanhóis deixaram de marcar.

Quem esperava que a Espanha fosse consagrar o estilo do Barcelona nesta Copa do Mundo talvez tenha ficado um pouco decepcionado com o que viu. O Barcelona joga mais no estilo "ataque total", com chute atrás de chute e drible atrás de drible.

Como o Barcelona, a Espanha tinha muita facilidade de chegar ao ataque. Inclusive, foi a equipe que mais chegou ao ataque na Copa, um total de 107 vezes, muito mais do que a Alemanha, segunda colocada no quesito, com 91.

A Espanha também lidera outras estatísticas de ofensividade, como o número de chutes a gol (121 contra 102 de Uruguai e Alemanha) , número de passes (impressionantes 3.803 contra 2.865, da segunda colocada Alemanha) e percentual de passes certos (80%, contra 79% do Brasil).

Mas toda essa competência para chegar à frente e domínio dos jogos produziram apenas resultados apertados, com vitórias magras. A Espanha era a equipe do passe preciso e do toque lateral, mas com um jogo tedioso e sem grandes lances. Quase todas as partidas da Espanha nesta Copa podem ser rapidamente esquecidas após o Mundial.

A final talvez seja a única partida que se destaca, quando a Espanha mais fugiu das suas características comuns nesta Copa.

Contra a Holanda, os espanhóis estavam mais ansiosos para ganhar o jogo, e arriscaram mais lançamentos longos, chutes a gol e bolas atrás da linha da defesa holandesa. Seus jogadores não se intimidaram com a violência da Holanda e buscaram o gol todo o tempo, nunca se contentando com o empate.

A Espanha também deixou o adversário jogar, proporcionando oportunidades incríveis à Holanda, que poderia ter saído de campo com a vitória. Mesmo sem gols no tempo normal, a final teve seus bons momentos.

Opiniões à parte, a Espanha conquistou a sua primeira Copa, que serve um pouco de reparação pela grande contribuição dos espanhóis ao futebol mundial. E o time tem uma base razoavelmente jovem, com condições de defender seu título daqui a quatro anos, no Brasil.

A chata eficiência de Holanda e Espanha

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Daniel Gallas | 22:18, quarta-feira, 7 julho 2010

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A Espanha jogou sua melhor partida contra a Alemanha, ainda assim é impressionante como o futebol praticado pelos espanhóis consegue ser eficiente e... chato.

No jogo contra os alemães, os espanhóis tiveram quase 60% de bola no primeiro tempo. Quase toda essa posse de bola é na intermediária alemã, o que em princípio sugere perigo de gol. Mas a verdade é que houve poucas oportunidades ao longo do jogo.

Mesmo beirando a entrada da área alemã, os espanhóis só rolavam a bola entre si lateralmente. Assim que perdiam a bola, tratavam de recuperá-la ainda no campo defensivo do adversário e novamente se colocavam a trocar passes laterais.

No segundo tempo, a Espanha arriscou mais, com alguns chutes de fora da área e alguns lançamentos longos, mas nada parecia superar o bloqueio alemão. Eventualmente a partida precisou ser resolvida em uma bola parada, na cobrança de escanteio para Puyol.

A Alemanha jogou muito menos do que costuma. É verdade que a equipe precisou muito do seu contra-ataque letal para golear Argentina e Inglaterra, mas ainda assim nas outras partidas, os alemães se mostraram maior oposição ao domínio de bola rival. O tão elogiado Schweinsteiger, que funcionou como cérebro nas boas vitórias alemãs, teve papel limitadíssimo de volante de contenção na semifinal desta terça, basicamente assoberbado com as avançadas de Xavi, Iniesta e Pedro.

Naturalmente quando a Alemanha sofreu o gol, a Espanha passou a ter mais chances de matar a partida. Uma delas foi inacreditavelmente desperdiçada por Pedro, que, tirando o lance, fez ótima partida e ajudou a Espanha a manter ainda mais o toque de bola na frente.

Nesse ponto, Espanha e Holanda são muito parecidas. Ambas as seleções gostam de tocar bastante a bola no ataque e são rápidas em recuperar a posse quando desarmadas. Em comum também é que esse tipo de jogo pode ser muito tedioso.

Holandeses e espanhóis prezam tanto a posse de bola que não gostam de perdê-la nem arriscando chutes a gol. As duas seleções concluem apenas quando suas chances são muito boas, e arriscam poucas jogadas criativas ou loucas.

É uma ótima tática e vem se provando vencedora, mas houve algum jogo realmente memorável das duas seleções nesta Copa até agora?


Grande vilão da Copa é derrotado

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Daniel Gallas | 22:33, terça-feira, 6 julho 2010

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O grande vilão da Copa do Mundo foi derrotado nesta terça-feira e fica fora da final do dia 11. Antes da Copa, poucos africanos sequer saberiam dizer onde fica o Uruguai. Três semanas depois, os africanos não querem nem ouvir falar o nome da nação sul-americana.

No começo da Copa, o pequeno país de 3 milhões de habitantes despertava pouco interesse. Era mais um dos 16 coadjuvantes que passariam duas semanas na África do Sul e voltariam para casa desapercebidos.

Na segunda rodada, o Uruguai conseguiu fazer algo que ninguém conseguiu: calou todas as vuvuzelas do país, na vitória por 3 a 0 sobre a África do Sul. Nos quase 30 dias de Copa do Mundo, aquela deve ter sido a noite mais quieta no país.

Para a sorte dos uruguaios, no entanto, a maior parte da raiva naquela partida foi canalizada no árbitro suíço Mássimo Busacca, que marcou um pênalti a favor do Uruguai, quando o atacante Suárez estava impedido no lance. Além disso, ele expulsou o goleiro sul-africano Khune.

O pênalti deu origem ao segundo gol uruguaio, que desestabilizou os sul-africanos e acabou praticamente eliminando os donos da casa da sua própria Copa do Mundo.

A eliminação de quase todos os africanos na primeira rodada fez com que todo o continente apoiasse Gana, na esperança de ver uma equipe do continente se dar bem no torneio. Engana-se quem pensa que só os africanos estavam torcendo por Gana.

Na medida em que outras seleções foram sendo eliminadas da Copa, a torcida de Gana foi ganhando apoiadores diversos - ingleses, franceses, italianos, etc.

Foi a vez de o Uruguai partir os corações africanos pela segunda vez, com o lance incrível de mão de Suárez e a já clássica sequência de cobranças de pênaltis. Desta vez, africanos e simpatizantes partiram com tudo que tinham contra os uruguaios - acusando-os de trapaça e falta de fair play.

Um jornal sul-africano chegou a cobrar em um editorial algumas mudanças "urgentes" da Fifa, dizendo que a Copa da África do Sul entraria para a história como o começo do fim do fair play.

O técnico uruguaio Oscar Tabárez precisou de muita paciência nas entrevistas coletivas desde então. E os jogadores precisaram se acostumar com o ódio de quase todos os torcedores da Copa. Desde sexta-feira passada, a equipe praticamente só contou com apoio da sua pequena torcida e de alguns argentinos, brasileiros e paraguaios que ainda não voltaram para casa.

Justiça seja feita, os uruguaios não fizeram nada de diferente do que qualquer outra seleção faria no seu lugar. Caberá agora aos torcedores do Uruguai preparar uma recepção calorosa para seus jogadores, que ainda não receberam o aplauso que merecem.

No sábado, dia 10, Uruguai disputa o terceiro lugar da Copa com o perdedor de Espanha x Alemanha. Com qualquer resultado, será a melhor colocação da Celeste Olímpica nos últimos 40 anos.

De Copa América à Eurocopa

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Ricardo Acampora | 10:44, segunda-feira, 5 julho 2010

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A tão badalada "supremacia" do futebol latino-americano na Copa do Mundo não durou muito.

Depois de conseguir pela primeira vez na história do Mundial classificar 6 equipes para a segunda fase do torneio, a região foi aos poucos vendo o número de participantes minguar.

Com a eliminação do Chile e México nas oitavas-de-final e as consequentes derrotas de Brasil, Argentina e Paraguai nas quartas, sobrou para o Uruguai a defesa isolada do continente sul-americano.

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Nas semi-finais, três equipes europeias espremem os uruguaios. Com a Alemanha enfentrando a Espanha, o futebol europeu garante pelo menos um representante na finalíssima do dia 11, que vai enfrentar o vencedor de Holanda x Uruguai.

Os resultados colocaram por terra as á apressadas que tentavam explicar a suposta supremacia sobre os europeus.

Teorias diziam que o número recorde de latino-americanos na segunda fase era um reflexo do bom momento econômico por que passa a região, enquanto países como Espanha, Itália, Portugal e Grécia estavam afundados em dívidas e crises.

Outros atribuíam o sucesso no futebol à consolidação da democracia na América do Sul, com governos de centro-esquerda ocupando pelo voto o lugar que tinha sido usurpado por ditadores militares no passado.

Tudo muito bom, mas tudo muito falso.

O Brasil foi tri em 70 debaixo do governo Médici um dos mais violentos da história. A comissão técnica tinha vários militares e era dirigida por um brigadeiro.

A Argentina repetiu a fórmula militar em 78 e levou o primeiro título da sua história. A Itália sob o fascismo de Mussolini levou o caneco em 38 quando a Europa já estava em clima de guerra.

Na verdade, esses times venceram porque eram repletos de craques que fizeram a diferença, equipes formadas e dirigidas por técnicos estrategistas.

E foi aí que nosso time perdeu a Copa da África e que a Argentina dirigida por Maradona também capitulou nas quartas-de-final.

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A seleção brasileira foi superada no segundo tempo por uma estratégia eficaz do técnico holandês, Bert van Marwijk. Ele colou os zagueiros em Kaká, Luis Fabiano e Robinho anulando a criação e o poder de fogo da nossa seleção.

Cada jogador brasileiro tinha um ou mais holandês fungando no cangote. Marcação em cima, sem tempo para pensar.

Para complicar, a falha de Julio Cesar no primeiro gol holandês, o erro de marcação no segundo e o descontrole de Felipe Melo diante do crescimento do adversário, facilitaram a tarefa do time da Holanda.

Mas, tudo nasceu da mudança tática feita no intervalo. Nosso time continuou jogando do mesmo jeito e não tivemos resposta à altura. Voltamos para casa de cabeça baixa, derrotados e eliminados.

Usando tática semelhante, o técnico alemão Joachim Loew, exímio estrategista, cuidou primeiro de anular o excelente ataque argentino com uma marcação rigorosa. Messi fez a sua partida mais apagada da Copa. Tinha dificuldade de achar espaço em campo, exatamente o que sobrava para os atacantes alemães.

Sabendo que o setor direito da zaga era o grande ponto fraco do time de Maradona, Loew concentrou por ali as suas baterias.

Não foi por acaso que todos os 4 gols da goleada tiveram origem em jogadas feitas em cima do fraco Otamendi e do regular Demichelis - o zagueiro que falhou regularmente, cometendo pelo menos um grande erro em todas as partidas que disputou.

O Paraguai, a outra seleção sul-americana a enfrentar europeus, até que resisitu mais do que todos esperavam, mas no final acabou prevalecendo o melhor futebol dos espanhóis que souberam manter a bola nos pés.

O time do Uruguai, a seleção sul-americana classificada, foi o único a não enfrentar uma equipe europeia nas quartas.

Todas as 3 eliminações foram fruto exclusivo do futebol, bem jogado e principalmente bem pensado.

Afinal, é preciso mais do que coração, de uma economia bem sucedida e de estabilidade democrática para se conquistar uma Copa do Mundo.

É preciso bons jogadores, trabalho de equipe e ótimos estrategistas, aqueles que sabem ler o jogo e tirar proveito das fraquezas dos adversários.

Agora é oficial: acabou a Era Dunga

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Daniel Gallas | 21:41, domingo, 4 julho 2010

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O ritual é o mesmo de quatro anos atrás, quando Parreira foi demitido. O Brasil foi eliminado nas quartas de final e poucos dias depois o treinador perdeu o cargo. Até o final do mês, um novo nome deve ser anunciado.

Dunga chegou na manhã de domingo ao Brasil dizendo que conversaria em uma ou duas semanas com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, sobre o seu futuro, mas a entidade já havia decidido isso por ele. À tarde, a CBF anunciou em uma curta e seca nota - sem nenhum agradecimento ou qualquer comentário sobre o trabalho de Dunga - o fim da sua gestão como treinador. A nota sequer cita o nome do técnico.

"Encerrado o ciclo de trabalho que teve início em agosto de 2006, e que culminou com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo da África do Sul, a CBF comunica que está dispensada a comissão técnica da Seleção Brasileira. A nova comissão técnica será anunciada até o final deste mês de julho", afirma o comunicado oficial da entidade.

A demissão de Parreira, após o fracasso em 2006, pôs fim a um ciclo de vencedores da seleção brasileira - jogadores que estavam juntos há quase oito anos e que venceram quase tudo que disputaram, inclusive a Copa do Mundo. A saída de Ronaldo, Roberto Carlos e Cafu era quase natural. Mesmo se tivessem vencido aquela Copa, a era deles na seleção já parecia concluída, um pouco pela idade, e muito pela nova geração de brasileiros que começava a pedir passagem.

A demissão de Dunga parece encerrar um ciclo curtíssimo da seleção brasileira, de apenas quatro anos. É impossível prever o que vai acontecer daqui para frente no futebol brasileiro - quais dos atuais craques se confirmarão, quais outros surgirão, etc. Mas parece evidente que muitos do grupo de Dunga, mesmo tendo ainda idade para disputar outra Copa, não terão mais espaço na seleção.

A tarefa de Dunga à frente da seleção era renovar o time e mudar alguns hábitos nocivos do passado. Os hábitos foram mudados, mas a renovação teve vida curta, de apenas quatro anos. Tudo foi apostado na conquista da Copa do Mundo. Após o fracasso e a demissão do treinador, o time montado por Dunga não parece fazer muito sentido, já que apenas ele conseguia aglutinar ao seu redor aqueles jogadores.

Dunga fugiu tanto do consenso nacional de o que deveria ser a seleção brasileira, que deixou muito pouco para seu sucessor, que deve assumir o cargo nos próximos dias.

Pela frente, o Brasil terá uma preparação para Copa do Mundo como nunca se viu, por dois motivos.

Primeiro, porque não haverá Eliminatórias para se disputar. A seleção será testada apenas na Copa América na Argentina, no ano que vem, em amistosos e na Copa das Confederações de 2013. Um desafio extra para quem assume. Se a seleção de Dunga só foi testada de verdade uma vez neste ano - e fracassou, diante da Holanda - o que sobrará para a equipe de 2014, que terá pouquíssimos jogos importantes na preparação para a próxima Copa?

Segundo, a pressão por vencer será muito maior, por se jogar a Copa em casa.

A decisão sobre quem deve comandar esse processo na seleção brasileira parece uma das mais difíceis dos últimos anos para a CBF. Será que em um mês, conforme prometido, a entidade terá condições de achar a solução certa?

Mesmo se decidir por um técnico interino, a torcida brasileira tem todos os motivos para ficar preocupada. Afinal de contas, em 2006, Dunga também era considerado uma improvisação, até que se achasse o sucessor ideal. O resto da história, todos sabem.

Holandeses superam Brasil na bola e na cabeça

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Daniel Gallas | 21:06, sexta-feira, 2 julho 2010

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É fácil falar da derrota brasileira nesta Copa olhando apenas para os defeitos da seleção no segundo tempo - "apagão", falta desnecessária de Felipe Melo, nervosismo dos brasileiros, etc. Também em 2006 muito se falou dos problemas do time brasileiro, como a falta de comprometimento dos jogadores com a seleção e a meia de Roberto Carlos.

Mas às vezes, olhando demais para os defeitos da seleção, acaba-se cometendo a injustiça de não reconhecer que o Brasil perdeu para um time que, com muito mérito, jogou melhor. Em 2006, o Brasil teve seus defeitos, mas foi superado por uma boa equipe que acabou chegando à final do torneio.

Contra a Holanda, todos os defeitos do Brasil no segundo tempo não apagam o fato de que o time brasileiro foi inferior aos holandeses. Bert van Marwijk conseguiu mudar a atitude da sua equipe sem alterar nenhum jogador em campo.

Não acho que a Holanda seja superior no papel ao Brasil, mas em campo os holandeses conseguiram a difícil tarefa de, mesmo saindo atrás no placar, superar os brasileiros. Em especial, fiquei impressionado com a técnica dos jogadores holandeses e com a forma como conseguiram inverter a psicologia do jogo.

No primeiro tempo, os brasileiros jogaram tão bem que intimidaram os holandeses. Em seus bons momentos, a equipe brasileira impressiona, por sufocar o adversário e abrir pouquíssimos espaços atrás. E poucas oportunidades na frente são suficientes para o Brasil fazer gols.

Mas os holandeses souberam reverter toda essa situação. O gol quase acidental da Holanda desestruturou completamente os brasileiros. Talvez se o Brasil tivesse sofrido um gol nas mesmas circunstâncias de uma equipe de menos qualidade, como o Chile, os jogadores tivessem reagido de forma diferente. Foi assim contra os Estados Unidos na Copa das Confederações do ano passado, quando os brasileiros viraram após começarem perdendo por 2 a 0.

No entanto, desta vez, eles sabiam que estavam diante de uma seleção de muita qualidade e isso abalou o ânimo dos brasileiros, que passaram a acreditar que poderiam perder. Nesse momento, a qualidade técnica dos holandeses ajudou muito a colocar os brasileiros sob pressão.

Robben foi crucial na vitória holandesa, não com seus chutes fenomenais de fora da área ou com seus dribles rápidos, mas sim com seu bom domínio de bola, que forçava os brasileiros a pará-lo com faltas. Primeiro foi Michel Bastos, que teve de ser substituído para não acabar expulso. E depois por Felipe Melo, que já estava sob pressão pelo gol contra e acabou explodindo em irritação. Mais adiante, foi a vez de Robinho perder a cabeça e berrar com o holandês.

O segundo gol holandês foi a consolidação da superioridade holandesa no segundo tempo. Dali em diante, o Brasil se viu em uma situação pouco comum, de precisar virar uma partida diante de um adversário tão bom quanto ele. Nos últimos três anos, os jogadores de Dunga venceram tanto que esqueceram como era estar perdendo. Não houve um jogador brasileiro em campo - do capitão Lúcio ao líder Kaká, passando pelo experiente Gilberto Silva - que tenha conseguido manter a calma diante do placar negativo.

Nos minutos finais, a Holanda esteve mais perto do 3 a 1 do que o Brasil do empate. A equipe holandesa segue adiante no torneio. Não acredito que seja necessariamente a melhor de todas - há Argentina, Alemanha e Espanha na disputa - mas é sem dúvida tão boa quanto as demais, e, nesta sexta-feira, superior ao Brasil.

Sucesso sul-americano não é tão surpreendente

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Daniel Gallas | 14:45, quinta-feira, 1 julho 2010

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Por todo lugar que vou na África do Sul, assim que descobrem que sou brasileiro, me perguntam qual é o motivo do sucesso dos times sul-americanos. Para todos é um mistério. Como pode que dos oito times nas quartas-de-final, metade são do subcontinente, que para europeus e africanos passava por décadas de decadência?

Respondo sempre que para mim não é surpresa. Os clubes sul-americanos de fato ainda são fracos se comparados com o milionário futebol europeu, mas a qualidade dos jogadores nunca baixou ao longo dos anos.

Acho também que muitos europeus nunca perceberam que as equipes sul-americanas que foram à Copa nesta vez são melhores do que a de anos passados. Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai são as equipes mais tradicionais da região. Os clubes destes países costumam ser os mais "copeiros" da América do Sul. Além das cinco, eu colocaria ainda a Colômbia na lista de excelência da região.

Ao contrário de Bolívia, Equador e Peru, as classificadas de agora nunca precisaram de artifícios como a altitude para chegarem à Copa. Em 1994, a Bolívia, que ganhou tantas partidas em La Paz, foi eliminada e humilhada logo na primeira fase do torneio.

As cinco equipes sul-americanas que foram à Copa desta vez classificaram-se por terem bons times. É quase natural que com um mínimo de qualidade sejam tão competitivas quanto várias seleções europeias.

Se há alguma surpresa nessa Copa, talvez seja o fraco desempenho das seleções europeias, que parecem não conseguir jogar bem longe do seu continente.

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