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Digo-te não!

Bruno Garcez | 17:48, segunda-feira, 31 agosto 2009

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Nem mesmo o temível Galactus, o devorador de mundos, teria sido capaz de feito tão audacioso e maligno.

A Disney acaba de adquirir todo o acervo da editora Marvel Comics por US$ 4 bilhões.

Uma bagatela, repito, uma bagatela, um custo com o qual até o Tio Patinhas estaria disposto a arcar, visto que o catálogo da Marvel é inestimável.

Mas não é só inestimável. É também invendável. Mas em tempos de grandes negócios e fusões, eis que ocorre uma transação digna de Wilson Fisk, o Rei do Crime.

Ninguém pode negar tudo que de bom a Disney já deu ao mundo, desde clássicos como Fantasia até pérolas modernas como Wall-E.

Mas quando se trata de mexer com o catálogo que reúne do Capitão América aos X-Men, do Homem de Ferro ao Surfista Prateado, só resta ao fã ardoroso repetir o bordão do Coisa, do Quarteto Fantástico: ''É hora do pau!".

filmespiderman.jpgE a julgar por algumas ''bombas'' que a Disney soltou nos últimos anos, como Neve pra Cachorro e Mansão Mal-Assombrada, o catálogo da Marvel precisará de uma estrutura digna dos ossos de adamantium do Wolverine para não ser ameaçado.

A empresa fundada por Walt Disney está de olho no potencial que os personagens da Marvel vem tendo e seguirão tendo nas telas de cinema, com êxitos como Homem de Ferro e Incrível Hulk.

Mas a editora que primou pela ousadia corre sério risco de ter de incorrer em tramas que não fazem justiça a seu passado transgressor.

O Surfista Prateado não dará mais vazão às suas digressões filosóficas enquanto ronda pela Terra.

Pelo contrário, encontrará algum ''atalho'', um portal mágico ou coisa que o valha, para regressar a seu planeta natal e aos braços da amada Shala Bal.

Em vez de ''Hulk esmaga'', que dá mais do que conta do recado, talvez a criatura com a pele esverdeada por uma radiação de raios Gama adote um tom mais concilador e articulado, na linha de ''Caso os senhores não saiam de meu caminho, serei forçado a esmagá-los''.

Não para por aí. Tal qual o Vigia, que tudo vê, mas não pode intervir nos desígnios terrestres, consigo vislumbrar coisas ainda piores.

Com os personagens da Disney e da Marvel lado a lado, em breve poderão surgir parcerias bizarras e indigests, como a de um antigo gibi no qual o Super-Homem lutava contra Muhammad Ali em um outro planeta (!).

Em breve, Mickey Mouse poderá se tornar um estagiário no Clarim Diário e, consequentemente, o braço-direito de Peter Parker/Homem-Aranha.

hulk_green203.jpgO Pantera Negra - por sinal, o primeiro super-herói negro na história dos quadrinhos americanos, regressará a seu reino africano de Wakanda trazendo a seu lado um animalzinho doméstico...o Rei Leão.

Os X-Men passarão a fazer ''bicos'' atuando como os guarda-costas de Hannah Montana.

Diante de um quadro desses, só caberá fazer como Conan, o Bárbaro e praguejar: ''Cães cimérios!''

Mas não basta a indignação. Os fãs têm que relembrar o chamado às armas do Capitão América, para os heróis que ele liderava: "Avante, Vingadores!''.

É preciso espalhar protestos pelos mundos real e virtual - um blogueiro gaiato já disse que agora todos os personagens da Disney são mutantes.

Mas será que o professor Xavier aceitaria ter Huguinho, Zezinho e Luizinho sob seu comando?

Se todos os poderes da Terra e de Asgard não funcionarem, o fã fiel da Marvel tem de ao menos manter sua carbeça erguida e, a exemplo do poderoso Thor, exclamar:

"Digo-te não!''.

O fim da dinastia

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Bruno Garcez | 21:09, quinta-feira, 27 agosto 2009

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Quando eu era criança, recebi de presente de meus pais um livro intitulado Personalidades do Nosso Tempo, da editora Conhecer.

O livrinho trazia biografias de uma página de nomes da política, como Fidel Castro e Henry Kissinger, ou mesmo do esporte e da arte, como Pelé e Federico Fellini.

Mas havia uma honrosa exceção. Em vez do nome e sobrenome como na página de outros nomes famosos, esta trazia apenas um sobrenome: Os Kennedy.

A biografia começava, naturalmente, com a saga do patriarca, Joseph, o filho de irlandeses nascido em 1888 que se tornou um próspero homem de negócios e que, em sua vida política, chegou a flertar com o fascismo.

Mas depois se concentrava, como também seria de se esperar, nas trajetórias dos dois filhos mais ilustres, John e Robert, ambas encerradas de forma trágica.

''Os Kennedy'', como o livro bem escolheu em destacar, foram muito mais que John ou Robert.

Mas com a partida do filho mais novo do clã, Edward, se o mesmo livrinho fosse reimpresso hoje em dia, o nome da família mais famosa dos Estados Unidos de certo não ganharia mais o mesmo destaque.
kennedy226x170.jpg

O senador Edward Kennedy, conhecido por todos como Ted, viu na trajetória política mais do que seu destino natural. Era um legado, um fardo, deixado por seus irmãos.

O patriarca Joseph havia escolhido o filho mais velho, Joe. Um dia, pensou o velho, esse garoto vai ser presidente dos Estados Unidos. O sonho acabou abortado, quando Joe morreu na Segunda Guerra Mundial.

Em segundo na linha sucessória, estava John, que conseguiu cumprir o sonho da família, até que tudo terminasse de forma trágica, em Dallas, em 1963.

O aspirante ao cetro e a coroa era agora Robert, cujo destino também terminaria em tragédia, quase que idêntica à que acometeu o irmão.

A 'tocha' agora estava nas mãos do filho mais novo de Joseph. O jovem Edward era um Kennedy, logo a ele só cabia seguir a linha sucessória.

Mas as aspirações do senador Kennedy acabaram numa noite de 1969, quando o carro em que viajava perdeu o controle e caiu de uma ponte em Chappaquiddick, Massachusetts.

Junto com ele, estava uma ex-ativista de campanha de seu irmão, Robert, que morreu nos destroços.

Ele escapou ileso do acidente, mas sua carreira e suas aspirações presidenciais foram abaladas para sempre. Talvez não sem razão, visto que o senador só informou as autoridades do ocorrido na manhã seguinte, alegando ter estado sob profundo traumao.

Ele voltaria a tentar a presidência uma única vez. Em 1980, desafiando o presidente Jimmy Carter, de seu próprio partido.

Sem dúvida, a empreitada de Kennedy prejudicou ainda mais um líder já enfraquecido pelo declínio econômico e pela crise dos refens com o Irã.

Mas para ele, na ocasião, o mais importante era aproveitar aquela que poderia ser sua última chance de cumprir o destino natural...dos Kennedy.

Curiosamente, durante uma entrevista feita na época, o senador se enrolou todo, ao tentar responder uma pergunta simples. Por que ele queria ser presidente?

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Anos depois, sua sobrinha, Caroline, a filha de John, quis ser senadora pelo Estado de Nova York.

Mas sua queda, em definitivo, ocorreu durante uma entrevista ao New York Times, quando perguntaram...o que fazia dela a melhor candidata na disputa.

Sua resposta foi hesitante, confusa.

Por uma razão simples. Para um Kennedy, não havia uma razão para querer chegar lá. Era pura e simplesmente o caminho natural. O destino.

Mas agora que Ted Kennedy não está mais entre nós, o sobrenome mais famoso dos Estados Unidos perdeu quase que todo o brilho.

De certo, o sobreonome seguirá ainda abrindo muitas portas. Mas as portas da Casa Branca parecem ter se fechado de vez para os Kennedy.

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