Clima esquenta para 'inimigos do clima'
Faltam 90 dias para o inÃcio da conferência das Nações Unidas sobre mudança climática em Copenhague, na Dinamarca. As negociações preparatórias, até onde se sabe, estão empacadas. Os Estados Unidos de Barack Obama - a grande esperança de liderança - ainda não deram o esperado empurrão que faria o processo pegar no tranco.
Com tudo isso, há alguns sinais de que as negociações podem deslanchar nessa reta final. Curiosamente, esses indÃcios não vêm dos governos envolvidos nas negociações (com algumas raras exceções, como o Japão, que anunciou uma reviravolta na sua postura histórica), mas de empresas e sociedade civil.
No Brasil, grupos de empresas divulgaram cartas abertas não só cobrando uma posição mais arrojada do governo, como algumas assumindo compromissos (inventário de emissões, incentivos para cortes de emissões na cadeia produtiva e recomendações para investimentos mais 'verdes').
Aqui em Londres, na semana passada, empresas e personalidades britânicas (entre elas todo o primeiro escalão do governo) aderiram à campanha , idealizada pela cineasta Franny Armstrong, do documentário ativista The Age of stupid (que tem estreia mundial nos dias 27.
A ideia do 10:10 é reduzir 10% as próprias emissões até 2010 - isso, até o ano que vem! Entre as empresas que aderiram estão as gigantes de energia British Gas e EDF, a consultoria Logica, o clube de futebol Tottenham Hotspurs, entre mais de 450 outras.
Um parêntesis: que as mudanças climáticas assustam, ninguém duvida. Cientistas, como Rajendra Pachauri (foto), presidente do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), não se cansam de repetir que a mensagem da comunidade cientÃfica é clara: é preciso agir já.
Mas que ninguém duvide também que toda essa mobilização também tem um forte componente marketeiro. Basta você pensar na quantidade de anúncios que saÃram recentemente ressaltando credenciais 'verdes'.
Organizações ambientalistas em todo o mundo devem concentrar os seus esforços para aumentar essa pressão sobre os representantes que se reunirão em Copenhague, entre 7 e 18 de dezembro.
As dificuldades para um acordo são enormes, mas por outro lado, se o clima ficar tão hostil aos que forem vistos "inimigos do clima", será que governantes - pelo menos aqueles que dependem dos nossos votos - podem ser dar ao luxo de saÃrem de mãos abanando?