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As lições do IPCC

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Eric Camara | 15:19, sexta-feira, 26 março 2010

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A poeira do "Climategate" ainda nem bem tinha baixado, quando surgiram novas acusações sobre a falta de rigor científico do IPCC, o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas - as previsões supostamente erradas iam do desaparecimento de geleiras do Himalaia à "descoberta" de que a Amazônia é mais resistente ao aquecimento global, passando por mais de metade da Holanda debaixo d'água.

No meio da tempestade, nesta quinta-feira, a coordenação do IPCC anunciou a escolha dos 3 mil especialistas que serão responsáveis pela elaboração do 5º relatório do painel, que deve sair entre 2013 e 2015. É o início do processo que levará a um documento como o que foi publicado em 2007, com uma avaliação de toda a produção científica recente relevante à mudança climática.

Destes 3 mil especialistas, entre 600 e 700 serão convidados, provavelmente até o fim de maio, para coordenar os grupos temáticos e dar início aos exaustivos trabalhos de revisão.

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Espera-se que desta vez não aconteçam erros. Por outro lado, é bom não se esquecer de que sempre existirão grupos interessados - de tendências até opostas - em explorar as conclusões do IPCC.

O 4º relatório do IPCC, de 2007, com sua conclusão de que o aquecimento do planeta é "muito provavelmente" provocado pela atividade humana, virou bandeira de organizações ambientais durante anos.

Erros e acertos

Com as dúvidas levantadas pelo "Climategate" - os polêmicos emails entre cientistas do ramo hackeados da universidade britânica de East Anglia -, a maré começou a virar e os chamados "céticos" partiram para o ataque.

Entre as alegações, algumas se comprovaram erros genuínos como a afirmação de que a Holanda tem 55% do seu território abaixo do nível do mar, baseada em uma informação errada do próprio governo holandês e devidamente corrigida. Na realidade, 55% do país corre risco de inundações, mas apenas 26% está sob o nível do mar.

O desaparecimento de 80% das geleiras do Himalaia também se comprovou um erro, já que tinha sido baseada em uma entrevista com um cientista, e não em um trabalho publicado e revisado por outros cientistas.

No Brasil, chamou mais a atenção a recente alegação de que a previsão do IPCC de que até 40% da Floresta Amazônica poderia desaparecer por causa das mudanças climáticas. Uma reportagem levantou a acusação de que essa conclusão teria sido baseada em um levantamento não científico feito pela organização ambientalista WWF.

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De fato, os autores do IPCC não citaram a fonte correta, mas o tal documento do WWF era baseado em estudos do professor Daniel Nepstad, que confirmou as informações em estudos posteriores também. Ou seja, o IPCC não teria errado.

Que lições tirar dessa polêmica?

Primeiro, que existem falhas no processo de revisão do IPCC, que podem e devem ser corrigidas. Segundo, que qualquer processo deste porte esta sujeito a erro, mas eles precisam ser rapidamente admitidos e corrigidos, uma vez identificados.

Por este motivo, a ONU determinou uma revisão dos métodos usados no processo.

O chefe do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, também deve ter tirado as suas próprias conclusões disso tudo. Ele teve a cabeça pedida pelos ativistas do Greenpeace e resistiu a pressões fortes. O próprio diretor do programa de Meio Ambiente da ONU, Achim Steiner, afirmou que o IPCC atravessa "uma crise de credibilidade".

Crise que não deve passar despercebida pelos 3 mil cientistas convocados na quinta-feira. Para o resto de nós mortais, resta a esperança de que o trabalho do IPCC seja feito da forma mais crítica - cética no sentido literal da palavra - para que as decisões de nossos governantes possam ser baseadas em algo próximo da realidade do nosso planeta.

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