A Alemanha pós-nuclear
Participei na semana passada de um interessante encontro de dois dias sobre mudanças climáticas em Berlim, na Alemanha. Os assuntos foram vários e pretendo trazer pelo menos algumas reflexões para o Planeta & Clima.
Neste primeiro post, acho que vale comentar o atual clima na Alemanha pós-Fukushima dentro do tema energia.
Como sabemos, o acidente nuclear que se seguiu ao terremoto e ao tsunami de março, no Japão, levaram o governo alemão a decretar em junho o fim do uso da energia nuclear até 2022 - a chamada Energiewende (em português, poderia ser traduzido como virada energética).
Há dois anos, parecÃamos estar à s vésperas de uma nova era nuclear, tamanha era convicção que seus defensores mostravam em discursos sobre as opções para um futuro livre de dióxido de carbono. De fato, vários paÃses (entre eles a Grã-Bretanha e França) apresentaram novos investimentos no setor.
Hoje, na Alemanha, não se fala mais nisso e parece não haver qualquer remorso. O motivo para isso é simples: com 20% do seu mix energético de energias limpas e crescendo, poucos duvidam que será possÃvel substituir a os outros 20 e poucos por cento da energia nuclear por outras fontes.
PossÃvel, mas nem tão fácil assim. Em um mundo ideal, a opção seriam fontes renováveis. Se a produção não for suficiente, e para muitos não será, alguns apostam no gás natural para a transição - que não é totalmente limpo, mas é bem melhor que o carvão. Outros, no chamado CCS (sigla em inglês para captura e armazenamento de carbono), uma tecnologia que poderia "limpar" as usinas termelétricas de carvão.
O otimismo é tanto que, que ouvi o presidente da Agência de Meio Ambiente da Alemanha, Jochen Flasbarth, dizer que a preocupação maior do órgão que preside é com um objetivo ainda mais ambicioso: uma economia livre de carbono até 2100. A meta de 40% de redução de emissões até 2020 para ele já está "garantida".
O otimismo é compreensÃvel. Em meio à crise econômica mundial, com todas as dificuldades que um paÃs exportador como a Alemanha enfrenta, basta olhar para a tradicionalmente empobrecida costa norte do paÃs para entender.
Foi ali, no vácuo da indústria naval em dificuldades, que surgiu nos últimos anos boa parte dos mais de 300 mil empregos estimados atualmente no setor de energia renovável alemão. A região com histórico de décadas de desemprego crescente, de repente se tornou uma história de sucesso.
Atualmente, a Alemanha exporta painéis solares e turbinas de vento para o mundo todo. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento continuam acelerados, agora com o incentivo a mais apresentado pela Energiewende. Não é impossÃvel imaginar que dentro de poucos anos tecnologias economicamente viáveis de CCS estejam no mercado.
Seria, com 40 anos de atraso, a concretização do slogan "Atomkraft, nein danke", criado na Alemanha da década de 70, com uma vantagem adicional: emissões zero.