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Caso de saúde pública

Monica Vasconcelos | 2007-07-17, 12:43

Como filha de médico, sempre tive acesso a uma medicina cinco estrelas no Brasil.

Depois de 15 anos vivendo na Grã-Bretanha, ainda me choco com o nível baixo da medicina oferecida nos postos de saúde - seu primeiro ponto de parada quando você tem qualquer problema médico que não seja uma emergência - daqui.

Nessas clínicas, você é visto por um clínico geral, ou GP, sigla inglesa para General Practitioner. A escolha das clínicas é determinada pelo bairro onde você mora. Quem tem sorte de morar perto de um posto de saúde onde há bons médicos, recebe um atendimento melhor.

Claro que existe um componente social aí: a probabilidade de você ser visto por um GP melhor aumenta se você mora em bairros mais afluentes. (Isso é teoria minha, podem me contradizer se acharem que estou enganada).

Na minha experiência, o GP, em um país onde a medicina é pública (não sei por quanto tempo isso ainda vai durar), funciona como um filtro que impede que você vá ao especialista. A idéia é que ele atenda a quem realmente precise. Além disso, quando você vai ao especialista, o governo gasta mais. Então, na prática, o que eu tenho vivenciado é que o GP evita que eu veja um médico especializado mas por outro lado não resolve meu problema. Ele vai receitando um remédio aqui, outro ali, e só me indica ao especialista se a coisa está mesmo muito brava.

Claro que nesse processo quem sofre é o paciente. Digamos que eu tenha um probleminha de pele. Aquilo não oferece risco sério para a minha saúde, mas pode causar extremo desconforto. Provavelmente vou ficar meses sofrendo com aquilo, porque o GP não vai me mandar para o dermatologista até a coisa ficar intolerável.

Talvez existam aí outros fatores.

O nível da formação oferecida aos médicos caiu muito (aliás, não só na Grã-Bretanha). É possível que o clínico geral à antiga fosse capaz de diagnosticar e tratar coisas que os GPs de hoje, menos preparados, não conseguem. Além disso, o Sistema Nacional de Saúde britânico, o NHS, na sigla inglesa, está passando por uma crise terrível e os médicos estão desmotivados.

Enfim, contei toda essa história para chegar a um caso feliz.

Uma grande amiga passou por uma gravidez dificílima. Ela tem 42 anos e estava esperando gêmeos. Por causa da idade, ela acabou conseguindo passar na malha fina e foi vista por um especialista fera, que identificou um problema sério com os bebês.

Resultado, sem pagar nada mais do que as contribuições mensais que todo cidadão britânico faz para o sistema de saúde, minha amiga foi operada no quinto mês de gravidez. Os médicos operaram os gêmeos dentro da barriga dela. A técnica é bastante moderna, só existe há cinco anos.

Depois da cirurgia, ela foi acompanhada com ultrassons semanais.

No sétimo mês, foi feita uma cesariana. Havia 13 pessoas na equipe que fez a cirurgia. Agora, os gêmeos estão em uma encubadora. Vão ficar lá por pelo menos seis semanas.

Imagine o custo de um tratamento como esse. E quem está bancando tudo é o NHS. No Brasil, talvez só sendo rico, filho de médico (e olhe lá…) ou tendo um bom plano de saúde.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 08:03 PM em 18 jul 2007, Sam escreveu:

    Resta saber se pode-se ou não confiar no tino e na boa vontade dos GPs e acreditar que saberão identificar a hora certa de encaminhar um paciente para um super especialista. Porque se for pra haver médicos maravilhosos, mas inacessíveis, pouca coisa muda pra quem precisa do serviço.

  • 2. à 09:01 PM em 18 jul 2007, Paulo Cesar Lei escreveu:

    Sua amiga teve sorte. No Brasil, a menos que ela usasse um dos 3 hospitais decentes, todos em São Paulo, o final , certamente, não seria o mesmo. O sistema de saúde aqui se baseia numa " cesta básica " de procedimentos, que vem de quando o atual governador de São Paulo era Ministro da Saúde. Ela atende aos desejos das empresas de convênio médico. Existe uma série enorme de procedimentos que não são cobertos pelos convênios porque não constam da tabela de procedimentos da Asociação Médica Brasileira, que não é atualizada há 14 anos. Ela não é atualizada porque existe uma lei que obriga os convênios a cobrirem todos os procedimentos da tabela da AMB. EAssim, uma coisa leva à outra e o que sobra é bem básico, procedimentos que nem se usam mais, em hospitais bons, coisas antigas. Se você dsejar , até pode obter coisa mais moderna, mas terá que pagar à parte. Portanto, os muito pobres contam com a rede pública, o que quer dizer nada mesmo. Os pobres que trabalham, têm sorte quando suas empresas os colocam em convênios, básicos, que cobrem algumas coisas Quando não são registrados , ficam na mesma que os demais. A chamada classe média paga muito por nada. Os aumentos reais ocorrem, fora os reajustes, por faixa etária, ma os procedimentos não se alteram, e isso faz com que, quanto mais idade, mais necesidade e menos atendimento de qualidade. Essa é a política que produz resultados financeiros astronômicos aos convênios , que mantém , até, uma bancada na Câmara Federal. Assim, nada é modernizado e essa é a situação do brasileiro até a classe média. Políticos e a Classe Rica não tem problemas. Usam os 3 melhores hospitais, pouco importa onde estejam. Se tiverem problemas , são encaminhados a São Paulo. O resto , nem queira ver.

  • 3. à 09:20 PM em 18 jul 2007, anselmo escreveu:

    Isso para um país desenvolvido com tantos outros benefícios públicos é inconcebível, pessoas vem em dentista no Brasil para não fazer na inglaterra, além da ligeira discriminação para com brasileiros nessas unidades de saúde. Tem burocracia, demora e discriminação também para moradias públicas em Londres para estrangeiros europeus.

  • 4. à 05:47 AM em 19 jul 2007, Monique Casas Martinez escreveu:

    É inegável o etnocentrismo presente no discurso de Monica Vasconcelos nesse texto sobre sáude pública na Grã Bretanha e suas comparações com o Brasil.
    Claro que não dá para comparar o sistema de sáude,assim como outros aspectos de países de "primeiro mundo" como Inglaterra com a realidade brasileira.
    Todo brasileiro,até mesmo estrangeiros que vem para o Brasil criticam a nossa forma de viver,nossos governantes,etc e procuram sempre encontrar alguém para se depositar a culpa pelo Brasil se encontrar nesta triste realidade,tendo como exemplo a sáude pública.
    Acho até interessante Monica Vasconcelos tentar criticar o Brasil pela situação precária que se encontra a sáude pública brasileira,mas quando começa a querer comparar com o sistema britânico que nao condiz com nossa realidade aqui,posso perceber seu etnocentrismo arraigado,típico de pessoas que pensam que a Europa é o centro do mundo.
    Claro que o nível de superioridade da saúde pública e educação européia é indiscutivelmente maior que a brasileira,assim como de toda América Latina,mas nao podemos fazer comparações. Lá se vive muito melhor que aqui sendo "filha de médico" ou não.
    Vivi na Espanha 14 anos e quando retornei ao Brasil foi um caos,mas me adaptei e posso dizer como historiadora,consigo identificar discursos etnocentricos como de Monica Vasconcelos a respeito do Brasil. Etnocentrismo é algo repugnante e eu me recuso a aceitá-lo em quaisquer circunstâncias.Não sou filha de médico,mas aposto que não seria impossível me consultar com um médico em um posto de sáude no Brasil e ser bem atendida e meu problema solucionado.

  • 5. à 09:15 AM em 19 jul 2007, Juliana escreveu:

    pois e, Monica, mas sao quantos casos felizes no meio de tantos mals resolvidos? eu tenho um problema cronico de saude, relacionado a pratica de esportes. ja perdi a conta de quantas vezes fui ao GP pra tentar conseguir resolver meu problema. a unica coisa que ele faz e me mandar parar de correr e voltar a nadar, ao inves de me encaminhar para um especialista. :-|
    tenho uma amiga no brasil que teve uma gravidez de risco. ela entrou em trabalho de parto quando os bebes tinham apenas seis meses. eles - e ela! - ficaram hospitalizados por mais outros tres. ela nao e rica, tampouco filha de medicos. e tudo acabou bem.
    todo mundo deveria ter a chance de passar na malha fina, vez ou outra. ate mesmo quem engravida antes dos 42 anos.

  • 6. à 06:13 PM em 19 jul 2007, ԳܲԳçã escreveu:

    Na verdade o atendimento na Unidade Básica de Saúde,pelo generalista tem o objetivo de atender e tratar o paciente que não necessita de um especialista pra fazer seu tratamento ou encaminhá-lo,caso precise.No meu caso(sou médica em um bairro de são luis,maranhão,brasil),se o ou a paciente necessita realmente de um especialista,não há porque ficar enrolando;é encaminhar ao especialista e prescrever uma medicação sintomática,explicando é claro,e solicitando alguns exames necessários.No caso das gestantes,o primeiro exame com histórico e solicitação de complementares,nos orienta se a mesma necessitar de um acompanhamento de média e alta complexidade;esses atendimentos realmente são mais caros e aqui,no caso das gestantes temos o hospital universitário materno-infantil.

  • 7. à 06:09 PM em 21 jul 2007, ٱí-ٲ-󾱲 escreveu:

    Bem, na minha inculta opinião os médicos de um modo geral (a maioria)com excessão, são negligentes, sem amor,sem proventos compativel,sem sacerdócio,fazem acepção de pessoas e se alguém não tiver dinheiro morre..sem misericordia.. a saúde pública no Brasil e uma desgraça

  • 8. à 08:12 PM em 21 jul 2007, marcilio tabosa viana escreveu:

    Mesmo com essa dificuldade toda, de ter que passar por um GP, para depois ser enviado a um especialis, o sistema britânico parecefuncionar melhor que no Brasil, onde , na Saude Publica, quem procura um medico nem sempre e atendido!

  • 9. à 07:30 PM em 24 jul 2007, Heloisa Borges escreveu:

    Concordo com a análise da leitora Monique. O texto está repleto de preconceito e da idéia de que nada no Brasil funciona.

    Não é verdade.

    Diversos procedimentos de ponta não apenas são praticados, mas foram desenvolvidos no Brasil, por médicos de universidades e hospitais brasileiros.

    As maternidades-escola das universidades de emdicina são bons exemplos de que uma pessoa na mesma situação da amiga da autora do texto teria tratamento adequado na rede pública.

    O problema no Brasil não é nem a incompetência nem a incapacidade de serem realizados tais procedimentos aqui. Ele está ligado à superlotação da rede de saúde.

    Como todos os sistemas públicos de saúde, o brasileiro tem problemas. Mas também apresentam problemas os sistemas americanos e inglês, como notou a autora.

    Não devemos esquecer, entretanto, que há diversos centros de excelência nos campos de neonatologia e obstetrícia, dentre outros, no Brasil.

  • 10. à 01:51 PM em 25 jul 2007, Marcos escreveu:

    Engraçado, a repórter informa ser filha de médico e tem noção de que isso altera o acesso à saúde no Brasil.
    Aos que tiveram o azar de não terem pais médicos, fica a fila de espera por dias, meses para um simples atendimento.
    Assim, a repórter, sem qualquer parâmetro, fala mal do sistema britânico e de um caso de uma amiga que foi atendida de maneira exemplar.
    Não sei, mas parece que repórter, jorbalista, de qualquer nacionalidade, vende a desgraça alheia como forma de ser notado.
    É uma pena........
    Grande abraço

  • 11. à 11:45 AM em 29 jul 2007, Miguel Lenz escreveu:

    Não ha´como fazer qualquer tipo de comentário enfocando uma análise entre serviços de saúde em países tão díspares em condições sociais. É uma perda de tempo e ingenuidade da autora
    No Brasil, infelizmente, temos três países: Bélgica, onde padrões de vida iquivalentes à Europa são comuns (alta burguesia, algumas regiões do centro sul do país);Índia, a grande massa atendida pelo INPS; Bangla Desch, a massa esfomeada e altamente fecunda do Nordeste e outras regiões subdesenvolvidas do Norte.Portanto, desenvolver programas de saúde em tal diversidade é uma tarefa complexa e inevitavelmente falha

    Querer fazer comparações entre Brasil e Grã Bretanha a respeito, é o mesmo que querer comparar Pelé com um jogador de várzea...

    Acorda, menina! Use sua inteligência para outras observações...

  • 12. à 03:44 PM em 30 jul 2007, Isadora escreveu:

    Fico feliz de notar que pessoas dotadas de bom senso criticam a Monica Vasconcellos. Ela fala mal do NHS Britânico,o qual desfruta de mão beijada, mesmo sendo Brasileira, sem fazer esforço, com um desconto muito em conta em seu contra-cheque. Aposto que ela não fala mal na cara de um médico ou enfermeiro Britânico, mas o faz num blog.O NHS é um sistema ótimo que faz o melhor que pode dentro das circunstâncias. Para começar, é um dos poucos sistemas de boa qualidade e ainda socializados na Europa ( na Alemanha, por exemplo o sistema de saúde é privatizado e se o indivíduo não tem plano de saúde - nem mesmo os Alemães são atendidos em procedimentos não-emergenciais). O sistema de atendimento médico por endereço (região) é muito prático,exatamente para que o paciente não tenha que se deslocar por milhas e milhas para ir ao médico. Vivi na Inglaterra por 3 anos e sempre fui muito bem atendida ( e olha que eu não morava em bairros chiques!), no mesmo nível de atendimento tanto na rede privada quanto em algumas unidades da rede pública de saúde Brasileira. Comparar 2 países com realidades tão diferentes é inútil. O que poderia ser sugerido é que no Brasil, todos os hospitais da rede pública tivessem um nível mínimo de atendimento padronizado. A poucos meses precisei usar a emergência do SUS no RJ. O Hospital Cardoso Fontes (mais próximo da minha casa), infelizmente parecia um galinheiro( sujo, restos de comida e lixo nos corredores, uma verdadeira favela) e a emergência só funcionava a partir das 14 horas apenas para pacientes hipertensos, diabéticos ou cardiopatas. Como meu caso era de uma cólica abdominal severa, não poderia ser atendida ali. Fui então ao Hospital Lourenço Jorge na Barra (o hospital central dos Jogos Pan-americanos Rio 2007) que estava impecável, apesar das filas (que acontecem em qualquer país)e fui bem antendida. O problema do SUS é esse. Hospitais bem localizados tendem a ser bem cuidados e administrados, enquanto que " escondidos" dos olhos dos turistas são como canteiros de obras. Esse talvez seja o quesito de comparação: Os hospitais ditos ruins na Inglaterra tem o mínimo necessário para atender a comunidade enquanto que no Brasil as condições são sub-humanas e falta o mínimo necessário nos hospitais periféricos.
    Mônica, acorda pra vida e para de reclamar de barriga cheia.

  • 13. à 10:16 PM em 31 jul 2007, Solange escreveu:

    Moro na Inglaterra e tenho o grande prazer de depender de um GP. haha sarcasmo puro. Sei que possam existir estorias felizes de tempo em tempo mas tambem sei de muitas tristes. Conheco uma pessoa que por causa desse sistema nunca viu um ginecologista quando deveria e agora esta com um cancer terminal. Em certas areas aqui so temos um smear test a cada 5 anos. O que me assusta tremendamente. Como vou ao Brasil todo ano logicamente que verifico toda essa parte pois senao ja estaria podre. Logico que pago uma fortuna por meu otimo medico.
    E agora faz tres semanas que estou sofrendo com uma sinusite aguda quase morrendo de dor de cabeca mas meu GP so me deu um spray que estou vendo nao esta adiantando nada.
    Vou parar de reclamar e ver se da resolver meu problema de alguma maneira, pagando algum tratamento particular logicamente.
    Desculpe me sei que tem lado bom e o ruim mas eu infelizmente ja tive muitas experiencias horriveis.

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