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Cem dias que abalaram a vizinhança

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Bruno Garcez | 15:55, segunda-feira, 27 abril 2009

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Foi só ele se mudar para cá, no dia 20 de janeiro, que tudo mudou.

Ele começou a frequentar jogos de basquete dos Washington Wizards e provou daquele que é, sem dúvida, um dos melhores hot-dogs do mundo, o da lanchonete Ben's Chilli Bowl.

Agora, o Ben's conta até com uma placa dizendo que Ele sentou ali. E, como se não bastasse, a lanchonete passou também a contar com um cartaz anunciando que eles só servem fiado para o humorista Bill Cosby e para o novo vizinho e sua família.

O Vizinho Número 1 também deu as caras lá ao lado de casa, quando foi jogar basquete na escola Marie Reid Community Learning Center.

A vizinhança já gostava dele antes, tendo votado em peso para que ele se mudasse para cá.

Mas depois que ele passou a dar o ar de sua graça com regularidade em diferentes pontos da cidade, o pessoal passou a gostar ainda mais.

Mesmo que ele agora percorra constantemente as ruas da cidade cercado de uma escolta com diversas limousines, carros de polícia e ambulâncias, o pessoal dá de ombros e não se incomoda com os transtornos que isso provoca no trânsito local.

O novo vizinho teve até a gentileza de me convidar para ir à Casa dele, mas o convite, claro, foi feito por gente que trabalha para gente que trabalha para ele, não pelo próprio. E, uma vez lá, eu não pude e nem deixariam que eu cumprimentasse o anfitrião.

Foi naquela ocasião que ele travou um amizade com um brasileiro de nome Luiz.

E, com a amizade mal tendo começado, esse novo morador de Washington já sai dizendo por aí que o brasileiro ''é o cara''.

Para não fazer desfeita, vale lembrar que o antigo morador daquela residência ilustre na Pensylvannia Avenue 1600 também convidou para uma visita e ainda recebeu ''o cara'' e outros brasileiros não apenas lá como também na casa de campo conhecida como Camp David.

Mas o problema é que o antigo morador não era muito querido pelos ex-vizinhos. Tanto assim, que ele começou a evitar passear pela cidade, ir a restaurantes, estádios esportivos e coisa e tal.

Mas foi só ele sair daqui para começar a dar as caras em alguns cantos lá no Estado em que ele foi criado, o Texas.

O Ex-Vizinho apareceu de supresa em uma loja, fez o arremesso inicial em um jogo de beisebol - coisa que ele nem sonharia em fazer por aqui - e realizou até uma festinha em sua nova residência.

Entre os convidados, muitos velhos amigos do tempo em que em que ele morava aqui na capital, gente como Donald e Condi e um tal de Paul, que presidia um banco aqui ao lado, mas que acabou tendo que pedir demissão depois de haver surgido uma história de que ele teria oferecido um aumento para sua namorada, que, por sinal, ainda trabalha por lá.

A turma toda estava lá, mas o velho chapa Dick ficou de fora. Despertando boatos até de que os dois andariam estremecidos, mas sei lá se isso é verdade.

A turma do novo morador é outra, tem o Rahm, cujo temperamento já lhe valeu até o apelido de Rambo. Mas ele agora anda bem mais tranquilo e hoje em dia até se dá bem com a turma do antigo morador.

Tem a Hillary, que, há um ano falava cobras e lagartos do Vizinho Número 1, mas hoje eles se dão super bem. O tempo sana quaisquer feridas, é bom isso.

Tem também o Vizinho Número 2, que trabalha ali do lado da Pensylvannia 1600, num prédio um pouco mais modesto do que a casa do Vizinho Número 2, mas igualmente bem frequentado. Ele se chama Joe e também já se encontrou com o brasileiro Luiz. Joe às vezes fala mais do que deve, o que parece deixar o vizinho mais famoso um pouco contrariado, de quando em quando.

Mas eu estaria mentindo se dissesse que todo mundo gosta do novo inquilino. Tem gente na mesma rua que anda espalhando que ele gasta dinheiro que não é dele, que ele vai acabar deixando esta e outras vizinhanças na pindaíba e até chamando-o de comunista e fascista.

Não é que o pessoal seja intriguento e fofoqueiro, não, mas é que eles gostavam mesmo era do Ex-Vizinho e ficaram muito chateados quando o Vizinho Número 1 se mudou para cá, trazendo uma turminha nova.

O fato é que, gostem dele ou não, o Vizinho Número 1 anda trabalhando bastante e, por tabela, vem também me deixando muito ocupado.

Nesses primeiros cem dias, ele fez gestos de amizade voltados para um pessoal de umas vizinhanças bem, bem distante - gente que, vale dizer, é muitas vezes bastante mal recebida quando aparece aqui ao lado, em Nova York-, mudou um monte de decisões que tinham sido tomadas pelo Ex-Vizinho, e saiu distribuindo dinheiro para diversos bancos.

As consultas feitas com moradores desta e de outras vizinhanças mostram que a maior parte está contente com o Vizinho Número 1, mas deixam claro também que ele é um dos mais polarizadores inquilinos que já moraram em Pensylvannia Avenue 1600.

Se as decisões deste novo morador estão certas ou não não cabe a mim dizer. Procuro manter a minha discrição como vizinho. E mesmo quando eu me manifesto com mais entusiasmo, o Vizinho Número 1 e a turma dele não toma qualquer conhecimento.

Mas o que eu vou sempre lembrar, mesmo quando deixar de ser vizinho deste novo residente famoso, é a vez em que ele, que ainda não tinha domicílio por aqui, apareceu para uma visita, durante uma convenção partidária, realizada há pouco menos de dois anos em um hotel nas imediações.

Naquela ocasião, ninguém imaginava que ele iria se tornar o Vizinho Número 1. E eu muito menos. Mas, ainda assim, achei que não custava nada tentar falar com o moço. Vai que um dia...

Ele terminou seu discurso, saiu do palco e eu fui atrás. Como, naquela época, ele não vivia cercado de seguranças, consegui fazer uma perguntinha e até uma segunda. E ele respondeu.

Depois, demonstrando simpatia, ele ofereceu um aperto de mão. Quando ele fez o mesmo gesto recentemente para um sujeito que mora lá para o sul, um tal de Hugo, muita gente por aqui chiou.

O meu aperto de mão com o Vizinho Número 1 foi breve, não rendeu manchetes e nem controvérsias. Mas é algo que eu vou poder contar para meus netos mesmo quando tiver me mudado para bem longe da Pensylvannia 1600, muito tempo depois destes 100 primeiros dias.

A ofensiva da simpatia

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Bruno Garcez | 17:17, segunda-feira, 20 abril 2009

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obama226d.jpgBarack Obama ainda não ofereceu nenhuma ação de peso em relação à América Latina.

Mas adotou pequenos gestos que poderão influir decisivamente na percepção que os latino-americanos têm do país comandado por ele.

Trata-se, principalmente, de uma mudança de tom.

Em vez de fingir que Hugo Chávez não exisitia, como fazia a Casa Branca no período de George W. Bush, quando funcionários do governo nem mesmo mencionavam o nome do líder venezuelano, Obama trocou apertos de mão e até ganhou um presente do outroro algoz americano, durante a mais recente Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago.

O brinde oferecido por Chávez foi o clássico As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, que, por sinal, já virou best-seller.

Passados os apertos de mão e sorrisos de ambas as partes, Chávez já anunciou que a Venezuela voltará a ter um embaixador em Washington.

Ainda assim, houve gente nos Estados Unidos que criticou com veemência o gesto do presidente.

Para Newt Ginrich, ex-líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Obama ''deu impulso aos inimigos americanos''.

Outros senadores da oposição, Judd Gregg, de New Hampshire, e John Ensign, de Nevada, consideraram a ação de Obama ''irresponsável''.

Na cúpula, o líder americano também se reuniu com outros líderes com os quais os Estados Unidos vêm tendo problemas, como o boliviano Evo Morales e o equiatoriano Rafael Correa.

E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou que os americanos visitem asim que possível os países da região com os quais os americanos vêm tendo relações conturbadas.

Obama foi ao encontro com a mensagem de que estava lá para ouvir. Ele não fez nenhum anúncio bombástico em relação à região, seja para o bem ou para o mal.

Mas pequenos gestos feitos antes e durante o encontro já fizeram alguma diferença.

Poucos dias antes da reunião, ele anunciou o fim de restrição de viagens a Cuba por parte de cubano-americanos e do envio de remessas.

Em contrapartida, o presidente cubano, Raúl Castro, disse estar disposto a discutir de tudo com os americanos, desde direitos humanos e presos políticos até liberdade de imprensa.

Analistas já enfatizaram por diversas vezes que a América Latina não é e nem deverá ser uma prioridade na política internacional americana.

Mas a ofensiva de simpatia de Barack Obama talvez sirva, ao menos, para tornar a relação entre americanos e seus vizinhos mais harmoniosa, independentemente do que dizem os críticos americanos.

Será que é o começo do fim do embargo?

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Bruno Garcez | 17:31, sexta-feira, 17 abril 2009

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cuba.jpg

A coisa não se dará da noite para o dia.

Mas eis que da noite para o dia ouviu-se coisas que não se ouvia há décadas. E outras que nunca nem haviam sido ouvidas antes.

O presidente cubano, Raúl Castro, se disse disposto a discutir ''tudo, tudo, tudo'' com os americanos.

E, sem meias palavras, enumerou que tópicos poderiam constar do debate com os arquirrivais: ''direitos humanos, liberdade de imprensa, prisioneiros políticos''.

Termos que poderiam constar do discurso de qualquer líder americano, de John Kennedy a George W. Bush, mas que soariam impensáveis na boca de Fidel ou de Raúl Castro até recentemente.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, elogiou as declarações e afirmou que os americanos estão acompanhdo a proposta com muita seriedade.

No início da semana, Barack Obama anunciou que cubano-americanos poderão agora viajar livremente para a ilha e enviar o quanto quiserem para seus familiares por lá.

O gesto marca o fim de restrições que estavam em vigor desde o segundo mandato de George W. Bush.

Mas, como analistas bem observaram, as medidas representam pouco, já que até o começo do governo Bush era assim que as coisas funcionavam.

Uma das decisões entre as anunciadas por Obama passou quase despercebida, a de permitir que empresas de telecomunicações americanas possam operar em território cubano.

Algo que poderia contribuir mais para a livre circulação de idéias na ilha do que a malograda Rádio Martí, criada no governo de Ronald Reagan, com o intuito de propagar ideais de liberdade para os cubanos, mas cujas ondas radiofônicas são regularmente bloqueadas pelas autoridades de Cuba.

Em Cuba, internet ainda é um luxo e está disponível em poucas localidades. Se começam a pipocar lan houses em tudo que é canto, poderiam surgir mais jornalistas-cidadãos, blogueiros, enfim gente disposta a opinar sobre tudo o que é assunto, sem papas na língua, como a blogueira .

Paralelo a tudo isso, há centenas de projetos em tramitação na Câmara dos Representantes e no Senado dos Estados Unidos clamando pelo degelo nas relações entre os dois países em diferentes setores.

Há desde propostas para permitir que americanos viagem livremente para a nação caribenha até sugestões de que agricultores americanos possam vender seus produtos para os cubanos.

Ideias que contam com a aprovação de empresários americanos, vale frisar.

São sinais abonadores, mas não indicações nem mesmo remotas de que o embargo econômico contra Cuba estabelecido em 1962 estaria se aproximando do fim.

Sinais decisivos costumam se dar, muitas vezes, através dos emissários mais inesperados.

No início dos anos 70, o presidente Richard Nixon resolveu que uma reaproximação com a China era um bom negócio para os Estados Unidos.

Mas muito antes de Nixon apertar a mão de Mao Tsé-Tung, quem realmente quebrou o gelo nas relações foi uma equipe de ping-pong.

Os tenistas de mesa foram a primeira delegação esportiva americana a ser recebida na China, até então fechadíssima para o Ocidente.

Ora, cubanos e americanos se unem no amor que nutrem pelo beisebol.

Por isso, se nós próximos dias ou meses começarmos a ver equipes esportivas partindo dos Estados Unidos rumo a Havana, podem estar certos de que aí tem coisa.

Leia o restante deste post

Um dia de cão

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Bruno Garcez | 03:43, quarta-feira, 15 abril 2009

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dog_obama226.gifNesta terça-feira, foi apresentado oficialmente Bo, o cãozinho oficial da família Obama.

Um oceano de jornalistas estava a postos para noticiar o acontecimento.

Evento de importância comparável ao interesse despertado pelo parquinho criado no jardim da Casa Branca para que as filhinhas de Obama, Sasha, de 7 anos, e Malia, de 10, pudessem brincar.

Eu devo confessar que nem sequer conhecia a raça do animal em questão, um cão d'água português.

Mas também confesso que minha familiaridade com cães é apenas ligeiramente superior à que possuo com salamandras.

Ok, a história é engraçadinha, e ninguém nega que é bonitinho ver duas crianças lindas brincando com o cãozinho e coisa e tal, mas, sei lá, será que é para tanto auê assim?

Internautas passaram meses discutindo qual deveria ser a raça do bichano, sua cor, etc, e tal.

Em uma de suas primeiras entrevistas coletivas, uma jornalista quis saber a quantas andava o plano de adquirir um cãozinho, ao que Obama retrucou que teria de ser um cão hipoalergênico, visto que Malia é alérgica ao pelo de cães. Igualmente interessante.

Dito e feito, adquiriu-se o simpático Bo, o sucessor de Barney, o cãozinho da família Bush.

No mesmo dia em que o cão d'água português era apresentado às câmeras, piratas somalis tentaram sequestrar mais uma embarcação americana, o dono de Bo anteviu sinais de recuperação da economia americana, a Coréia do Norte expulsou inspetores internacionais e anunciou a reabertura de suas instalações nucleares e por aí vai.

Mas deixa pra lá. Amanhã, diversos itens pessoais de Michael Jackson vão a leilão. Eu me pergunto por quanto sairá aquela roupa vermelha que ele usou no clipe de Thriller.

Vou também dar uma conferida na revista People para ver se Jennifer Aniston decidiu reatar com John Mayer e se Lindsay Lohan conseguiu de vez combater o vício.

Como se vê, nem só de cães d'água portugueses vive o noticiário, não é mesmo?

Loucos de raiva ou doentes de amor

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Bruno Garcez | 17:36, quinta-feira, 9 abril 2009

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O ator Peter Finch recebeu um merecido Oscar póstumo pelo filme Rede de Intrigas , no qual interpreta o âncora de TV Howard Beale.

Beale passa por severas crises de depressão e surtos de insanidade, mas seus produtores, em vez de de sugerir um tratamento médico, resolvem fazer uso de sua condição para aumentar a audiência da atração apresentada por ele.

O âncora pouco a pouco se torna uma celebridade nacional, graças ao bordão que grita durante seu programa: ''Eu estou louco de raiva e eu não vou mais tolerar isso!''

Pois os âncoras de algumas das principais atrações televisivas americanas estão cada dia mais parecidos com Howard Beale, seja à esquerda ou à direita.

Entre os que estão loucos de raiva, está, por exemplo, Glenn Beck, da rede Fox, que se diz ''justa e equilibrada''.

Beck volta e meia se debulha em lágrimas em seu programa. Uma de suas choradeiras mais recentes se deu quando Barack Obama anunciou seu pacote de estímulo econômico.

Para Beck, as ações do presidente americano são sinal de que o país está na estrada do socialismo, usando táticas idênticas às dos regimes de extrema-esquerda ou dos governos fascistas, como ele mesmo falou.

Beck também aproveita, quando surge a oportunidade, para louvar o ativismo de militantes pró-porte armas, porque estes estariam buscando ''retomar o controle do nosso país''.

Bill O'Reilly, o colega mais famoso de Glenn Beck na Fox, há poucos dias pediu que o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodrigeuz, se desculpasse publicamente ao povo americano, porque um promotor do país pediu o indiciamento, por crimes de guerra, de ex-integrantes do alto escalão do governo Bush.

Ele também afirmou: ''O homem está lelé'', sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando soube da declaração do líder brasileiro de que a crise financeira global foi causada por homens brancos e de olhos azuis.

A emissora para a qual O'Reilly e Beck trabalham também não ajuda.

Recentemente, como bem lembrou em sua coluna, Matt Frei, âncora do programa ³ÉÈËÂÛ̳ World News America, a Fox destacou que, durante a visita à Turquia, o presidente americano vinha revelando o seu outrora omitido nome do meio, sendo apresentado como Barack Hussein Obama.

A reportagem era ilustrada com a capa de uma recente edição da revista Newsweek estampada com a manchete ''O Declínio da América Cristã'' e o apresentador da Fox atentava para o fato de que tudo isso se dava faltando poucos dias para a Páscoa.

No outro extremo da esfera política, há Keith Olberman, apresentador de Countdown with Keith Olberman , da rede MSNBC.

Com a saída de George W. Bush da Casa Branca, que chegou a ser chamado por ele de ''idiota-no-comando'', a ira do apresentador se voltou contra a oposição republicana, descrita por ele como o ''partido do não''.

Seus alvos principais são figuras como o deputado republicano Eddie Cantor, segundo ele incapaz de sugerir uma alternativa ao orçamento de Obama ou a governadora Sarah Palin, que se tornou um símbolo da direita americana desde que concorreu a vice na chapa de John McCain.

Colega de Olberman na MSNBC, Chris Matthews compartilha do ódio visceral pelos republicanos, mas é louco de amor por Barack Obama, a quem prometou ajudar, fazendo tudo o que estivesse a seu alcance.

Eles podem ser tendenciosos e não fazer a menor questão de esconder suas preferências, mas o estilo inflamado (inflamatório, dirão alguns) dos âncoras americanos gera resultados, a julgar pela audiência cativa que eles possuem.

Será que ele consegue?

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Bruno Garcez | 04:13, quinta-feira, 2 abril 2009

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A tarefa de Barack Obama na reunião do G20 não é das mais fáceis.

Ele vai ter de convencer dois dos mais importantes parceiros americanos na Europa - A França a Alemanha - a meter as mãos nos bolsos.

E eles já deixaram claro que não pretendem fazê-lo.

Americanos, britânicos e japoneses vêm clamando por um ''new deal global'', que consistiria na implantação de mais pacotes de estímulo econômico por parte de diferentes países.

A alemã prudente Angela Merkel diz que gastar mais seria irresponsabilidade, pois meteria as finanças de seu país em uma enrascada.

O francês irascível francês Nicolas Sarkozy afirma que o certo mesmo é criar mecanismos de controle do sistema financeiro global e que se algo assim não acontecer ele pode abandonar a reunião.

Ao lado do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, Obama reconheceu ontem que os americanos tem uma boa parcela de culpa pela criação da crise.

Mas afirmou, em um recado aos dois europeus ''rebeldes'', que cabe à Europa fazer mais para pôr um fim à mesma.

Em entrevista ao jornal Financial Times, o premiê japonês Taro Aso deixou de lado a contenção nipônica, tornando clara a cisão entre os países ricos.

Aso afirmou que o Japão conseguiu se recuperar da crise vivida nos anos 90 graças aos investimentos que realizou no período.

Segundo o primeiro-ministro, ''há países que compreendem a importância da mobilização fiscal e outros que não'', acrescentando que a Alemanha parece se encontrar na segunda categoria.

Como se vê, Obama conta com bons aliados, o que numa hora dessas não atrapalha.

Mas ele terá de contar com mais do que isso. Com quase nenhuma experiência internacional, o líder americano terá de sacar da cartola uma habilidade diplomática ainda não comprovada.

Para se diferenciar do antecessor, o líder americano quer mostrar uma propensão maior ao diálogo, uma capacidade de ouvir antes de dizer qual o caminho a ser seguido.

Se ele conseguir colher resultados, com compromissos em criar novos pacotes econômicos, medidas para controlar instituições e garantias de que não se partirá para o protecionismo, Obama reforçará seu cacife junto a americanos e estrangeiros.

Mas se sair de Londres tendo colhido poucos resultados, sua credibilidade estará abalada tanto no cenário internacional como nos Estados Unidos.

De todos os que estão em Londres, ele é o líder que mais tem a perder, mas também o que poderá se sagrar o maior vencedor.

Com menos de cem dias de mandato, o G20 já pode decidir o futuro político de Barack Obama.

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