Rebeldes com causa
Todos os anos na mesma data eles repetem a velha tradição.
Empunhando suas Harley Davidsons, Indian e inúmeras outras marcas que deleitam os conhecedores, eles invadem a capital americana na véspera da data que homenageia soldados americanos mortos nos campos de batalha, o dia 25 de maio, conhecido aqui como Memorial Day.
Eles são tatuados em sua maioria, usam coletes de couro adornados com símbolos de caveira e calças jeans surradas.
O visual retrô e a presença constante de imagens ligadas à bandeira americana pode levar a crer que eles são como uma versão sessentona e barriguda do personagem central do filme Sem Destino, com Peter Fonda.
Mas os ideiais que estes senhores grisalhos abraçam estão mais para os do militar vivido por John Wayne em Os Boinas Verdes, um libelo a favor da presença americana na Guerra do Vietnã, do que para os princípios hippies.
Não é à toa que o local que eles escolheram para desfilar suas máquinas fica nas imediações do Memorial erguido em homenagem aos soldados que lutaram na Guerra do Vietnã.
Muitos deles são, por sinal, veteranos do conflito no Sudeste Asiático, e até de guerras mais antigas, como a da Coréia.
E alguns até mesmo acreditam - e carregam dizeres para prová-lo - que ainda há prisioneiros de guerra perdidos em algum canto do Vietnã.
Foi nas fileiras militares que muitos deles firmaram seu amor por símbolos americanos que estampam em suas roupas e motos, como a tradicional águia calva e as onipresentes cores vermelha, azul e branca, da bandeira do país.
Já que falamos em Peter Fonda, talvez eles até tenham algum respeito por ele, já que o filho de Henry Fonda empunhava uma Harley não apenas nas telas, mas é um notório amante de motos.
Mas Jane Fonda é para eles algo mais do que uma vilã. É o símbolo do que há de pior nos Estados Unidos. Um papel que ela assumiu desde que posou para fotos em uma bateria antiaérea vietnamita nos anos 60.
A atriz é lembrada com frases ofensivas estampadas em adesivos e camisetas como ''Jane Fonda Call Home: 1800-Hanoi'' ou outras bem mais agressivas como ''Jane Fonda = Bitch''.
Em 2007, um desses grupos de motociclistas, conhecido como Rolling Thunder tomou conta do Memorial da Guerra do Vietnã, com suas motos, assim que soube que militantes contrários ao conflito no Iraque usaria o local como palco de seu protesto.
Eu conversei com alguns dos participantes do Rolling Thunder há dois anos.
E eles me disseram que não queriam um embate físico com os militantes contrários à guerra, apenas garantir que o monumento aos combatentes no Vietnã não seria violado.
Eles também me contaram que não gostavam do termo motoqueiros e que preferiam ser chamados de ''entusiastas do motociclismo''.
Alguns dos membros do Rolling Thunder chegaram a ser recebidos em diferentes ocasiões na Casa Branca pelo ex-presidente George W. Bush.
No passado, o visual e a vida em duas rodas fariam destes senhores ícones incontestes da rebeldia. Hoje em dia, talvez a história seja outra...