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Arquivo para maio 2009

Rebeldes com causa

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Bruno Garcez | 21:40, terça-feira, 26 maio 2009

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Todos os anos na mesma data eles repetem a velha tradição.

Empunhando suas Harley Davidsons, Indian e inúmeras outras marcas que deleitam os conhecedores, eles invadem a capital americana na véspera da data que homenageia soldados americanos mortos nos campos de batalha, o dia 25 de maio, conhecido aqui como Memorial Day.

Eles são tatuados em sua maioria, usam coletes de couro adornados com símbolos de caveira e calças jeans surradas.

O visual retrô e a presença constante de imagens ligadas à bandeira americana pode levar a crer que eles são como uma versão sessentona e barriguda do personagem central do filme Sem Destino, com Peter Fonda.

Mas os ideiais que estes senhores grisalhos abraçam estão mais para os do militar vivido por John Wayne em Os Boinas Verdes, um libelo a favor da presença americana na Guerra do Vietnã, do que para os princípios hippies.

Não é à toa que o local que eles escolheram para desfilar suas máquinas fica nas imediações do Memorial erguido em homenagem aos soldados que lutaram na Guerra do Vietnã.

Muitos deles são, por sinal, veteranos do conflito no Sudeste Asiático, e até de guerras mais antigas, como a da Coréia.

E alguns até mesmo acreditam - e carregam dizeres para prová-lo - que ainda há prisioneiros de guerra perdidos em algum canto do Vietnã.

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Foi nas fileiras militares que muitos deles firmaram seu amor por símbolos americanos que estampam em suas roupas e motos, como a tradicional águia calva e as onipresentes cores vermelha, azul e branca, da bandeira do país.

Já que falamos em Peter Fonda, talvez eles até tenham algum respeito por ele, já que o filho de Henry Fonda empunhava uma Harley não apenas nas telas, mas é um notório amante de motos.

Mas Jane Fonda é para eles algo mais do que uma vilã. É o símbolo do que há de pior nos Estados Unidos. Um papel que ela assumiu desde que posou para fotos em uma bateria antiaérea vietnamita nos anos 60.

A atriz é lembrada com frases ofensivas estampadas em adesivos e camisetas como ''Jane Fonda Call Home: 1800-Hanoi'' ou outras bem mais agressivas como ''Jane Fonda = Bitch''.

Em 2007, um desses grupos de motociclistas, conhecido como Rolling Thunder tomou conta do Memorial da Guerra do Vietnã, com suas motos, assim que soube que militantes contrários ao conflito no Iraque usaria o local como palco de seu protesto.

Eu conversei com alguns dos participantes do Rolling Thunder há dois anos.

E eles me disseram que não queriam um embate físico com os militantes contrários à guerra, apenas garantir que o monumento aos combatentes no Vietnã não seria violado.
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Eles também me contaram que não gostavam do termo motoqueiros e que preferiam ser chamados de ''entusiastas do motociclismo''.

Alguns dos membros do Rolling Thunder chegaram a ser recebidos em diferentes ocasiões na Casa Branca pelo ex-presidente George W. Bush.

No passado, o visual e a vida em duas rodas fariam destes senhores ícones incontestes da rebeldia. Hoje em dia, talvez a história seja outra...

Spock x Darth Vader

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Bruno Garcez | 12:52, sexta-feira, 22 maio 2009

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Um deles é famoso por sempre manter o temperamento sereno, de falar frases de grande sabedoria e de não se deixar levar pelas emoções, como o senhor Spock, de Jornada nas Estrelas.

O outro tem fama de se mover pelas sombras, de tomar decisões em segredo e de manipular os demais a seu redor, como o Darth Vader, de Star Wars.

Pois Spock e Darth Vader escolheram a capital americana como palco de seu primeiro grande embate.

Barack Obama, que já foi comparado a Spock, elencou, com argumentos cuja lógica nem um vulcano refutaria, os motivos pelos quais a prisão de segurança máxima de Guantánamo deixou os americanos menos seguros e não o contrário.

Ele usou o mesmo argumento para condenar o uso de técnicas severas de interrogatório que muitos qualificam como sendo tortura.

Poucos minutos depois, o ex-vice-presidente americano Dick Cheney, comparado a Darth Vader em inúmeras ocasiões, lançou uma ardorosa defesa da manutenção da prisão de Guantánamo e das técnicas de interrogatório severas.

Estas práticas, segundo ele, teriam mantido o país mais seguro. Um argumento digno de um adepto do lado negro da Força, para o qual os fins sempre justificam os meios, dirão os críticos.

Para Cheney, os resultados mostrados por estas práticas, que ele defendeu com unhas e dentes durante a gestão Bush, são claramente eficazes e aqueles que não o percebem possuem ''uma falta de fé perturbadora'', como diria Lorde Vader.

O ex-vice líder acredita que os detidos no presídio de segurança máxima tem de permanecer por lá, bem longe dos Estados Unidos. Se pudesse, talvez ele até os enviasse para ainda mais longe, quem sabe a Prisão Imperial do planeta Dathomir.

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Já o sereno presidente, movido por princípios e pela lógica, acredita que ao manterem indefinidamente detidos em Guantánamo os 240 prisioneiros que lá se encontram, os Estados Unidos estão minando sua própria reputação internacional e permitindo que uma ameaça seja um pretexto para ignorar a tradição de leis do país.

Em princípio, muitos americanos concordaram com o presidente de que a existência do presídio de segurança máxima seria uma aberração legal, mas não querem ver os detidos trazidos para as suas regiões.

Dick Cheney quando abandonou o poder era visto com mais aversão por muitos americanos do que a provocada pela visão de Jabba, o Hutt.

Mas agora, como mostra uma pesquisa da rede CNN ele pode até não ser um Luke Skywalker, mas sua popularidade já passou de minguados 29% para 37%.

O efeito do embate sem precedentes entre o líder eleito e o ex-vice é o de alimentar ainda mais as já significativas diferenças entre os americanos.

Afinal, quem é amigo de Spock dificilmente aceitaria tomar uma cerveja romulana na cantina do planeta Tatooine com Darth Vader. E vice versa.

São tantas indagações

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Bruno Garcez | 20:21, terça-feira, 19 maio 2009

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Manhã de sol na capital americana. O dia parecia promissor.

Após haver adiado a entrevista coletiva que daria na semana passada, a secretária de Estado havia se dignado a conversar com a imprensa estrangeira hoje pela manhã.

Mas, claro, a fim de cercar o evento com ainda mais expectativa, nada como adiar o início marcado para a entrevista em trinta e cinco minutos.

E após esse adiamento, um pequeno atraso também, para que tudo não pareça de mão beijada.

Assim que Hillary Clinton apareceu no auditório do Foreign Press Center, de Washington, os repórteres latino-americanos ainda tinham uma remota esperança de que ela responderia às nossas perguntas.

Afinal, no próximo dia 1° de junho ela comparecerá à posse do presidente eleito de El Salvador, Maurício Funes.

De lá, partirá para Honduras, onde acontece a reunião da Organização de Estados Americanos.

A entidade está discutindo o reingresso de Cuba na organização, tema que é visto com -para dizer o mínimo - extrema cautela pelos americanos.

A região se presta a diversas perguntas atualmente.

O México tenta se recuperar dos efeitos devastadores da gripe suína sobre sua economia, o presidente da Guatemala, Álvaro Colom, é acusado de ter mandado assassinar um rival e o venezuelano Hugo Chávez há poucos dias estatizou mais empresas, entre elas uma americana.

Ou seja, não faltaria assunto para que ela falasse com os latino-americanos presentes ao recinto.

Mas conversa vai, conversa vem e nada de sermos acionados. Os nomes que eram chamados, ao que consta, eram pessoas que já haviam sido informadas de antemão que fariam perguntas.

Gente de várias partes do mundo, mas nenhum deles da América Latina.

''Estamos comprometidos com a África. Espero viajar para lá até o final do ano'', assegurou a secretária de Estado a uma jornalista nigeriana.

''Nossas fronteiras são muito porosas'', respondeu a um repórter do Canadá, refutando, no entanto, a hipótese de que o país ao norte seja uma rota de entrada para supostos terroristas.

Ela também expressou gratidão ''à liderança e o apoio'' dados pela Itália no combate à milícia Talebã no Afeganistão e assegurou a um colega australiano que os Estados Unidos não estão abrindo mão de seus aliados na região do Pacífico.

Mas eu fiquei sem saber o que ela acha do possível reingresso de Cuba à OEA, se ela acredita que aliados como o Brasil deveriam pressionar os cubanos por reformas democráticas, se ela vê perspectivas de que o governo Obama incentive o fim das tarifas cobradas sobre o etanol brasileiro e muito mais.

Minha colega Patricia Campos Mello, do Estadão, queria saber sobre o peso do Brasil nas relações entre Estados Unidos e Venezuela, quais eram as reponsabilidades e deveres nas relações entre americanos e brasileiros.

Mas nós só estávamos participando daquele bate-papo como espectadores.

Uma omissão no mínimo estranha para quem participará em breve de um encontro da principal entidade intergovernamental do hemisfério.

Mas a negligência parece indicar o quão prioritária a América Latina será para o governo de Barack Obama.

A maior curiosidade, claro, era saber se Hillary irá ou não ao Brasil ao final deste mês, como já havia sido divulgado até mesmo por fontes no Itamaraty.

O Departamento de Estado não confirmou a viagem ou uma possível data. E como não podemos falar com a chefona, não tivemos como dar qualquer sinalização de que sim ou não ou de onde ou quando.

A residência de Hillary Clinton aqui em Washington fica a poucos metros da Embaixada do Brasil, mas, pelo visto a proximidade é mero acaso.

Hoje pela manhã, os Estados Unidos pareceram estar mais longe do que nunca da América Latina.

Parem as máquinas!

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Bruno Garcez | 17:02, terça-feira, 12 maio 2009

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Quem ligou a TV nos Estados Unidos por volta de 11h da manhã do horário de Washington nesta quinta-feira, poderia pensar que Carrie Prejean era a chefe de Estado americana.

Mas o único título que Carrie possui é o de Miss Califórnia e mesmo este esteve ameaçado até esta terça-feira, quando o magnata Donald Trump, organizador do concurso de miss, anunciou, para júbilo da nação, que ela iria manter a sua coroa.

Carrie corria o risco de ser destronada porque teria violado os princípios do concurso, ao ter feito fotos sensuais quando tinha apenas 16 anos, nas quais pode ser vista com as costas desnudas e com os braços encobrindo os seios.

A emotiva entrevista da miss nesta terça-feira, ao lado de Trump, foi destaque nos principais canais de notícias. CNN e Fox exibiram-na na íntegra.

Carrie e Trump aproveitaram para justificar a realização das fotos. As imagens são lindas, de acordo com o magnata. Ela tinha tinha apenas 16 anos e as fotos não haviam sido destinadas à publicação, justificou-se a miss.

Mas Carrie também não deixou de tratar de outra polêmica na qual esteve envolvida e que alçou-a à fama nacional, mas que pode ter lhe custado a coroa de Miss América, cujo disputa ocorreu em abril deste ano.

Ela se disse vítima de uma campanha de ódio, desde que respondeu ser contrária ao casamento gay, em uma pergunta feita por um dos jurados do concurso.

O autor da pergunta, o jornalista de celebridades assumidamente gay Perez Hilton, depois postou no youtube um ataque contra a miss, acusando-a de ser uma ''p...estúpida''.

Carrie, na verdade, não fez um ataque aos homossexuais em sua resposta, pelo contrário, frisou que não queria ofender ninguém, mas que, por formação, acreditava que o casamento era um ato entre um homem e uma mulher.

No clima altamente polarizado das emissoras de TV a cabo americanas, a liberal MSNBC passou a atacá-la e a Fox News assumiu a sua defesa de forma ardorosa.

Agora, Carrie não habita apenas as passarelas dos concursos de beleza, mas passou também a ser uma celebridade do mundo de notícias.

Dou de barato que em breve ela irá assinar algum livro ou apresentar um talk show.

A miss pode ter deixado de se sagrar a mais bela dos Estados Unidos, mas parece ter conseguido muito mais do que isso. E as emissoras de TV do país agradecem.

Faça o que eu digo, mas...

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Bruno Garcez | 16:05, sexta-feira, 8 maio 2009

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_44978655_ap_republican_bristol203x30.jpgA campanha por abstinência sexual entre adolescentes acaba de ganhar uma garota-propaganda de peso, Bristol Palin, a filha da governadora do Alasca e candidata derrotada à vice-presidência pelo Partido Republicano, Sarah Palin.

Durante um evento organizado por uma entidade que visa reduzir a gravidez entre adolescentes, Bristol, de 18 anos, disse que ''a abstinência é a única maneira pela qual você pode estar 100% prevenida contra a gravidez''.

Mas ela também acrescentou: ''Independentemente do que eu fiz...''.

E o que foi que ela fez?

Ah, sim, em setembro do ano passado, Sarah Palin anunciou ao mundo que Bristol estava grávida, poucos dias após ter sido escolhida como candidata a vice na chapa de John McCain.

Três meses após o nascimento de seu menino, batizado como Tripp, Bristol chegou a dizer, em uma entrevista, que os adolescentes deveriam evitar o sexo, mas que pregar a abstinência ''não é nada realista''.

Ao contrário de Bristol, que mudou subitamente de opinião, o pai de Tripp, o ex-namorado Levi Johnston, ainda pensa como ela costumava pensar.

Johnston afirmou à rede CBS que ''dizer aos jovens: 'você não pode ter sexo', não vai funcionar''.

Ele também defendeu o uso de preservativos e frisou que ele e Bristol na época do namoro fizeram uso regular destes, mas, numa certa ocasião, a camisinha falhou.

Ou seja, Bristol, que atualmente prega a abstinência, deixou de ser casta e pura não em uma ocasião fortuita, não em um ardor do momento, nem em um ligeiro deslize que nunca voltou a se repetir, mas sim em diversas ocasiões.

Agora, ela mudou de opinião. E as pessoas, naturalmente, estão sujeitas a modificar seus pontos de vista.

Mas o fato de que Sarah Palin é uma das grandes esperanças da ala direita do Partido Republicano e que tem claras pretensões de disputar a presidência americana em 2012 talvez tenha ajudado a filha a refletir um pouco mais sobre o que diz em público.

A vida imita a arte

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Bruno Garcez | 06:47, terça-feira, 5 maio 2009

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Era uma noite de segunda-feira tranquila na capital americana.

O relógio havia há pouco passado da meia-noite. A chuva, após ter castigado a cidade pelo dia inteiro, resolvera dar um descanso.

Eu não conseguia dormir, então resolvi começar um livro. Quando cheguei à página 15, ouvi uma gritaria vinda da rua.

''Eu só tenho 20 dólares'', girtou um sujeito.

O outro murmurou qualquer coisa, mas não consegui ouvir. Fui até a janela e vi um vulto correndo em direção à ruela em frente ao apartamento onde vivo. E, depois, um carro dando partida.

Não pensei duas vezes. Resolvi ligar para o 911, o número do serviço de emergências americano. Nisso, já era pouco mais de meia-noite e meia.

Às 12h38, duas viaturas pararam em frente ao meu prédio. ''Foi você que ligou para a polícia?``, me perguntaram quando apareci na janela.

Desci, e conversei com o oficial Hambrick, um mulato claro com cabelo rasta e aparência similar à do rapper Ice-T. Coincidência ou não, Ice-T é protagonista da série Law and Order.

Ele ouviu e anotou o meu relato e pegou meus dados: Garcez, Bruno, endereço e telefone.
`
Era por volta de 1h15 e eu continuava sem conseguir dormir. Retomei a minha leitura.

Mas o oficial Hambrick voltou a aparecer diante de meu edifício, para contar que eles haviam encontrado um suspeito e indagar se eu aceitaria tentar fazer um reconhecimento.

Entrei na viatura e fui conduzido a uma rua onde estavam outros carros de polícia. A coisa aí começou a lembrar cena da série The Wire .

O oficial Hambrick pediu que eu me abaixasse no banco, então gritou, como nos bons seriados: ``Where`s the one?``, algo como ``Cadê o cara?``.

Em seguida, ele me explicou o que iria acontecer. Os seus colegas trariam para perto de nosso carro os dois suspeitos, mas antes lançariam em direção do rosto deles a forte luz de seus holofotes, a fim de que eu pudesse vê-los e eles não pudessem me enxergar.

Os dois suspeitos, ambos afro-americanos jovens, usavam roupas escuras semelhantes às do vulto que vi entrando na ruela. Então, poderia ser qualquer um dos dois. Logo, não fui capaz de reconhecer ninguém com certeza.

''Não queremos colocar palavras na sua boca'', me assegurou o sargento, ou ''Sarge'', como o chamou o ofical Hambrick.

Após o reconhecimento, ele me levou de volta ao meu prédio, informando que eu poderia ser chamado novamente pela detetive ou por representantes da procuradoria-geral dos Estados Unidos, para um depoimento ou uma entrevista telefônica.

O oficial Hambrick ao se despedir, cravou um ''agradecemos a sua ajuda'', ou, no original, ''We apreciate your help'', fala que eu já devo ter escutado em algum episódio de CSI Miami.

Me lembro certa vez de haver conversado com um amigo que reside aqui, mas que também não é americano, se a maneira como as pessoas nos Estados Unidos costumam falar, às vezes terminando as frases com uma interrogação, teria surgido por influência das séries de TV ou se foi o caminho inverso.

Depois de ver a polícia americana em ação, fiquei me perguntando se os homens da lei daqui se inspiram nos filmes policias ou se é o contrário.

São 2h38, eu não consigo dormir...

E um carro de polícia acaba de parar novamente em frente ao meu edifício...

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