Yvo de Boer: da ONU ao jardim de casa
Das bandeirosas camisas estampadas de Bali aos sóbrios ternos e gravatas da KPMG, o diplomata Yvo de Boer é um homem que se adapta às situação. Quando o encontrei para a nossa primeira entrevista cara-a-cara, ele já era um velho conhecido de incontáveis coletivas, desde 2007, ano em que comecei a cobrir as conferências de clima anuais da ONU.
Vi quando ele chorou, derrotado pela pressão de todos os lados por um acordo. A gota d'água, dizem, foi a acusação da delegação chinesa de que ele estaria tramando um acordo pelas costas da delegação. Boer nega veementemente. Como se sabe, a história teve final feliz, quando os Estados Unidos capitularam e fecharam o que ficou conhecido como Plano de Ação de Bali.
Este talvez tenha sido o auge da carreira de Yvo de Boer na ONU. Depois do choro, as palmas.
Depois vieram Poznan, na Polônia, sem grandes expectativas ou progressos, e o fracasso retumbante de Copenhague. Perguntei o que ele mudaria na sua atuação em 2009, agora que conhece o fim da história.
"Não muita coisa, acho. Nos dias e semanas anteriores ao encontro houve uma guinada geral no sentido de uma declaração política, que foi o que tivemos no final, na forma do Acordo de Copenhague. É a dinâmica política do processo", disse.
Mais leve
Processo que ele admite ter pesado nas suas costas. De fato, a impressão que ele passa pessoalmente é de realmente estar mais leve. Geralmente circumspecto, o holandês educado em escola particular na Grã-Bretanha até gargalhou durante a entrevista, quando insisti em lhe perguntar sobre o seu futuro.
"Bom, dentro de dez anos, me vejo trabalhando no meu jardim e jogando golfe", brincou.
Em seguida, após risos, acrescentou achar "saudável" encarar novos desafios a cada quatro ou cinco anos. Como já trabalhou no setor governamental e agora está no privado, as opções são limitadas.
"Suponho que agora ou tenha que ser uma organização não-governamental ou na política."
Por enquanto, ele deve se dedicar por fazer o lobby das empresas particulares interessadas em uma regulamentação internacional sobre emissões, para que possam traçar suas estratégias de longo prazo.
À frente da Convenção para Mudanças Climáticas, Yvo de Boer saiu antes de poder comemorar o sucesso de um acordo pós-Kyoto. Mesmo despistando, a impressão que tive é que depois dessa passagem pela iniciativa privada e antes de se dedicar à jardinagem, de Boer decida limitar a sua área de atuação à Holanda para finalmente ter a chance de ver consequências mais imediatas para suas ações.