O paraÃso foodie e o maçunim
Voltei de férias no Brasil, esse paÃs que muita gente diz estar "bombando". Tem coisas que não estão "bombando" - o ritmo do avanço do metrô em São Paulo e a organização no aeroporto de Cumbica, por exemplo - mas o interesse por comida e por gastronomia certamente está.
Eu já tinha notado que não há um portal na internet que não tivesse aumentado nitidamente o espaço dado a receitas e blogs sobre o assunto. Agora notei que nas TVs são mais numerosos os programas de chefs nacionais e internacionais (Anthony Bourdain, Jamie Oliver e outros que não conhecia e infelizmente não guardei o nome) e que em breve teremos no Brasil canais a cabo exclusivos dedicados a comida, a exemplo do que já ocorre aqui e nos EUA.
Os grandes jornais estão começando a trazer cadernos especiais - como o excelente 'Paladar' do Estado de São Paulo.
Na recente Bienal do Livro, os lançamentos de gastronomia e afins ocuparam, pelo que fui informado, quase um terço do espaço de exposição. No carro (olha as vantagens do trânsito), pude acompanhar a cobertura da Bienal por três estações de rádio diferentes, e ouvi chefs, enólogos, especialistas em carnes e café, todosÌý relatando exemplos sobre a mudança de hábitos dos brasileiros, que seriam hoje muito mais preocupados com a qualidade e procedência do que consomem e mais interessados em comidas bem feitas.
São Paulo é, na boa, um paraÃso dos foodies. Qualquer feira de rua é um desbunde, um show de frutas, verduras, legumes e pastéis.
Na oferta e variedade de restaurantes, a cidade rivaliza mole com metrópoles como Nova York e Londres.
Senti que 'fusion' e comida nordestina começaram a ficar mais em moda - mas bom mesmo foi tirar a barriga da miséria no bairro da Liberdade, que parece cada vez mais com Tóquio.
E um programa obrigatório para foodies em São Paulo é aproveitar a Restaurant Week (tem uma começando agora, no dia 30). Por pouco mais de uma semana, vários dos melhores restaurantes da cidade oferecem um menu fechado a um preço módico único (R$ 30 o almoço e R$ 40 o jantar).
Pelo que ouvi do dono de um desses restaurantes e por pessoas que tiraram proveito da última Restaurant Week, todos saem ganhando no esquema.
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Já em Alagoas, onde passei uma semana, tive experiências mistas.
Na Praia do Gunga, sentado numa mesa ao lado de coqueiros, com pequenas ondas do mar lambendo meus pés, comi as melhores ostras da minha vida - pequenas, fresquinhas, servidas com limão e sal.
Por outro lado, nos restaurantes de Massagueira, o grande polo gastronômico à beira da lagoa de Manguaba, perto de Maceió, achei os peixes e as peixadas decepcionantes.
Mas na Barra de São Miguel, na praia, fiz uma descoberta curiosa.
Tem um fruto do mar que é comum na Inglaterra, as cockles, servidas cozidas em potinhos, geralmente acompanhadas apenas de vinagre, encontradas em peixarias e barracas ou estandes em cidades costeiras, que eu nunca tinha visto em São Paulo ou no Rio.
Mas ele é comum em Alagoas, onde se chama "maçunim".ÌýÉ servido em caldo, bobó ou moqueca.Ìý