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Uma eleição curta, discreta e diferente

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Daniel Gallas | 16:18, quarta-feira, 28 abril 2010

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london226.jpgEsta é a primeira eleição britânica que estou presenciando desde que me mudei para cá. Mas se eu não fosse jornalista, ligado toda hora na televisão, internet e jornais, acho bem provável que talvez eu sequer percebesse a campanha eleitoral.

A campanha aqui é curta e bastante discreta. Até o começo do mês, a eleição sequer tinha data marcada. No começo de abril, o primeiro-ministro Gordon Brown convocou o pleito nacional para o dia 6 de maio. Os eleitores têm um mês para tomar conhecimento das plataformas dos candidatos.

Nas ruas, não existem muitos sinais da campanha. Não há cartazes colados em todo o canto e nem comícios e passeatas, como é comum no Brasil. A forma mais visível de perceber as eleições são os "santinhos" deixados na minha casa, mas confesso que os confundo com a quantidade enorme de propagandas de tele-entrega e pedidos de doações para caridade.

A grande inovação desta disputa eleitoral tem sido os debates de candidatos na televisão, que até este pleito era inédito aqui. Mesmo sendo comuns no Brasil, eles ainda são muito diferentes do que nós brasileiros estamos acostumados.

Para os britânicos, o debate eleitoral já provocou uma mudança grande. Graças ao seu desempenho no primeiro debate, o liberal-democrata Nick Clegg, um azarão antes do começo da disputa eleitoral, passou a ser um dos favoritos na disputa contra o trabalhista Gordon Brown e o conservador David Cameron.

Para mim, a novidade foi ver o quanto é possível distinguir as posições de cada candidato em cada um dos assuntos. Nos debates de candidatos à Presidência que me lembro de ver no Brasil, nem sempre era fácil diferenciar as propostas e posições de cada candidato sobre os temas da eleição, tamanha a ambiguidade dos discursos eleitorais.

Conversando com alguns amigos britânicos, ouvi deles que a maior dificuldade dos eleitores aqui não é identificar claramente as ideologias de cada um, mas sim achar o "candidato perfeito".

Ou seja, achar o candidato que o eleitor julga ser mais compatível com suas ideias nos principais temas - economia, impostos, Afeganistão e Iraque, União Europeia e imigração. Nick Clegg e Gordon Brown, por exemplo, têm posturas mais comuns entre si do que David Cameron quando o assunto é integração britânica na União Europeia. Mas sobre o programa nuclear britânico, Brown está mais próximo de Cameron. O problema de se achar o candidato ideal, para meus amigos britânicos, é quase matemático: quem somar mais pontos ganha o voto.

Outra particularidade daqui é a dificuldade de se escolher entre interesses locais das nacionais. Na hora de votar, o eleitor escolhe apenas o político que representará o seu distrito no Parlamento, cabendo ao Legislativo depois escolher o primeiro-ministro. O partido com maioria elege o primeiro-ministro.

Em alguns casos, o eleitor pode ficar diante de um dilema, se ele tiver simpatia pelo candidato a primeiro-ministro de um partido, mas não gostar do candidato ao Parlamento que representa aquele partido no seu distrito.

Por fim, um elemento raro desta disputa eleitoral é a imprevisibilidade. A cada semana, as projeções de resultados mudam, e hoje, a uma semana do pleito, não há indícios claros do que vai acontecer. Aliás, o voto não é obrigatório, então não se sabe nem exatamente quantos eleitores terão disposição para ir às urnas na quinta-feira, dia 6 de maio.

Verdadeiramente ilhados

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Maria Luisa Cavalcanti | 13:27, sexta-feira, 16 abril 2010

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Costumo dizer que viajar de avião é uma dessas situações únicas em que não temos controle nenhum sobre nossas vidas. Somos obrigados a cumprir com horários e regras, nos deixamos levar por ordens das mais descabidas, perdemos nossos pertences de vista e, finalmente, confiamos nossa existência a ilustres desconhecidos, que, como nós, alguns dias estão de bem com seus trabalhos, outros dias nem tanto.

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Diante disso, não ajuda nada o fato de a Grã-Bretanha ser uma ilha. Avião aqui não só é a maneira mais rápida de se chegar a outros países, como também é a mais prática e a mais barata.

Basta, então, fazer a matemática. Ter que viajar de avião + não ter controle sobre a viagem = virar refém do que os outros querem e decidem.

E agora as autoridades britânicas decidiram que as cinzas lançadas por um vulcão na Islândia representam um risco para os aviões. Ninguém entra, ninguém sai.

Meu pai, que voltaria a Londres ontem à noite após um giro pelo Leste Europeu, não entrou. Meu marido, que partiria para o sul da França a trabalho, não saiu.

Se fosse só isso, estava razoável. Mas ambos perderam a quinta-feira tentando achar caminhos alternativos para chegar onde precisavam.

Meu pai, entusiasta de aviões, aviação e companhias aéreas, estava lidando com a situação calmamente. Depois de uma viagem de quatro horas de Praga a Berlim, foi até o aeroporto da capital alemã, onde descobriu que só conseguiria embarcar no sábado. Ele ainda tentou achar voos e trens para Paris ou Bruxelas, mas estava tudo lotado.

Meu marido, que já sobreviveu a um pouso de emergência e, obviamente, odeia voar, está até hoje inconformado. Tinha uma passagem de uma companhia aérea low-cost, cujos website e linhas telefônicas não funcionavam para que ele pudesse remarcar seu voo. Quando finalmente conseguiu, não havia mais lugares para nenhum dia até a segunda-feira, quando já teria que estar na França para dar uma palestra de manhã cedo. A opção de ir de trem se dificultou por uma greve geral dos ferroviários franceses e pelas poucas passagens a preços até quatro vezes mais altos que o normal. A saída foi simplesmente desistir.

Eu, por tabela, estou sofrendo também. Agora que a nuvem de cinzas está chegando à Alemanha, começo a duvidar se meu pai estará aqui para o almoço de domingo. Ou pior: para o voo que parte para o Brasil na terça-feira que vem. Meu marido, ao ter de cancelar a palestra, praticamente fechou a porta para uma importante colaboração em sua carreira.

Sei que o fenômeno das cinzas pegou a Europa toda de surpresa, e que não voar é uma decisão crucial para a segurança dos passageiros. Mas o que me impressiona é como os aviões ainda estão submetidos às chamadas "forças da natureza" - e como nós dependemos cada vez mais deles.

O metrô nosso de cada dia

Babeth Bettencourt | 14:52, terça-feira, 30 março 2010

Comentários (15)

O metrô de Londres, ou "tube", como é carinhosamente chamado na cidade, é presença constante na vida dos moradores da cidade. Com um dos sistemas mais movimentados do mundo, ele transporta cerca de um bilhão de passageiros por ano. Não é a toa que, na hora do rush, ele se assemelha muito a uma lata de sardinhas.

Mas apesar da lotação, o metrô é a verdadeira mão na roda para quem quer chegar a algum lugar. Com 270 estações, ele chega a quase todos os cantos da grande Londres e, onde não chega, em geral tem uma conexão por ônibus ou trem.

Tudo isso é bom, mas para mim, a melhor coisa do metrô é olhar as pessoas e o modo como elas tomam conta do espaço.

Dependendo do horário, o público é completamente diferente. Os engravatados da manhã, classes inteiras de escola primária com suas professoras durante a tarde, os bêbados depois da happy hour, os festeiros da noite... todos circulam, em geral, com um livro ou jornal na mão e sem olhar uns para os outros.

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Alguns anos atrás, o prefeito de Londres, Boris Johnson, chegou a proibir o consumo de bebidas alcóolicas a bordo e, na véspera da decisão entrar em vigor, os mais animados convocaram uma mega festa, conclamando todos a comparecerem com suas latinhas de cerveja nos vagões!

Nos fins de semana, o cenário muda, com os turistas tomando conta. Eu já vi gente sem sapato e cheio de ressaca, voltando para casa no sábado de manhã (os trens param de circular por volta da meia noite, deixando muita gente "de castigo"). Uma delas, inclusive, dormia enconstada na parede, chupando o dedo...

Também já vi casais de black tie indo para a Ópera e eu mesma já peguei o tube toda embecada para ir a um casamento. Isso tudo convive com os cachorros citados pela Maria Luisa Cavalcanti (sim, eles também andam de metrô), os mendigos que pedem esmolas nas escadas, os ativistas fazendo campanha, os corredores de qualquer maratona realizada na cidade e os torcedores de praticamente todos os times de futebol.

Ouve-se tudo quanto é língua, não só de turistas mas também de muitos moradores desta cidade tão multi-cultural e acompanhar as conversas em português de outros lusófonos desavisados é uma das minhas diversões prediletas. Até cantadas já vi, e não é para menos. Com tanta gente circulando todos os dias, numa proximidade maior do que o comum, a brecha se abre...

Além dos passageiros, no entanto, os motoristas também ocupam seu espaço. Pelo alto-falante, eles tentam botar ordem na turba, com o fino humor britânico.

Outro dia, um passageiro foi envergonhado em público, por segurar a porta do trem. Do sistema de alto-falantes veio a voz: "por favor, você que está segurando a porta, largue-a. Você está botando a segurança do trem em risco e não nos deixa sair do lugar".

A frustração também vem à tona, como no dia em que uma estação estava fechada e o motorista anunciou, visivelmente irritado: "Sinto muito em informar que a próxima estação está fechada e não vamos parar nela. Sei o quão frustrante é saber disso apenas na última hora, e também não consigo entender por que ninguém avisou a gente antes".

Num dos momentos "lata de sardinha", o comentário veio, com voz calma e paciente: "Por favor, senhores passageiros, queiram se mover para onde há espaço dentro do vagão. E não tenham medo, um estranho é apenas um amigo que você ainda não conheceu".

É nessas horas que os passageiros, normalmente ensimesmados, de repente se olham e riem juntos da piada... e aí rola de novo a brecha.

Portanto, a dica é: se vier a Londres, na hora de pegar o metrô (que você certamente vai pegar), não faça como os passageiros de sempre e olhe bem em volta. Tem sempre uma cena divertida. Se você já tiver presenciado, envie para a gente sua história!

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