Verdadeiramente ilhados
Costumo dizer que viajar de avião é uma dessas situações únicas em que não temos controle nenhum sobre nossas vidas. Somos obrigados a cumprir com horários e regras, nos deixamos levar por ordens das mais descabidas, perdemos nossos pertences de vista e, finalmente, confiamos nossa existência a ilustres desconhecidos, que, como nós, alguns dias estão de bem com seus trabalhos, outros dias nem tanto.
Diante disso, não ajuda nada o fato de a Grã-Bretanha ser uma ilha. Avião aqui não só é a maneira mais rápida de se chegar a outros países, como também é a mais prática e a mais barata.
Basta, então, fazer a matemática. Ter que viajar de avião + não ter controle sobre a viagem = virar refém do que os outros querem e decidem.
E agora as autoridades britânicas decidiram que as cinzas lançadas por um vulcão na Islândia representam um risco para os aviões. Ninguém entra, ninguém sai.
Meu pai, que voltaria a Londres ontem à noite após um giro pelo Leste Europeu, não entrou. Meu marido, que partiria para o sul da França a trabalho, não saiu.
Se fosse só isso, estava razoável. Mas ambos perderam a quinta-feira tentando achar caminhos alternativos para chegar onde precisavam.
Meu pai, entusiasta de aviões, aviação e companhias aéreas, estava lidando com a situação calmamente. Depois de uma viagem de quatro horas de Praga a Berlim, foi até o aeroporto da capital alemã, onde descobriu que só conseguiria embarcar no sábado. Ele ainda tentou achar voos e trens para Paris ou Bruxelas, mas estava tudo lotado.
Meu marido, que já sobreviveu a um pouso de emergência e, obviamente, odeia voar, está até hoje inconformado. Tinha uma passagem de uma companhia aérea low-cost, cujos website e linhas telefônicas não funcionavam para que ele pudesse remarcar seu voo. Quando finalmente conseguiu, não havia mais lugares para nenhum dia até a segunda-feira, quando já teria que estar na França para dar uma palestra de manhã cedo. A opção de ir de trem se dificultou por uma greve geral dos ferroviários franceses e pelas poucas passagens a preços até quatro vezes mais altos que o normal. A saída foi simplesmente desistir.
Eu, por tabela, estou sofrendo também. Agora que a nuvem de cinzas está chegando à Alemanha, começo a duvidar se meu pai estará aqui para o almoço de domingo. Ou pior: para o voo que parte para o Brasil na terça-feira que vem. Meu marido, ao ter de cancelar a palestra, praticamente fechou a porta para uma importante colaboração em sua carreira.
Sei que o fenômeno das cinzas pegou a Europa toda de surpresa, e que não voar é uma decisão crucial para a segurança dos passageiros. Mas o que me impressiona é como os aviões ainda estão submetidos à chamadas "forças da natureza" - e como nós dependemos cada vez mais deles.
dzԳáDzDeixe seu comentário
Muito infeliz este texto em vários aspectos. Primeiro, está muito pessoal e cheio de particularidades nele. Segundo, todos os meios de transporte estão submetidos a forças da natureza. Digamos que você vá no seu carro e um ponto da estrada é derrubado por uma forte enxurrada o que você faz? Espera o governo arrumar ou procura outra rota não é? E de navio? Se o mar estiver muito agitado o que se faz? Espera-se um melhor tempo...Viu? Não são somente os aviões que têm esse tipo de problema. Terceiro, os fatos revelados neste texto são tão pequenos e insignificantes que realmente não entendo como foi vinculado pela ̳, as autoridades européias estão preocupadas com as vidas de seus passageiros por más condições de vôo, e você me faz um texto infeliz para criticá-los por causa de particularidades de seu pai e seu marido? Tenha dó!!!
Junte-se a tudo isso o final das ferias de pascoa e o respectivo retorno de todas as criancas as aulas na segunda-feira e vera o caos crescer. E muito.
concordo com o comentário de carolli.
o trecho "Mas o que me impressiona é como os aviões ainda estão submetidos à chamadas 'forças da natureza'" é por demais infeliz!
no planeta terra, tudo e todos estamos submetidos à forças da natureza! e como seria diferente???
É...o texto foi infeliz mesmo. Minha esperança é que este não tenha sido escrito por uma jornalista, mas sim por apenas mais uma das milhares de pessoas afetadas pelos desastres naturais que, muitas vezes, nós mesmos causamos.
Concordo com o primeiro comentário, admira-me ver um texto tão fútil na ̳!
Não existe, nem jamais vai existir, um meio de transporte totalmente imune a "forças da natureza". Nos EUA, as pessoas tiveram sérios problemas por causa das nevascas; aqui no Brasil, nós tivemos sérios problemas por causa da chuva, ou seja: esse tipo de coisa acontece em todo lugar.
Felizmente, vocês têm governos bem mais preocupados do que nós. Apesar dos problemas e das enchentes, não houve dezenas, centenas, milhares de vítimas como em outros lugares; e os governos daí já estão se prevenindo para possíveis futuros problemas.
Francamente, esse post é, como se diz no Brasil, "reclamar de barriga cheia"!
Isso é um blog. E é nos blogs que as pessoas expressam suas opiniões e experiência. Quer ler notícias (imparciais e impessoais) vá à notícias...
Quanta frivolidade. Meu pai não vem meu marido não vai, meu almoço não vai dar certo, por causa de um vulcão! Ora embarque no Titanic, se quer uma máquina perfeita!
Fico imaginando se esse caso estivesse ocorrendo no Brasil. Parte da mídia agora estaria culpando o governo, o Estado, e nosso terceiro mundismo, por não sermos iguais aos países do hemisfério Norte. E nossa classe média a proferir opiniões pessoais como verdades absolutas ao governo, culpando-no até por todos os azares de nossa historia. A aviação é um ramo frágil do capitalismo, pois lida com fatores além da projeção humana. O acidente da Tam, em Congonhas SP, em 2007, demonstrou que a opinião pública brasileira - leia-se classe média moralista e os cartéis midiáticos - é completamente sentimentalista e temperamental, fazendo juízo de coisas e fatores até então desconhecidos da maioria. Se fechássemos nosso espaço aéreo por causa de um fenômeno natural remontaria ao mesmo cenário do acidente de 2007, do Airbus da Tam: o governo seria o culpado, não importa a razão.
Estou em Madrid, com a possibilidade de embarcar para Londres somente no próximo domingo, dia 25. Trem está fora de questão devido aos custos (e nem sabia da greve na França!). Começaria um curso em Birmingham na segunda, dia 19, mas se a escola não considerar essa situação, que imagino deve afetar outros estudantes, posso perder o curso já pago por oito meses.
ESSE VULCÃO ESTÁ PREJUDICANDO TANTO SUA IMPORTANTÍSSIMA FAMILIA. ORDENA A NATUREZA QUE PARA COM ISSO.
Obrigada pelos comentários.
Desde o início do caos aéreo na Europa, relatos pessoais estão inundando a imprensa britânica, brasileira e do resto do mundo.
São histórias de famílias separadas, de férias perdidas, de negócios que deixaram de ser fechados, de casamentos cancelados e por aí vai.
O blog London Talk é o espaço para que jornalistas da ̳ Brasil comentem suas experiências no dia-a-dia da cidade. E meu post foi apenas uma ilustração da situação.
a impressão que dá é que pouca gente sabe o que é 'blog'...
que droga! este blog é realizado pelos jornalistas brasileiros da bbc para relatarem experiencias pessoais. isso nada tem a ver com parcialidade; o mesmo se diga ao post sobre cachorros no metrô de londres. se ela escrever que odeia animais, já estou até lendo a mesma corja de chatos pestiando a caixa de mensagens daqui.
vão comentar naquele jornal paulista que se diz o maior jornal do país. lá sim é a casa da classe média chata.
Santo dio! Fazer greve nos transportes nessa hora de crise prejudicando a população. Onde é que esses sindicalistas franceses estão com a cabeça??
ã Valentin
Eu defendi ela no texto sobre os cachorros no metrô, mas nesse aqui não dá.
Ficar esperneando porque um vulcão impediu o marido dela de viajar é muita infantilidade. Não é o mesmo que alguém reclamar das chuvas porque perdeu a casa, por exemplo. Não tem nem comparação.
E o caos aéreo no Brasil foi completamente diferente. Uma coisa é falta de infraestrutura, algo com o qual podemos lidar e evitar; outra coisa é a erupção de um vulcão.
Mesmo que esse blog estivesse no blogspot, ainda assim seria muita criancice, mas ele não está. Está no site da ̳!
O que muda, nesse caso, é a linguagem, que se torna mais pessoal e subjetiva, e não os rigores da prática jornalística. O jornalista tem que estar ciente que o leitor/público/usuário vai cobrar isso.
Pôxa, eu vou defender a colega aqui. Acho que as críticas estão pegando pesado. Uma coisa é discordar do post, outra coisa é querer desqualificar. Acho que tem gente aqui precisando aprender a conviver com pontos de vista diferentes.
A gente aqui na ̳ e em toda a imprensa vive noticiando as desgraças vividas pelas outras pessoas -- gente que teve suas "férias na Europa" arruinadas e coisa do tipo. Por que a experiência da colega que escreveu o post é menos valiosa? Por que é criancice? Acho que deixar de ver a família, para quem mora longe, é pior do que ter as férias arruinadas. Mas enfim, o que é melhor ou pior depende do entendimento de cada qual.
Quanto à questão da opinião... sinceramente, não vejo problema nenhum. Não foi um blog ofensivo, não fala mal de ninguém, simplesmente fala de um problema novo, que é o fato de a crise ter sido causada por uma coisa impalpável como as forças da natureza. Claro, todos estamos submetidos a elas, mas vá lá explicar isso a quem quer cobrar do seguro as noites de hotel que está gastando no exterior, enquanto as seguradoras dizem que o seguro não cobre despesas oriundas de "razões naturais".
A verdade é que nesse negócio aéreo tradicionalmente há um culpado -- o governo, os controladores de voo, a companhia aérea, a crise econômica, o engenheiro que esqueceu de apertar um parafuso. Dessa vez vamos fazer o quê, reclamar com o vulcão? Isto é, se alguém conseguir pronunciar o nome do dito cujo.
Pablo.
Olá, Newton. Obrigada pelo comentário. Falha minha: diante da gravidade da crise aérea, os ferroviários franceses suspenderam a greve na última sexta-feira. A SNCF, que administra os trens da França, inclusive colocou mais veículos nas rotas mais movimentadas.
Pablo
Disseste exatamente o que as pessoas que reclamaram do post disseram: como culpar um vulcão?
Admiro o(s) governo(s) europeu(s) por se preocuparem com os passageiros e fecharem o espaço aéreo quando necessário, apesar da pressão da IATA (e afins) que estão perdendo muito dinheiro. Fizeram o que precisaram fazer.
Ninguém morreu; ninguém perdeu tudo; e os passageiros europeus são cheios de regalias por causa da legislação da União Européia (digo isso de acordo com uma notícia vinculada aqui na ̳ no dia 21/04); mas, enfim, tragédia depende do entendimento de cada um.
E críticas fazem parte da blogosfera. Comparando com outros blogs e notícias que possibilitam os comentários, os daqui são bem educados. Pelo menos não tem nenhum comentário de baixo calão.
Abraços =]
Bel.A
Ainda considero o fato de aqui ser um espaço dedicado à experiências pessoais dos jornalistas da ̳ Brasil em Londres. Apesar de o não estar na blogoseira, mas na ̳ Brasil, o mote do blog ainda permanece: relatos pessoais de brasileiros da ̳ na capital inglesa. Nada a ver com jornalismo e suas regras. Ainda bem que temos a ̳ Brasil (gostaria que tivéssemos todos os canais da ̳ por aqui também :(), diferentemente das outras mídias brasileiras que são dotadas de certa mediocridade provinciana, a mesma de nossa sociedade.
E eu quis dizer sobre essa mediocridade, e não do "caos" aéreo brasileiro. Culpa-se o governo até por conta do nosso existencialismo de terceiro mundo, de nossos azares. Se tivéssemos na mesma situação, governo e Estado seriam sim julgados por ambas (sociedade e mídia), mesmo num cenário inversível de forças naturais adversas; não temos condições de ficar abrindo por aí aeroportos como o Heathrow, e muito menos altas concorrências de companhias aéreas para acelerarmos nosso desenvolvimento no cenário aeroespacial. Não sou partidário de coisa alguma, mas sou entusiasta de aviação, e é terrível ver como nossa sociedade ainda está nas trevas de uma opinião mesquinha e sem nenhum embasamento técnico. E aquele grupo "Cansei" nasceu dessa mediocridade típica de classe média.
ã
ã Valentin
Entendo tua frustração com a classe média, mas não o que isso tem a ver com os comentários. Acho que todos concordaram que, quando se trata de um vulcão, não tem muito o que um governo possa fazer, a não ser tomar medidas de prevenção. Geralmente elas atrapalham o dia-a-dia das pessoas, mas é o preço para não arriscar vidas.
Quanto ao texto da ̳ ser pessoal, publicar algo em um blog, de empresa jornalística ou não, é como falar com as pessoas "ao vivo". Às vezes as pessoas concordam, à vezes não; não dá para ficar ofendido porque discordaram da opinião exposta. Quem comenta, como nós, também corre o risco de ter opiniões contrárias a sua. Eu comentei sobre teu comentário e tu comentaste sobre o meu. Não é uma questão de concordar, mas de dialogar. E é justamente esse diálogo a característica mais legal da web.
Abraços =]
Um update na minha história e passemos para outra: meu pai chegou a São Paulo na terça-feira, uma semana depois do previsto. Seu voo partindo de Londres no dia 20 de abril foi o último a ser cancelado pela TAM diante do caos aéreo e, inicialmente, a empresa ofereceu um lugar para 4 de maio. Finalmente, após uns dias de espera, ele encontrou um assento no voo que saiu na última segunda-feira.
A vinda da Alemanha para Londres, no entanto, não foi tão simples. Depois de esperar cinco dias pela reabertura dos espaços aéreos, ele acabou pagando do próprio bolso três passagens de trem, entre Hamburgo, Colônia, Bruxelas e Londres. Ainda não sabemos se a Lufthansa vai reembolsar seus gastos.
Neste tempo todo, o que mais preocupou meu pai, que é cardíaco, foi ficar sem seus remédios, que estavam acabando. As férias que foram planejadas há um ano foram atrapalhadas, mas não estragadas. No fim, nós, que nos vemos apenas duas vezes por ano, pudemos curtir uns dias a mais juntos.
Este foi apenas um simples exemplo do impacto que o cancelamento de voos e o fechamento dos espaços aéreos tiveram sobre a vida de milhares de pessoas. Espero que todas tenham conseguido ir ou voltar para onde queriam sem grandes problemas.