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"E esse tempo, hein?"

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Carolina Oliveira | 2009-04-10, 18:53

Quem já não passou meia hora conversando com um estranho em uma festa, para depois perceber que, no final das contas, não passou de conversa fiada e nada muito interessante foi falado ou descoberto?

Aqui em Londres uma coisa que se respeita muito é o espaço de cada indivíduo. Sendo assim, conversas com estranhos podem ser um pouco limitadas a assuntos mais superficiais. Conversas do tipo "Então, o que você faz?", "Há quanto tempo está morando em Londres?" e outras trivialidades impessoais estão sempre no cardápio social.

Com o objetivo de reeducar as pessoas na Arte da Boa Conversa, a School of Life, em Londres, organiza jantares em restaurantes bacanas com direito a três pratos, vinho e um cardápio de conversas. conversationmenu_blog.gif

Eu, curiosa, fui conferir. Sentei em uma mesa com uma senhora escritora, um organizador de festas e um menino muito perdido, recém-chegado da África do Sul.

Para cada prato, o cardápio de conversas sugere um tema e várias perguntas para começar o papo, com a seguinte instrução: "Pergunte coisas que você realmente quer saber. Arrisque no que você está disposto a dividir com a pessoa. Diga coisas que nunca disse antes. Ouça com compaixão e a cabeça aberta."

O primeiro prato foi acompanhado, já de cara, por uma conversa bem pessoal, sobre família e como a infância influenciou a vida de cada um.

Durante o prato principal, conversamos sobre o amor, sobre como o medo pode ser um grande incentivador, sobre sonhos não concretizados, e até sobre vermes (sim, vermes - não me pergunte como!).

A sobremesa foi mais descontraída. Recebemos alguns cartões-postais com diversas cenas e tínhamos que imaginar o que estava acontecendo em cada um deles e que tipo de conversa os personagens poderiam estar tendo em cada cena.

Foi uma experiência enriquecedora e as conversas que tive pareceram fluir muito naturalmente. Poderia ser assim sempre.

Agora, toda vez que o assunto 'tempo' (o favorito nas terras da Rainha) aparece na conversa, lembro do menu. Pode ser que esteja perdendo a oportunidade de aprender algo fascinante ou fazer uma boa amizade.

dzԳáDzDeixe seu comentário

  • 1. à 04:32 PM em 11 abr 2009, Cecy Haemmerli escreveu:

    Talvez pelo fato de os brasileiros de um modo geral, não ter nenhuma dificuldade para iniciar uma conversa, o que pode acontecer em qualquer lugar que seja, até mesmo em fila, essas situações organizadas com o intuito das pessoas travarem amizade ou mesmo ensejar um "bom-papo" para mim soa muito artifical. Não consigo me imaginar numa situação semelhante. É claro que para os estrageiros, eles acham fantástico essa facilidade de num curto de espaço de tempo, as pessoas conversarem naturalmente, como se fosse velhos conhecidos, como ocorre rotineiramente e gratuitamente no Brasil. Da mesma forma, aqui em Paris, eu acho estranhíssimo um curso particular e pago para apreender à rir e gargalhar, onde as pessoas ficam numa sala, gritando hum, hum, ha,ha,aha e faz o maior sucesso. Diga-se de passagem que o francês pode não parecer, mas, na terra dele, ele é um "tímido de carteirinha". Tive a oportunidade de conhecer um bar, tipo: "8 minutos para se conhecer". Você dá o seu nome na entrada, coloca o crachá com o seu nome, e vai rodando de mesa-em-mesa, se apresentando e tentando "engatar" e manter uma conversa com as pessoas que aparentemente te interessaram. Fui só para conhecer, mas saí com uma sensação e uma constatação tão desagradável, que não gostaria de estar nessa faixa-etária dos 20/30 anos. Tudo me pareceu tão artificial, que lembrei dos anos 80, onde eu saía sozinha para um Pub, por exemplo, lá encontrava com as amigas, ninguém se "colava" com ninguém, no primeiro momento, era puro divertimento, "falava-se de tudo e de nada" e tranquilamente no final, eu saía acompanhada para dançar em alguma discoteca, tudo tão fácil e tão simpes!!! Ah, como eu era feliz e não sabia... Comparando com hoje, tudo você tem que seguir uma regra, uma senha, um isso e um aquilo, para poder fazer parte ou entrar em algum local "branché", ou simplismente conversar. Pode ser eu esteja ficando velha, mesmo...quando começamos com essas comparações do que era melhor. Mas, sem sombra de dúvidas, hoje as pessoas estão complicando as coisas, ou seja, como dizia as minhas velhas tias: estão avacalhando as relações entre as pessoas.

  • 2. à 07:50 PM em 11 abr 2009, Gabriel de Souza escreveu:

    Opa!

    Sou Brasileiro mas tenho esse péssimo costume inglês. Muito bom esse "The School of Life"

  • 3. à 10:42 AM em 12 abr 2009, Marcos Menezes escreveu:

    Gostei da dica. Vou procurar. Mas nao sei se vou.

  • 4. à 02:30 AM em 13 abr 2009, Francisci escreveu:

    Hã... dIscontraída? Heheh! Brincadeiras à parte, que experiência legal essa! Sabe se em SP tem algum lugar com proposta semelhante? Abraços.

  • 5. à 10:51 AM em 13 abr 2009, Carolina Oliveira Author Profile Page escreveu:

    Ops, desculpa o erro, Francisci! Como moro em Londres há muitos anos, nao saberia te dizer se em SP tem algum lugar assim... Alguém aí sabe?

  • 6. à 01:00 PM em 13 abr 2009, Cla escreveu:

    Achei otimo isso! E mesmo aqui no Brasil seria bem importante, porque as pessoas se comunicam com mais facilidade, porem as conversas nao se sustentam por muito tempo. A vida anda muito tumultuada, e nao temos a cabeça descansada a ponto de nos prmitir conversas de teor leve, não relacionadas a trabalho, política, e outros assuntos de noticiário. Enfim, acho que muita gente se beneficiaria de um curso desses.

  • 7. à 01:20 PM em 13 abr 2009, Alessandro Cavalcante escreveu:

    Sinceramente para chegar nesse ponto precisa é de tratamento psicologico. Ou você conversa ou não com um estranho e se o faz o assunto vai surgindo, não precisa de nada artificial, pode falar de futebol, de nossas praias, de nossos problemas (aí não vai faltar assunto). Como o povo britânico é frio (até tomar umas cervejas e se soltarem), há necessidade de criar esses espaços. Isto porque é Londres imagine se fosse Manchester aí precisaria de mais de um cardapio deste tipo. Graças a Deus apesar de toda nossa pobreza ainda não precisamos desse tipo de lugar, temos muitos assuntos para falar, muitos assuntos para desabafar mesmo que seja com um estranho...

  • 8. à 02:18 PM em 16 abr 2009, Roberta escreveu:

    Carolina, achei genial a ideia de se resgatar a "arte da boa conversa"! Fiquei impressionada com a percepção que você passou, de que através de algo tão simples quanto um bom assunto para conversar, nós ganhamos a capacidade de transformar qualquer encontro com um estranho em uma experiência interessante, educativa, e potencialmente transformadora. Vou lembrar desse 'menu' antes de falar sobre o 'tempo' no futuro.

  • 9. à 11:29 AM em 17 abr 2009, Julian escreveu:

    Gostei Carol,
    Se for na proxima me chama!

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