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Arquivo para outubro 2009

Um bom negócio é a melhor forma de arte

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Daniel Gallas | 13:20, segunda-feira, 26 outubro 2009

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Andy Warhol dizia que ganhar dinheiro é arte, e que um bom negócio é a melhor forma de arte.

Esse polêmico ponto de vista é o que está em cartaz aqui em Londres, na galeria Tate Modern. No começo do mês, fui conferir a exposição Pop Life: Art in a Material World.

A exposição é uma retrospectiva de obras que desde o século passado provocam as reações mais extremas - admiração de outros artistas, mal-estar entre alguns críticos e, principalmente, rombos milionários nos bolsos de colecionadores de arte.

A exposição gerou polêmica até mesmo antes de abrir ao público, com direito a visita da Scotland Yard e tudo.

Em cartaz, vi algumas coisas que eu nunca esperaria ver em um museu ou galeria de arte. Alguns exemplos:

  • uma sala inteira é dedicada às obras que o americano Jeff Koons criou logo após seu casamento com Ilona Staller, a famosa ex-atriz pornô italiana Cicciolina. São esculturas e pinturas de sexo explícito entre os dois. Koons sabia da curiosidade que o casamento entre um artista renomado e uma controversa estrela pornô, ocorrido em 1991, despertou na mídia, e tratou de se aproveitar disso para ganhar dinheiro.
  • a americana Andrea Fraser ultrapassou qualquer limite de prostituição da arte ou do artista. Em 2003, ela ofereceu-se para gravar um vídeo de uma hora de duração para o colecionador que oferecesse o melhor preço. Detalhe: o vídeo é da artista transando com o colecionador, que pagou US$ 20 mil pela obra, agora exposta no Tate.
  • se um bom negócio é a melhor arte, o britânico Damien Hirst é provavelmente o maior artista vivo. Em setembro de 2008, mês do estopim da crise financeira mundial, um leilão de obras de Hirst arrecadou 95 milhões de libras (mais de R$ 260 milhões). Na exposição no Tate Modern, Hirst recriou algumas obras suas - como a famosa False Idol (foto) - mas com novos detalhes em puro ouro. Hirst confessa na exposição que o único objetivo do ouro é encarecer suas obras ainda mais junto aos colecionadores.
  • false_idol466.jpg

  • um vídeo com a participação de Andy Warhol no breguíssimo seriado Barco do Amor, em 1985. No episódio, Warhol interpreta a si mesmo. Ele é convidado por um cruzeiro a escolher um dos tripulantes e imortalizá-lo como obra de arte, em um retrato. A participação de Andy Warhol tem dois objetivos: promover o artista (e encarecer sua obra) e brincar com a sua crescente reputação de exibicionista, que faz tudo pela fama.

Será que um bom negócio é mesmo arte? Eu mesmo ainda não tenho certeza, mas não tenho dúvidas de que arte ou negócio formaram uma exposição espetacular e imperdível.

Tricô, restaurante e gorros personalizados

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Iracema Sodre | 17:07, quinta-feira, 15 outubro 2009

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Ver um grupo de mulheres jovens tricotando (literalmente) em algum café ou livraria não é uma visão comum no Rio de Janeiro.

Por isso, fiquei espantada, aqui em Londres, todas as vezes em que me deparei com garotas "cool", moderninhas, sacando da bolsa agulhas e novelos enquanto conversam com as amigas.

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Tudo bem que o clima carioca não ajuda. Calor e roupas de lã não combinam muito. Mas eu sempre associei tricô a senhoras fofas, como a minha avó, tricoteira de mão de cheia.

O fato é que aqui, tricô é moda. Há que aceitam integrantes a partir dos 16 anos e se encontram semanalmente no centro de Londres para tricotar e fofocar. E elas ensinam de graça a quem quiser aprender.

Outra prova do sucesso do tricô feito a mão na Grã-Bretanha é o ., uma loja online idealizada por Katie Mowat, de 27 anos, que vende gorros personalizados, feitos de acordo com o desenho do cliente.

Em entrevista ao jornal britânico Telegraph, Mowat disse que aprendeu a fazer tricô durante o ano que passou estudando na Califórnia. Parece que a coisa é moda nos Estados Unidos também.

"Eu dividia um apartamento com quatro meninas e todas elas tricotavam no tempo livre. Havia gente tricotando nos ônibus, nas salas de aula. Julia Roberts estava tricotando, até o Russell Crowe", disse ela.

O último adepto é o chef de cozinha e celebridade internacional Jamie Oliver. Bem, não literalmente.

O restaurante que ele criou em Londres para treinar jovens cozinheiros, o , acaba de colocar à venda, em edição limitada, um kit de tricô (foto).

A ideia foi uma forma de aproveitar a lã dos carneiros que são servidos, depois de maravilhosamente preparados, no restaurante. E bem a tempo para o natal.

Eleições e crise

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Daniel Gallas | 20:11, sexta-feira, 9 outubro 2009

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Um país cujo poder econômico cresceu nos últimos anos e que enfrentará desafios enormes no futuro próximo irá às urnas em 2010 para decidir se dará mais um mandato ao partido que está há anos no poder ou se optará por mudanças no governo.

Poderíamos estar falando do Brasil, mas o país em questão é a Grã-Bretanha. Como o Brasil, com os oito anos do PT no poder, a Grã-Bretanha também está passando por uma era da esquerda no poder. Foram doze anos de Partido Trabalhista - dez com Tony Blair e dois com Gordon Brown.

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Mas o paralelo entre os dois países para por aí. Ao contrário do Brasil, que parece já ter deixado a recessão para trás e realizará eleições em meio a um razoável otimismo econômico, a Grã-Bretanha irá para as urnas diante de sérios problemas na economia, como consequência da crise financeira mundial. Esta semana, , ao contrário de algumas previsões de que haveria uma lenta retomada do crescimento.

Estou impressionado como é nítido o efeito da crise no dia a dia em Londres. Vários amigos meus que moram aqui, de diversas nacionalidades, estão passando por algum tipo de dificuldade. Os que têm negócios próprios lutam para manter seus clientes e orçamentos. Os que são empregados estão vendo setores inteiros fecharem nas suas empresas, rezando para que não sejam o próximo nome na planilha de cortes. E os desempregados sobrevivem como podem, com cada vez menos oportunidades de inserção no mercado de trabalho e uma concorrência mais qualificada.

Esse cenário econômico sombrio está refletido no discurso dos políticos que estão concorrendo pelo poder. Para a imprensa britânica, esta é a eleição da "big choice", a grande escolha. Mas a grande escolha a ser feita parece ser apenas o tamanho dos cortes. Ambos os principais partidos - o Trabalhista, de Gordon Brown, e o Conservador, de David Cameron - prometem reduzir os gastos públicos para evitar que o endividamento do governo aumente ainda mais.

Como sintetiza , o "principal debate não é mais 'investimentos trabalhistas contra cortes conservadores'; são cortes trabalhistas contra cortes conservadores'.

O efeito do discurso dos dois principais partidos é desanimador para a maioria das pessoas que eu conheço. Além de lutar por sua sobrevivência, muitos temem que a redução dos investimentos do governo acarretará em outros tipos de perdas. Haverá menos serviços prestados pelo sistema de saúde pública? A idade de aposentadoria subirá? A qualidade do ensino vai cair? Haverá menos empregos no setor público? E a parte do setor privado que depende de gastos públicos, como vai ficar? Teremos que pagar mais impostos?

Claro que a Europa ainda está muito na frente do Brasil e da América Latina em diversos indicadores socioeconômicos. Não é à toa que imigrantes (muitos deles brasileiros) continuam vindo para Londres em busca de oportunidades, com crise ou sem crise. Mas este momento não deixa de ser um pouco irônico para mim, uma criança dos anos 80. Passei a minha infância na "década perdida" da América Latina. Agora, adulto, vejo de longe a América Latina crescendo economicamente e, aqui, a Europa diante de anos de crescimento lento e incertezas.

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