Haiti mobiliza britânicos e até os "amantes do vinho"
A levar em conta o envolvimento do Brasil no Haiti, imagino que a terrÃvel notÃcia do terremoto em Porto PrÃncipe tenha corrido o paÃs como fogo em rastro de pólvora. Mas por aqui, tenho a impressão de que o efeito foi um pouco retardado.
À parte os EUA e as ex-colônias britâncias do Caribe, o resto das Américas são, para a maior parte dos britânicos, um destino longÃnquo do globo. O Haiti, um paÃs pobre com forte ligação com a França em vez da Grã-Bretanha, não era diferente.
Um fato comentado aqui na redação, nos primeiros dias após a tragédia, as matérias sobre o Haiti continuavam sendo menos lidas do que as que falavam do Sudeste Asiático ou o Oriente Médio, apesar de a ³ÉÈËÂÛ̳ martelar sobre o tema 24h por dia em seu noticiário. Aliás, a imprensa em geral.
Mas, parecia, a ficha simplesmente não tinha caÃdo para o cidadão comum.
A coisa mudou ao longo da semana, à medida que os paÃses se mobilizavam para prestar ajuda, os repórteres começavam a mandar material de Porto PrÃncipe e a agonia dos haitianos à espera de auxÃlio deixavam claras as dificuldades intrÃnsecas à tarefa de salvamento.
No fim da semana, o Haiti, a bem dizer, entrou no dia-a-dia de muita gente. Alguns amigos que conheço foram rápidos em doar recursos para a Cruz Vermelha, para quem até o governo britânico destinou a primeira parcela de US$ 10 milhões que foram prometidos.
Outras iniciativas de mobilização chegaram por vias, pelo menos para mim, inesperadas. Minha operadora de telefone, a Orange, enviou aos seus clientes uma mensagem à qual bastava responder para contribuir automaticamente com 2,5 libras (um pouco mais de R$ 7) para os esforços da Unicef no Haiti.
O site TripAdvisor, de viagens e turismo, repassou um email a todos os seus usuários ensinando como e para quem doar fundos. Como o britânico é uma subseção do americano, imagino que algo semelhante tenha ocorrido do outro lado do Atlântico.
E a mais original das mobilizações que eu vi até agora está se dando através de um site de vinhos, o Wineloverspage.com, que na verdade também é americano.
O proprietário do site organizou uma rifa na qual, para entrar, é preciso doar pelo menos US$ 30 para alguma organização humanitária diretamente envolvida na assistência à s vÃtimas. Segundo o site, uma iniciativa semelhante na época do furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, levantou mais de US$ 10 mil.
Os participantes da rifa concorrem a sensacionais garrafas de Bordeaux das últimas quatro décadas (uma garrafa de cada década, de 1970 aos anos 2000) mantidas pelo proprietário em sua adega. "Vamos sair um pouco do agradável mundo do vinho para incentivar os apreciadores a ajudar o Haiti", diz o email.
Na prática, grande parte dos amantes do vinho não apenas estão doando muito mais do que US$ 30 por cabeça - a maioria creio já ter gasto mais que isso em uma garrafa de vinho - como também adicionando suas próprias garrafas à rifa, criando prêmios secundários, terciários, etc, para atrair mais contribuições.
São iniciativas pequenas, mas de coração, ou pelo menos me parecem. Ainda mais significativa porque quem acompanhava a lenta melhora em alguns indicadores do Haiti após tantos anos de conflitos polÃticos não pôde deixar de se comover. Por que logo o Haiti? E por que algo tão devastador?
Sensação bem resumida pela revista Economist, que não é nem um pouco dada a dramaticidades: "Se há um paÃs nas Américas que não pode se permitir sofrer um desastre natural, é o pobre e politicamente frágil Haiti", escreveu a revista.
"No entanto, o terremoto que atingiu Porto PrÃncipe pouco antes das 5h da tarde do dia 12 de janeiro foi um golpe ainda mais cruel."