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Arquivo para março 2010

O metrô nosso de cada dia

Babeth Bettencourt | 14:52, terça-feira, 30 março 2010

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O metrô de Londres, ou "tube", como é carinhosamente chamado na cidade, é presença constante na vida dos moradores da cidade. Com um dos sistemas mais movimentados do mundo, ele transporta cerca de um bilhão de passageiros por ano. Não é a toa que, na hora do rush, ele se assemelha muito a uma lata de sardinhas.

Mas apesar da lotação, o metrô é a verdadeira mão na roda para quem quer chegar a algum lugar. Com 270 estações, ele chega a quase todos os cantos da grande Londres e, onde não chega, em geral tem uma conexão por ônibus ou trem.

Tudo isso é bom, mas para mim, a melhor coisa do metrô é olhar as pessoas e o modo como elas tomam conta do espaço.

Dependendo do horário, o público é completamente diferente. Os engravatados da manhã, classes inteiras de escola primária com suas professoras durante a tarde, os bêbados depois da happy hour, os festeiros da noite... todos circulam, em geral, com um livro ou jornal na mão e sem olhar uns para os outros.

tube226.jpg

Alguns anos atrás, o prefeito de Londres, Boris Johnson, chegou a proibir o consumo de bebidas alcóolicas a bordo e, na véspera da decisão entrar em vigor, os mais animados convocaram uma mega festa, conclamando todos a comparecerem com suas latinhas de cerveja nos vagões!

Nos fins de semana, o cenário muda, com os turistas tomando conta. Eu já vi gente sem sapato e cheio de ressaca, voltando para casa no sábado de manhã (os trens param de circular por volta da meia noite, deixando muita gente "de castigo"). Uma delas, inclusive, dormia enconstada na parede, chupando o dedo...

Também já vi casais de black tie indo para a Ópera e eu mesma já peguei o tube toda embecada para ir a um casamento. Isso tudo convive com os cachorros citados pela Maria Luisa Cavalcanti (sim, eles também andam de metrô), os mendigos que pedem esmolas nas escadas, os ativistas fazendo campanha, os corredores de qualquer maratona realizada na cidade e os torcedores de praticamente todos os times de futebol.

Ouve-se tudo quanto é língua, não só de turistas mas também de muitos moradores desta cidade tão multi-cultural e acompanhar as conversas em português de outros lusófonos desavisados é uma das minhas diversões prediletas. Até cantadas já vi, e não é para menos. Com tanta gente circulando todos os dias, numa proximidade maior do que o comum, a brecha se abre...

Além dos passageiros, no entanto, os motoristas também ocupam seu espaço. Pelo alto-falante, eles tentam botar ordem na turba, com o fino humor britânico.

Outro dia, um passageiro foi envergonhado em público, por segurar a porta do trem. Do sistema de alto-falantes veio a voz: "por favor, você que está segurando a porta, largue-a. Você está botando a segurança do trem em risco e não nos deixa sair do lugar".

A frustração também vem à tona, como no dia em que uma estação estava fechada e o motorista anunciou, visivelmente irritado: "Sinto muito em informar que a próxima estação está fechada e não vamos parar nela. Sei o quão frustrante é saber disso apenas na última hora, e também não consigo entender por que ninguém avisou a gente antes".

Num dos momentos "lata de sardinha", o comentário veio, com voz calma e paciente: "Por favor, senhores passageiros, queiram se mover para onde há espaço dentro do vagão. E não tenham medo, um estranho é apenas um amigo que você ainda não conheceu".

É nessas horas que os passageiros, normalmente ensimesmados, de repente se olham e riem juntos da piada... e aí rola de novo a brecha.

Portanto, a dica é: se vier a Londres, na hora de pegar o metrô (que você certamente vai pegar), não faça como os passageiros de sempre e olhe bem em volta. Tem sempre uma cena divertida. Se você já tiver presenciado, envie para a gente sua história!

Londres no País das Maravilhas

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Maria Luisa Cavalcanti | 12:15, sexta-feira, 5 março 2010

Comentários (2)

Que Oscar, que nada.

Neste fim-de-semana, o filme que deve dar o que falar aqui em Londres é Alice no País das Maravilhas, do cineasta Tim Burton.

Não só porque a fita estreia nesta sexta-feira. Além dos cinemas, também teatros, museus, lojas, restaurantes e até casas noturnas da cidade prepararam eventos especiais sobre o tema.

alice283.jpg

Um dos mais pitorescos é o Chá da Tarde do Chapeleiro Maluco, servido no luxuoso Sanderson Hotel até o fim deste mês. Os chefs prometem um "twist" no tradicional chá britânico, com bolinhos da Rainha de Copas, pirulitos de abacaxi que mudam de temperatura na boca e picolés que explodem ao tocar a língua.

Neste fim-de-semana, clubs organizam festas em que só entra quem for a caráter (concursos de chapéus e "melhores Alices" serão inevitáveis). E até o centro cultural Barbican vai fazer uma balada mais cedo, também dedicada ao mundo criado por Lewis Carroll.

Os fãs de carteirinha da obra podem ver o manuscrito original do autor, datado de 1862, em exibição na British Library até o mês de junho. Também estão expostos ali croquis originais dos figurinos de Colleen Atwood para o filme de Tim Burton, diários de Lewis Carroll e desenhos de Salvador Dalí sobre o livro.

Alice no País das Maravilhas também inspirou as vitrines da cidade, com roupas, acessórios e peças de decoração abusando das cores fortes e dos naipes do baralho. A mega loja de departamentos Selfridges dedica até uma sala especial para os artigos à venda, como um novo perfume assinado por Alice Temperley e joias criadas por Stella McCartney.

É difícil prever quanto tempo a febre vai durar. Mas Londres parece estar gostando de ter alguns dias fora do comum.

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