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Arquivo para 2010-05

O nome do nabo

Thomas Pappon | 16:55, quinta-feira, 27 maio 2010

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Você, dona de casa que mora na Europa, quantas vezes não viu na prateleira do seu supermercado, ali perto das batatas, tubérculos como esses que aparecem nas fotos (pela ordem: parsnip, swede e kohlrabi) e quis saber mais sobre eles?

Não tema, cara amiga, pois esse post vai resolver o problema. Essas hortaliças são, para nós, menos conhecidas, pois praticamente "não existem" (entre aspas, porque nunca se sabe) no Brasil. 

parsnip.jpgO que eles têm em comum são o preço baixo e a fama de comida de pobre - porque foram, de fato, alimentos consumidos pelas classes mais baixas ou em períodos de racionamento, como nas duas Guerras -, fama que já não é mais justificada, pois graças aos chefs e à popularização de receitas na internet hoje em dia há espaço, na mesa, para tudo o que a mãe natureza nos traz, por mais feio e sem graça for o seu aspecto ou gosto.  

Parsnip, por exemplo. É uma raiz de cor amarelada, parente da cenoura. Assada, ela é bastante popular na Grã-Bretanha e comum nos roasts domingueiros. Tem um sabor pronunciado, difícil de descrever. Algumas pessoas aqui na redação mencionaram 'aniz' e 'salsão' como referências de sabor. 

swede.jpgLá em casa a parsnip causou um racha: metade odeia, a outra acha OK. No Google eu vi que no Brasil parsnip pode ser conhecida como chirívia ou pastinaca. Nunca ouvi alguém usando essas palavras.

Assim como nunca ouvi alguém falando que aprecia um couve-nabo-da-Suécia, como seria conhecido em português - pelo que vi achei na internet - a swede (conhecida como rutabaga nos Estados Unidos), outro tubérculo bastante querido dos britânicos.

Seguindo uma receita da ̳ Food (site dedicado à comida da ̳ que todo foodie deveria conhecer e ter entre seus sites favoritos) fiz certa vez uma sopa de swede com queijo stilton (parecido com gorgonzola) que ficou muito boa.

kohlrabi.jpgA swede é resultado de um cruzamento de couve com nabo, o que me leva a outro legume popular na cozinha européia conhecido como kohlrabi.

Kohlrabi tem esse nome porque é um tipo de couve parecida com nabo - aliás, a parte comestível não é a raiz, é o caule. O nome junta kohl (alemão para couve ou repolho) com ruebe ou rabi (que, em alemão pode tanto ser nabo como um nome genérico para tubérculo). Na Alemanha, existem a kohlrabi e a kohlruebe, que, apesar do nome praticamente igual, são duas coisas diferentes. Kohlruebe é o nome alemão para o couve-nabo-da-Suécia, a swede (ou rutabaga).

turnip.jpgA kohlrabi, que é adocicado e pode ser comido cru, também dá uma boa sopa ou um bom acompanhamento refogado - como, aliás, todos essas hortaliças. Em português, é o couve-rábano.

Tudo fica claro nessas fotos. Ah, acrescentei a foto (ao lado) de uma turnip, como uma espécie de nabo-bônus para vocês.

O nome da amora

Thomas Pappon | 15:50, quinta-feira, 20 maio 2010

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Um leitor do ̳ à Mesa, o Fernando Dias, de Ponte Nova, MG, sugeriu um post explicando o significado do que aqui na Grã-Bretanha se conhece como berries, uma ideia que caiu como uma luva para introduzir um assunto bem mais amplo: as várias dificuldades em encontrar a tradução correta para nomes de legumes, verduras e frutas.

Primeiro, às berries. Numa explicação rápida e rasteira, diria que berries são o que conhecemos como frutas silvestres: framboesas, amoras e morangos, por exemplo.

Mas a coisa é um pouco mais complicada. O Oxford English Dictionary traz duas definições, uma ligada ao uso mais corriqueiro do termo e a outra usada em estudos científicos.

A mais trivial eu traduzi assim: "qualquer fruta suculenta globular ou oval que não tenha caroço", definição bastante próxima à que encontrei no dicionário de inglês-português Michaelis, de "fruto carnoso e geralmente comestível, de tamanho pequeno".

A outra definição, a botânica, define como berry toda fruta produzida de um ovário, com as sementes espalhadas pela carne dessa fruta (o que no Brasil ou Portugal pode ser conhecido como "baga", não tenho certeza). Segundo essa acepção, abacates, tomates, uvas e frutas de algumas espécies de batatas são berries - coisa que elas certamente não seriam segundo a definição mais corriqueira. 

Já entre frutas chamadas de berries pelo populacho há várias que tecnicamente não são berries - como, por exemplo, blackberries (amoras pretas), raspberries (framboesas), mulberries (amoras) e strawberries (morangos).

Amoras pretas e framboesas contém sementes de ovários diferentes de uma planta. As amoras são frutas chamadas de "múltiplas", a fruta é um aglomerado de pequenas flores separadas que se agregaram durante o seu desenvolvimento.

E os morangos então, esses são uma loucura. Sua carne, que imaginávamos (eu pelo menos) ser a fruta é, na verdade, um acessório, um receptáculo do ovário. A fruta do morango são os pontos pretos que parecem sementes. A versão em português da Wikipedia diz que o morango é chamado de "pseudofruto" e que a carne "suculenta" é o "útero do morango".

Mas vamos à definição mais banal do termo, porque eu queria mostrar essa lista com a tradução das estrelas entre as berries na Europa. Vejam só:

Raspberry (Himbeere na Alemanha) - framboesa
Blackberry (Brombeere) - amora preta ou amora silvestre ou amora do mato (cresce em arbustos)
Boysenberry (Boysenbeere) -  amora mais arredondada , arroxeada e maior, resultante de cruzamento entre tipos de amora e framboesa.
Mulberry (Maulbeere) - amora que cresce em árvores (ao contrário das blackberries e boysenberries, que crescem em plantas ou arbustos)
Strawberry (Erdbeere) - morango
Currant (Johannisbeere) - groselha

e as menos conhecidas no Brasil

Cranberry (Preiselbeere) - oxicoco (o suco é muito apreciado na Grã-Bretanha, e a fruta em compota é um acompanhamento de carnes bem comum na Alemanha)  
Blueberry (Heidelbeere) - mirtilo  
Gooseberry (Stachelbeere) - groselha verde  

Muita gente no Brasil usa o termo amora para se referir a várias frutas silvestres. Há dicionários inglês-português que traduzem cranberry por exemplo, como amora, apesar de a fruta ter formato e sabor completamente diferentes.

Para quem confunde amora com framboesa, uma explicação básica: a framboesa tem um interior oco e é menor e mais "aveludada" que a amora, que pode ter cores mais escuras.

E para concluir - e preparar o terreno para o próximo post, sobre legumes -, lembro que as confusões em traduções para o português decorrem muitas vezes do fato de as frutas não serem muito comuns no Brasil (mirtilo? oxicoco?).

Sardinha com leite condensado e outras delícias da meia-noite

Thomas Pappon | 13:47, quarta-feira, 12 maio 2010

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Há gente que adora um snack antes de ir pra cama ou que acorda no meio da noite e vai para a cozinha fazer um lanche.

Outro dia vi que essa refeição é bem mais levada a sério do que supunha. Foi quando o Independent publicou contribuições extraídas de Midnight Feasts: An Anthology of Late-night Munchies, como o nome diz, uma antologia de receitas para lanches ou snacks da meia-noite, o que o jornal chama de 'piqueniques de pijama'.

Gostei muito de algumas idéias. O Fergus Henderson, chef do St John, um dos três representantes britânicos da respeitável lista dos 50 melhores restaurantes do mundo da revista Restaurant, recomenda torradas com manteiga e sardinhas para serem comidas - não me perguntem por quê -  "na cama e no escuro".

Samantha Clark, chef do Moro, indica chouriço espanhol refogado com um pouco de azeite e sherry (vinho licoroso conhecido como jerez em espanhol), a única dica que eu endosso por ser a única que conheço bem, como grande fã do chouriço espanhol (que, alias, é a única carne que uso para temperar o feijão).

A food writer Prue Leith conta que na infância, em internatos na África, ela e outras crianças se "deleitavam" misturando sardinhas de lata com leite condensado (!), mas ela indica, no livro, uma criação bem caseira: uma mistura, numa caneca, de três dedos de iogurte natural, duas colheres de sopa de creme de leite e uma de açúcar mascavo.

Aliás, peixes em lata ou defumados são populares nesses 'piqueniques'. Outra food writer, Sophie Conran, indica uma salada de folhas (alface, agrião, espinafre) com maionese, vegetais assados no forno com azeite (batata doce, abóbora e parsnip), e cavala (mackerel) defumada. 

A atriz e foodie americana Gillian Anderson (a Scully de Arquivo X) apresenta um sanduíche de banana e manteiga de amendoim que precisa ser preparado com antecedência: "corte a banana de ponta a ponta pela metade, passa uma porção generosa da manteiga de amendoim sobre uma das metades, junte a outra parte, fazendo um sanduíche. Corte esse sanduíche em três ou quatro partes, criando mini-sanduíches, embrulhe cada um em papel de alumínio e coloque-os no freezer. No meio da noite, abra o freezer, pegue uma das bolas de alumínio, desembrulhe e se delicie".

Para mim, comer as duas ou três da manhã em casa é a ocasião perfeita para uma sopa em lata, tipo o creme de tomate da Heinz ou o beef consommé da Baxter's. E se estiver em São Paulo, voltando de uma balada, tenho que parar no Burdog na Av. Doutor Arnaldo, para um cheesburguer "especial"  (com relish e pepino em conserva).

O boom do aspargo

Thomas Pappon | 16:41, quarta-feira, 5 maio 2010

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Um dos legumes frescos mais caros no Brasil é o aspargo.

De origem européia, ele só foi introduzido no país nos anos 30, por um engenheiro agrônomo em Pelotas. A maior parte da produção nacional é destinada à industrialização.

Quando comia aspargo no Brasil era o em lata ou vidro. Minha mãe, alemã, servia aspargo no Natal com presunto defumado tipo Schwarzwald Schinken, batatas tipo bolinha cozidas e molho de manteiga - até hoje o prato servido na ceia natalina na casa do meu pai em São Paulo.

Ou seja, a imagem que tinha do aspargo era de comida sofisticada e nobre - bem parecida com a que tinha do salmão, que mencionei no post anterior.

E a exemplo do que ocorreu com o salmão, o aspargo ganhou livre acesso à cozinha lá de casa. Estou falando de aspargo fresco, do tipo verde, o broto de gosto distinto muito levemente amargo que parece um pinheirinho - e que só vim a provar pela primeira vez aqui na Europa.

A época de aspargos está começando agora, pelo menos a do aspargo europeu. O vídeo ao lado (narrado pela minha colega Carolina Oliveira) fala do boom do aspargo aqui na Grã-Bretanha, onde as vendas têm aumentado em ritmo anual de 30%.

Mas os supermercados vendem aspargos quase o ano inteiro, graças a importações da China e do Peru (o maior exportador de aspargos do mundo).

Ele é vendido em maços de entre 15 a 20 brotos. Compro sempre dois maços para acompanhar uma carne ou um peixe - e alimentar cinco pessoas. É só cozinhar em água salgada por sete minutos.  Sirvo com manteiga ou azeite.

Na Alemanha e nos Países Baixos os consumidores apreciam mais o aspargo branco (spargel)  - que é o mesmo tipo de aspargo só que privado de luz durante o crescimento.

A temporada do 'spargel' é curta, dura poucas semanas, mas é celebrada em restaurantes, campanhas de anúncios de molho holandês (molho preferido para acompanhar o legume) semi-pronto na TV e festivais como o de Nuremberg, onde há uma famosa competição para escolher o descascador mais rápido de 'spargel' da região.

O aspargo verde não precisa ser descascado.

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