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Arquivo para novembro 2008

Dança do Carrinho de Chá

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Carolina Oliveira | 16:38, terça-feira, 25 novembro 2008

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Já sei o que você deve estar pensando... Mas não. Não é uma nova dança de pagode, nem de axé. Muito pelo contrário... acho que, na escala de 'sensualidade', essa dança fica bem mais perto do zero - diria que quase abaixo, dependendo do dançarino.

A Tea Trolley Dance, como é conhecida em inglês, foi inventada por Sally Child, uma 'lady' inglesa bem tímida e com voz suave, mas que se transforma na pista de dança com vestidos mega-coloridos e rodados. O lema por trás dessa dança, segundo Sally, é: 'se vale a pena dançar uma dança, vale a pena dançá-la mal'.teatrolley203.gif

Foi ela quem me recebeu quando cheguei no 'Baile Dourado de Tea Trolley Dance' no último sábado. Com um cálice de vinho quente na mão, ela me levou a uma mesa onde estavam inúmeros papeizinhos dourados, cada um com um nome: Tarzan, Tamzin, Tia, Tyrone, Talullah, Tinkerbell... eram os nomes dos carrinhos de chá. Escolhi o carrinho Tinkerbell para ser meu par.

A noite começou com uma demonstração da dança. Sally e uma assistente, com seus carrinhos em mãos, mostravam como se dança a dança. Cada passo, batizado com um nome de bolo ou doce, era imitado pelo grupo e seguido por muitas risadas, pois parece que a idéia era dançar mal mesmo e levar tudo na brincadeira.

Só assistindo ao vídeo para se ter uma idéia da coisa toda.

E depois da demonstração, o baile começou regado a muito chá preto com leite e vinho quente. Foi uma noite muito engraçada, que só podia ser fruto da discreta excentricidade inglesa. Fiquei pensando se a 'dança do carrinho de chá' emplacaria no Brasil... será?

A anglofonia e a telefonia

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Neli Pereira | 14:13, quinta-feira, 20 novembro 2008

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celular_203.jpg Os britânicos, quem diria, terão que aprender a falar inglês com sotaque americano. Pelo menos se quiserem usar a nova ferramenta de busca ativada pela voz e disponível em um modelo de celular de última geração.

A nova tecnologia deveria ser bem simples. Basta acessar a internet pelo celular em questão e entrar no Google para fazer uma busca. No entanto, ao invés de digitar a sua pesquisa, bastaria falar o que deseja procurar.

Ao pronunciar a palavra "pub" ou "bar", por exemplo, a ferramenta traria informações sobre os bares mais próximos, as melhores promoções, etc.

Então, imaginem o susto dos britânicos ao tentar usar a tecnologia e ao falar a tão inglesa "pub", ao invés de informações úteis sobre os tradicionais bares, a ferramenta te enviar dados sobre sites de namoro e relacionamento!

Ou, ao falar a palavra "fish" (peixe), a busca relacionar sites sobre "sex" (sexo).

A notícia se espalhou por aqui e foi tema de matérias em diversos jornais britânicos nessa semana. Alguns usuários contavam suas experiências - bizarras, eu diria - sobre os enganos cometidos pela nova ferramenta e que lembram as cômicas confusões da velhinha surda do programa televisivo A Praça é Nossa.

Aparentemente, a tecnologia foi desenvolvida nos Estados Unidos e não reconhece sotaques que não sejam do inglês americano.

Em entrevistas aos jornais, os ingleses - pais da língua, diga-se de passagem - disseram que estão tentando adaptar o sempre tão distinto sotaque britânico e improvisar uma fala um pouco mais "texana".

Um porta-voz do Google citado por um dos jornais afirmou que os britânicos são bem vindos para tentar usar a nova ferramenta, mas que eles não podem garantir que irá funcionar com o sotaque daqui.

Nada de anglofonia nessa telefonia moderna. E eu dou razão para qualquer inglês que ficar furioso com a confusão.

David Beckham, a crise e a casa muito engraçada

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Neli Pereira | 15:17, terça-feira, 18 novembro 2008

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beckham_203.jpg A casa é muito engraçada. Tem teto e até lugar para "fazer pipi" e deve sim ter sido feita com muito esmero. Fica na Norman Road, no bairro de classe média Leytonstone, ao leste de Londres, mas poderia estar na rua dos Bobos, número zero - como já cantava Vinícius de Moraes.

Quinze dias depois do anúncio da Royal Institution of Chartered Surveyors, entidade que representa os avalistas de imóveis britânicos, de que a venda de propriedades na Grã-Bretanha havia atingido o menor nível em trinta anos, a residência em questão passou a valer £600 mil libras a mais, assim, do dia para a noite.

Um comerciante do bairro de Leytonstone estava fazendo uma pesquisa sobre pessoas famosas que haviam morado na região. Deu sorte. Entre os residentes célebres, o bairro já tinha abrigado Alfred Hitchcock e o agora polêmico apresentador de TV Jonathan Ross. Foi então que ele se deparou com a informação de que o local também hospedava a primeira casa do ídolo do futebol britânico David Beckham. O jogador teria morado na casa na rua Norman até os dois anos de idade.

Com a informação em mãos, ele entrou em contato com o atual proprietário do imóvel, que acabou por concordar em vender sua propriedade e colocou o comerciante para comandar a negociação.

Um anúncio publicado no site de classificados gumtree (foto) descreve a casa com três quartos, jardim, piso de madeira e todas as comodidades. O preço: £850 mil (R$2,9 milhões). Caso Beckham não tivesse vivido lá, no entanto, quando ainda nem chutava bola, o imóvel valeria cerca de £250 mil (R$870 mil) - a média do bairro para uma casa como essa.

Em entrevistas em diversos meios de comunicação aqui de Londres, o "corretor", Colin Evans, diz que recebeu uma oferta de £1 milhão de um colecionador de objetos de Beckham.

Apesar disso, Evans diz que vai esperar para ver se consegue uma oferta melhor. Ou aguardar para ver se o próprio ídolo não resolve comprar a casa que um dia pertenceu à sua família.

Se a moda pega, corretor de imóveis em período de crise vai virar pesquisador, casa barata vai virar imóvel caro, jogador de futebol vai querer comprar propriedades em subúrbio classe média de Londres e a crise no mercado imobiliário vai virar notícia do caderno de esportes. Daí, só vai faltar o mar virar sertão.

Para você passear com Cildo Meireles; leia, veja e comente.

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Neli Pereira | 12:50, sexta-feira, 14 novembro 2008

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cildo_sala203.jpg Ainda bem que eu pude filmar a retrospectiva de Cildo Meireles na Tate Modern, aqui em Londres. Penso que seria uma injustiça sem tamanho falar da exposição sem que pudesse dar a todos a oportunidade de também visualizar um pouco não apenas do visual impecável das obras do brasileiro, mas também participar delas, já que foi com essa intenção que foram feitas.

Ao entrar, a primeira sala decepciona um pouco. Alguns quadros na parede, outras obras em plintos, molduras. Até você pisar no segundo ambiente da exposição e ver seus conceitos de peso, medida, tempo e espaço revistos. Até Meireles nos convidar para deixar o seu universo e entrar no de suas obras.

Assista a um clipe com as principais obras da exposição

Em todas as oito grandes instalações presentes na exposição, o convite de se aventurar entre, dentro, ao redor e através das obras se refaz.

Seja nas moedas, óstias e ossos da macabra Missões - um chão de moedas e um teto de ossos unidos por um cordão de hóstias. Ou ainda na variedade de texturas da instalação ´¡³Ù°ù²¹±¹Ã©²õ, com suas grades, arames farpados e chão de vidros quebrados que repele pela aparência mas seduz na possibilidade de continuar explorando o "labirinto proibido", como chamou Meireles.

Uma das principais atrações (e experiências) da mostra é a instalação Fontes. Inspirada na espiral da Via Láctea, a sala é um labirinto de metros que caem do teto, em quatro paredes forradas de relógios e um chão coberto de números.

Os objetos trazem em si, como esclarece o próprio Meireles, a possibilidade das medidas, de tempo e de espaço. Curiosamente, essas são exatamente as noções que eu perdi ao entrar na obra do artista.

Veja aqui um clipe da instalação

Outra atração são os três ambientes que compõem a série Desvio para o Vermelho. Na entrada, o espectador se depara com uma sala branca mobiliada apenas com móveis e objetos vermelhos.

A frieza do que poderia ser uma página de uma revista de decoração logo se transforma em uma experiência envolvente, novamente por causa da participação.

Eu abri as portas do guarda-roupa, as gavetas, a geladeira, tudo para encontrar mais e mais objetos, roupas, papéis e adereços vermelhos. Daí a experiência de explorar a obra se torna tão envolvente quanto a cor dos móveis.

Assista a um clipe da instalação

Andar pela Tate Modern em caminhos instalados por Cildo Meireles é certamente um grande programa cultural, mas, sobretudo, uma grata experiência sensorial.

Depois de Hélio Oiticica, a Tate Modern surpreende com a mostra de Meireles.

Em comum, os dois possuem a afinidade pelo tão brasileiro movimento neoconcreto e seus preceitos de transformar a arte em um organismo vivo, em aproximá-la da vida e em convidar o espectador a deixar de sê-lo e se tornar parte da obra.

Um convite que, no caso dessa exposição de Meireles, parece irresistível.

Com a sagacidade de artistas como Duchamp ou Magritte, Meireles faz ainda um outro convite: o de repensar a obra de arte.

Desta vez, é Bagdá que está chamando

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Neli Pereira | 14:54, terça-feira, 11 novembro 2008

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bagda_203.jpgA guerra do Iraque não perdeu seu lugar nas manchetes durante a cobertura das eleições presidenciais americanas. Pelo contrário.

O futuro do conflito em território iraquiano é uma das grandes expectativas do governo de Obama e uma das principais discussões sobre as relações internacionais dos EUA sob a tutela do presidente eleito.

Nesse final de semana, no entanto, uma exposição em Londres me fez recordar do início da invasão americana no país.

O centro cultural Barbican abriga, até 25 de janeiro, três exposições com a temática de guerra. Uma delas traz as fotos de guerra de Robert Capa, a outra uma retrospectiva de sua parceira, Gerda Taro, e a terceira, uma coletiva de diversos artistas sobre o tema.

Um deles, o holandês Geert van Kesteren, fotografou a população iraquiana logo após a invasão. As fotos revelam um pouco do caos em que se transformou a vida civil no país, as valas comuns que de repente começaram a aparecer, as interrogações em Abu Ghraib e dura realidade pós-invasão.

No entanto, foi a série Baghdad Calling (Bagdá está chamando, em tradução literal), de 2006, que mais revelou a realidade dos iraquianos.

Depois de registrar o início da guerra, o fotógrafo foi à Síria, Jordânia e Turquia para fotografar os refugiados e descobriu a importância das imagens feitas por eles com telefones celulares e enviadas às famílias que permaneceram no Iraque.

Kesteren então reuniu diversas dessas fotos em uma grande série - um álbum de fotografias do que parece ser uma só família.

Apesar do apelo público das fotos de Capa, é a série de Kesteren que traz a realidade da guerra mais próxima e nos faz lembrar que, anos mais tarde, Bagdá continua chamando.

As tradições daqui e de lá

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Neli Pereira | 15:21, quinta-feira, 6 novembro 2008

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fogos.jpg Quando morei nos Estados Unidos, eu era uma adolescente de 16 anos que nunca tinha ouvido falar no Homecoming e que achou curioso a primeira vez que uma criança bateu na porta de casa fantasiada dizendo: Trick or treat, no dia do Halloween.

Também achei pra lá de esquisito comemorar o Natal com um almoço no dia 25 de dezembro e dormir na noite do dia 24, quando eu e minha família sempre comemoramos a data com uma ceia.

Morar longe de casa tem dessas coisas. Assim como a gente ensina os estrangeiros aí no Brasil a pular a fogueira de São João e usar branco no reveillon, eles também vão compartilhando um pouco das tradições e rituais do país que a gente escolheu para morar.

Então aqui em Londres já não é mais surpresa ver o pessoal usando uma papoula de papel vermelha na lapela durante o mês de novembro para relembrar aqueles que se sacrificaram nas guerras.

E novembro é ainda o mês de outra tradição do Reino Unido: a Bonfire Night. A noite relembra o dia 5 de novembro de 1605, quando o "rebelde católico" Guy Fawkes tentou explodir o Parlamento britânico e mandar o rei James I para os ares.

Desde então, os britânicos comemoram o fracasso da empreitada de Fawkes com shows de fogos de artifício na noite do dia 5.

Ontem, quando desci na estação de Canada Water, onde moro, me impressionei com a multidão que estava reunida nas redondezas. Até olhar para o alto e ver os fogos.

A gente pode até esquecer das datas das tradições que não fazem parte da nossa vida desde criança, mas certamente não deixamos de comemorar.

Assisti ao show até o final e já estou me preparando para o próximo, no sábado. Pode até não ser Réveillon em Copacabana, mas a festa é garantida.

Uma caipirinha sem hortelã, please. Leia e comente.

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Neli Pereira | 13:58, segunda-feira, 3 novembro 2008

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caipirinha.jpg Deu no Diário Oficial. A boa e velha caipirinha - a bebida nacional brasileira de fama internacional - agora além de cachaça, limão, açúcar e gelo, vem também com Instrução Normativa (IN).

Assinada pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a IN 55 estabelece as regras e critérios para a produção da caipirinha, tanto no Brasil como no exterior.

Segundo a orientação legal, registrada em cartório e com firma assinada como se diz na brincadeira, o açúcar "permitido" é a sacarose, "em quantidade não superior a cento e cinqüenta gramas por litro".

E seu garçom, não se incomode de pegar o limão do quintal para a minha bebida. Pela nova regulamentação, o limão "pode ser adicionado na forma desidratada" e em quantidade devidamente pré-estabelecida.

A instrução determina ainda que água pode ser adicionada à bebida, apenas para "padronização da graduação alcoólica do produto final".

As novas normas para a produção de uma boa caipirinha podem até soar um pouco restritas demais para nós, brasileiros, que desde sempre aprendemos o modo correto de cortar o limão - tirando a parte branca para não azedar, é bom lembrar - e a proporção certa de cachaça pra ficar com aquele gostinho de acompanhar qualquer feijoada.

No entanto, para nós, brasileiros que moramos no exterior, a instrução normativa - coisa que parece mais de inglês do que de brasileiro - para a preparação da bebida é very welcome, yes sir.

Pobre de mim, uma vez em um bar perto do famoso Soho, em Londres. Fui pedir uma caipirinha pro barman que parecia ser de algum país do leste europeu. Caprichei no sotaque e pedi uma "caipirrrrinha", please.

Nada barata, dona caipira por aqui, diga-se de passagem. Com cachaça não-mineira, o cokctail pode custar entre £5 (R$17) e £10 (R$35). Fico imaginando sempre quantas boas garrafas de boas cachaças esse valor não compraria no Brasil.

Mas voltando ao Soho. O barman fez estripulias atrás do balcão para me servir uma caipirinha com hortelã. Excuse, me. Eu pedi uma caipirinha, não um mojito.

A Instrução Normativa 55 pode até não virar popular no Brasil, onde muita gente vai quebrar os padrões milimétricos estabelecidos pelas normas. Mas por aqui, ela certamente faria um bem tremendo para a identidade da nossa bebida.

Chiclete com banana, tudo bem. Mas caipirinha com hortelã?

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