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Arquivo para março 2009

As boas 'armas' de Brixton

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Neli Pereira | 16:23, segunda-feira, 23 março 2009

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Conheci Brixton, assim, de nome, antes mesmo de colocar os pés aqui em Londres. Fã confessa da banda inglesa The Clash, a faixa Guns of Brixton, do clássico álbum London Calling, fez com que esse lendário bairro do sul de Londres fosse uma das primeiras coisas que eu aprendi sobre a cidade.

A primeira vez que saí da estação de metrô de Brixton, na Victoria Line, foi em 2004, quando fui assistir a um filme seguido de uma entrevista com o diretor argentino Fernando Solanas, no charmoso cinema Ritzy.

Ao sair da estação, a mistura de gente é a primeira coisa que chama a atenção. Com uma imigração caribenha que chegou na década de 50 para ficar, Brixton se tornou um dos bairros mais multiculturais e interessantes da cidade. Além de um dos mais famosos - por bons ou maus motivos.

Palco de protestos violentos na década de 80 e alvo de também violentas incursões policiais - lembrem-se do caso da morte de Dorothy Cherry Groce - o bairro se tornou sinônimo de diversidade cultural, protesto, mas também de drogas, violência e um baita preconceito de gente que acha o bairro "perigoso", "sujo" ou coisa que o valha.

Pra mim, felizmente, a impressão é completamente inversa. Além de ser um pólo cultural interessantíssimo e bem diferente aqui em Londres, Brixton é o berço de ninguém menos que Mr. David Bowie, que nasceu ali pertinho da Brixton Academy, e abriga uma diversidade cultural bem parecida com a que nós, brasileiros, estamos bem acostumados.

Por sorte minha, um casal de bons amigos brasileiros que moram em Londres há muito tempo se mudou para Brixton há uns três anos e eu passei a frequentar bastante a região, que para mim, se tornou também sinônimo de boa música.

Numa das primeiras vezes que saí por ali, esse casal me levou ao Windmill, um pub perto de um conjunto habitacional numa ruazinha escondida perto de Brixton Hill. Cinco bandas independentes excelentes numa noite de bom rock n'roll marcaram um St. Patrick's Day de primeira. Depois disso, ir ao Windmill é sempre bom programa - boa música e gente despretensiosa. E de todo tipo.

Ontem, fui andando até lá da minha casa, também ao sul de Londres. Quando a noite chegou, o mesmo casal de amigos me levou para conhecer o Effra Hall Tavern, onde, segundo eles, rolava uma jam session de jazz imperdível. E pra variar, eles tinham razão.

A dona do bar abre a jam e incorpora um misto de Aretha Franklin, Nina Simone e Della Reese que me deixou boquiaberta. Semana que vem estarei lá de novo, pra experimentar a comida caribenha que eles servem no bar e curtir mais do bom jazz.

Aliás, de opções gastronômicas, Brixton também não deixa nada a desejar, mas aqui tem assunto pra mais pelo menos mais meia dúzia de posts. Aguardem.

Brixton tem realmente e historicamente, muitas armas. Pra mim, uma tradição de música de qualidade é apenas uma delas.

A maternidade em tempos de crise

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Iracema Sodre | 18:56, sexta-feira, 20 março 2009

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Há aspectos muito interessantes de ser mãe em Londres. Um deles é a cara de surpresa das outras mães do meu bairro quando eu digo que trabalho em tempo integral.

Como meu emprego aqui na ³ÉÈËÂÛ̳ tem horários pouco convencionais, eu acabo tendo tempo de levar minha filha de 2 anos a aulas de música e sessões de histórias na biblioteca. E se eu estou lá, elas assumem que também sou uma "full-time mum". Quando descobrem que não é bem isso, vêm com comentários como: "Você deve morrer de saudades dela! Ela vai para a creche? Coitadinha!"

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Confesso que, às vezes, tenho uma pontinha de inveja daquelas mães com seus carrinhos de bebê tomando um café despreocupado na mesinha da calçada, jogando conversa fora com outras mães, com tempo de sobra para levar as crianças para mil passeios, enquanto eu corro descabelada para levar minha filha para a creche, para pegar o trem para o trabalho, e às vezes ainda fico cozinhando até altas horas da noite.

Mas devo dizer que, na maioria das vezes, me sinto mesmo é privilegiada por poder exercer a profissão que escolhi, ter um tempo saudável longe das mamadeiras e bonecas e saber que o tempo que tenho com a minha filha tem que ser aproveitado minuto por minuto.

De qualquer maneira, acho que o importante é que as mulheres possam tomar a decisão de ficar em casa ou de voltar ao batente depois que têm filhos. Aqui, antes da crise, era comum que as mães parassem de trabalhar por dois ou três anos, às vezes mais, e depois retomassem as carreiras.

Agora, em tempos mais difíceis, tenho lido reportagens que mostram que essa opção está se tornando cada vez mais complicada, já que muitos maridos, antes bem sucedidos, estão agora desempregados e dependendo das mulheres para o sustento da casa.

Além disso, as britânicas agora têm mais medo de não conseguirem voltar ao mercado de trabalho depois de tanto tempo afastadas, coisa que há muitos e muitos anos já acontece no Brasil...

No berço do futebol, é proibido jogar bola

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Neli Pereira | 14:42, segunda-feira, 16 março 2009

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noball_226.jpg"No ball games" (Proibido jogos de bola) é uma expressão que você vai ver muitas vezes ao andar por qualquer bairro londrino. Aqui no berço do futebol, jogar bola, uma pelada qualquer com os amigos, é estritamente proibido nos conjuntos habitacionais construídos pelo governo e nas áreas comuns e - atenção - de lazer de muitos condomínios e parques.

Neste final de semana, o sol finalmente deu as caras por aqui e esquentou um pouquinho o clima que andava pra lá de frio e que judiou muito brasileiro (inclusive eu) nesse inverno.

Aproveitei o sol raiando para dar uma volta na beira do rio Tâmisa e curtir um pouco o bairro onde moro, que é cheio de marinas. Achei que, assim como eu, bastante gente ia curtir o final de semana de sol e aproveitar para sair da toca e abrir as janelas, já que o termômetro passava dos 14o C e a região é cheia de decks e pontes onde a paisagem é bem bonita.

Nada disso. Cruzei com uma meia dúzia de pessoas pelo bairro e vi muitas janelas fechadas. Ao passar por um condomínio, observei novamente a placa de "No ball games" e vi um garotinho olhando pela janela de um dos apartamentos.

Fiquei surpresa e triste ao mesmo tempo. Pode ser que em outros bairros a situação seja diferente, mas não ver os parquinhos cheios de crianças, a grama cheia de garotos correndo atrás da bola e o pessoal varrendo a varanda de casa me deu uma certa tristeza. E um pouco de saudade da terra onde o sol brilha com mais freqüência e os jogos de bola já são mais do que parte da cultura da nossa infância.

O parto do passado é o do futuro

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Andrea Wellbaum | 13:59, segunda-feira, 2 março 2009

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Esta é minha última semana de trabalho antes de entrar de férias e licença-maternidade, então achei que deveria deixar aqui meu post de despedida, já que devo voltar ao batente apenas no ano que vem.

Aqui na Grã-Bretanha, temos uma licença remunerada (porém não com o salário integral) durante seis meses e outros seis meses de licença não-remunerada. Para as mães brasileiras, pode parecer uma maravilha, mas as licenças em outros países da Europa costumam ser ainda mais generosas!

Quando cheguei em Londres, há 4 anos e meio, tinha jurado que nunca teria meu bebê neste país. Tinha ouvido várias experiências extremamente traumáticas, de midwifes (as responsáveis por fazer seu parto quando você não tem de ter uma cesárea) grossas e desatenciosas, de procedimentos errados adotados em situações de emergência, de mães machucadas depois do uso de fórceps... a lista era interminável.

E uma das práticas mais inimagináveis para a maioria das brasileiras era o parto sem nenhum tipo de anestesia. Quando a possibilidade de ter um bebê ainda estava distante, ficava me perguntando por quê eu deveria passar por este sofrimento.

Porém, os anos foram passando, me informei mais e mais sobre o assunto e há pelo menos dois anos a idéia de parir nesta terra já não era algo tão assustador. Em relação à anestesia peridural para aliviar a dor, mudei de lado: quero fazer o máximo para não ter de tomá-la.

Sei que posso me arrepender amargamente do que vou escrever aqui, mas pelo menos neste momento, a menos de um mês do parto, estou bem feliz de dar à luz na Grã-Bretanha.

Se tudo correr conforme o planejado (o que já sei que poucas vezes acontece), terei um parto natural, sem anestesia, dentro da água. Sei que poderia ter um parto destes no Brasil, mas provavelmente teria de pagar caro para ter um serviço que aqui terei pelo sistema público.

Aliás, outra tendência que vem aumentando por aqui são os partos em casa. Muitos ainda são feitos por midwifes particulares, mas todos os hospitais públicos também disponibilizam o serviço e tenho ouvido algumas experiências fantásticas pelo sistema público.

O que se percebe aqui é uma volta ao passado, uma valorização da forma mais antiga de dar à luz. Menos intervenções médicas e mais respeito aos instintos naturais da mulher durante o trabalho de parto.

Não é preciso ser nenhum especialista para saber que quando uma mulher está deitada em uma cama o bebê não conta com a ajuda da gravidade para sair do útero e pode demorar mais em sua jornada para o mundo. Por isso, existe um incentivo cada vez maior ao partos verticais, com a mulher de pé ou de cócoras.

Também não é preciso parar para pensar muito para saber que ficar de pernas abertas em frente a um monte de pessoas desconhecidas sob uma poderosa luz fluorescente de hospital ouvindo a palavra: "Empurra! Empurra!", como se fosse um grito de guerra de estádio de futebol não é a experiência mais prazerosa do mundo e tem tudo para potencializar uma dor que talvez seria menos intensa em um lugar calmo, menos iluminado, com uma música tranquila de fundo e o menor número de pessoas olhando para você. Estes lugares são chamados de "birthing centres", locais que contam apenas com midwifes (não existem obstetras nem anestesistas), que tentam fazer a grávida ter uma experiência parecida com a que teria se estivesse em sua casa.

Não sei como será minha experiência e confesso que estou cada vez mais ansiosa para a hora H. Continuo achando que o sistema de saúde daqui tem lá suas falhas e que como brasileira sinto falta de um acompanhamento pré-natal mais pessoal. Mas no fim das contas, até agora tive todo o tratamento necessário e se tudo culminar com uma bela experiência de parto, que resulte em um bebê e uma mãe saudáveis, melhor ainda!

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