Jardim de cozinha
Deu no Times: mais e mais chefs arrumam um canto nos seus restaurantes para ter o seu próprio canteiro de ervas, o kitchen garden,Ìýo "jardim de cozinha".
No Pied à Terre (duas estrelas no Michelin) em Londres, o chef Shane Osborn montou uma horta dessas no topo do telhado, onde tem até um espantalho para afugentar os pombos: um boneco com uma foto do chefÌý rival Marco Pierre White na cara.
A horta é pequena, de seis por quatro metros, suficiente para 200 plantas, entre elas tipos diferentes de ervas, legumes, flores comestÃveis, frutas e raridades como a badalada Jerusalem artichoke (tubérculo de um tipo de girassol, com gosto de alcachofra, supostamente conhecida na lÃngua portuguesa como tupinambo ou girassol batateiro).ÌýÌýÌý
Segundo o Times, os chefs franceses são pioneiros das hortas de restaurantes.
No Lê Manoir aux Quat'Saisons, aqui em Oxfordshire, perto de Londres, o famoso Raymond Blanc criou um esquema mais ambicioso, um jardim amplo (veja foto)Ìýque permite que os clientes confiram os legumes e verduras que terão na mesa e escolham, por exemplo, suas próprias alcachofras. Ìý
Há várias razões para essa onda. Alguns chefs querem simplesmente ensinar ao pessoal da cozinha noções básicas de plantio e aproximá-los, quase que literalmente, das "raÃzes" básicas do processo de alimentação. Outros veem o recurso apenas como uma atração especial para os fregueses.
Seja como for, não só apóio a iniciativa como tenho meu próprio kitchen garden lá em casa.
E não estou só. A jardinagem é uma obsessão britânica, e conheço algumas donas de casa que tem grande orgulho de seu jardim e das coisas comestÃveis que nascem neles.
Assim como o dono da primeira casa que aluguei em Londres, lá em Dulwich, onde morei por oito anos. Ele criou um jardim que todos os anos dava alecrim, endro (dill, em inglês) e um tipo de cebolinha (sempre ela) que não conhecia, a garlic chive (cebolinho chinês no Brasil), com forte cheiro e gosto de alho.
Me amarrei nesse jardim e passei a trazer sementes do Brasil. Plantei mostarda, agrião (o agrião brasileiro é bem diferente da tal da watercress), quiabo e jiló.
Mas, apesar do entusiasmo todo e de algumas experiências bem sucedidas, acabei desistindo do kitchen garden, vencido por duas forças da natureza: as lesmas e os gatos.
As lesmas e os caracóis são um praga nos jardins londrinos. Comem de tudo e deixam um rastro de gosma desagradável nas frutas, folhas e sobre a terra. Tentei de tudo para me livrar delas, usei desde o método - mais humano - de atraÃ-las com cerveja e embriagá-las até a morte, até massacres desenfreados após a chuva (que é quando elas saem aos montes e se expõem), usando sal ou golpes de pá. Elas sempre voltavam.
O pior era o cocô dos gatos da vizinhança, que insistiam em usar o meu pequeno éden como banheiro. Usei técnicas pescadas da internet, como 'plantar' dezenas de facas de plástico com as pontas para cima na área das ervas, mas não deu certo.Ìý
Há mais de quatro anos moro em outra casa, onde pude me dedicar de novo à horta caseira. O problema da lesma ali é bem mais administrável - há menos lesmas ali, não sei por quê. E há bem menos gatos - e eles preferem outros jardins ao meu.
Neste ano, a safra promete: cebolinho chinês, tomate-cereja, dois tipos diferentes de pimenta, entre elas a scotch bonnet caribenha, mostarda, abóbora, framboesas e amoras.